Queda mais expressiva dos juros reais depende de medidas estruturais

Queda mais expressiva dos juros reais depende de medidas estruturais

Carta de Conjuntura aponta que limite dos gastos públicos e redução de crédito subsidiado dos bancos públicos acelerariam o processo

A seção sobre juros da Carta de Conjuntura do Ipea, lançada nesta sexta-feira (25), analisa a evolução da taxa de juros e da inflação nos últimos 20 anos. Assinado pelos técnicos de planejamento e pesquisa do Ipea Estêvão Kopschitz e Paulo Levy, o trabalho avalia que, embora em queda, os juros não cairão mais rapidamente sem medidas estruturais, como o limite dos gastos públicos e a redução de crédito subsidiado dos bancos públicos, que sinalizariam uma inflação mais baixa no futuro.

Mesmo com a queda esperada para a Selic ao longo de 2017, a taxa de juros real não deverá cair significativamente nos próximos anos. A inflação também vem caindo mais lentamente que o esperado, devido ao preço dos alimentos e à inflação de serviços, que tem sido bastante resistente à queda. Segundo o documento, o aumento do “custo de desinflação”, associado à perda de credibilidade da política monetária no passado recente, tornou o Banco Central mais conservador na condução da política monetária, para que fosse possível voltar a ancorar as expectativas.

Do ponto de vista do nível da taxa real de juros, a questão fiscal aparece entre os principais determinantes, seja pela pressão que os deficits estruturais exercem sobre a demanda agregada, seja pela perspectiva de monetização de uma dívida que às vezes ingressa em trajetórias não sustentáveis. No mesmo sentido, o canal do crédito, através do qual a política monetária impacta a inflação, teria no Brasil um efeito menor que em outros países devido à forte presença (cerca de 50% do total) do crédito direcionado, cujas taxas e prazos pouco respondem à política monetária.

A notável queda da taxa real de juros a partir de 1999 – de cerca de 20% para 10% a.a. – provavelmente está ligada à adoção do regime de câmbio flutuante, à obtenção de superavits primários significativos e à implantação do regime de metas de inflação. As causas da segunda queda, mais uma vez pela metade – desta vez de 10% para a vizinhança de 5% a.a – ocorrida depois de 2007, são menos claras, mas os técnicos acreditam que esteja relacionada ao fim do período de crescimento mundial mais forte e ao início do regime de juros mais baixos no cenário internacional após a crise de 2007/2008.

Internamente, houve a consolidação do tripé macroeconômico, especialmente a credibilidade do Banco Central do Brasil (BCB), pelo menos até 2011. Contudo, se no primeiro movimento de redução da taxa real de juros a inflação também declinou, no segundo, após 2007, e especialmente após 2010, a inflação subiu e se distanciou da meta. “Ou seja, no período mais recente, a redução da taxa real de juros não foi sustentável”, adverte o texto.

A inflação esperada para 2017 e 2018 tem caído sistematicamente, mas esse é um fenômeno muito recente e tardio, ao se levar em conta que a recessão, talvez a mais profunda da história brasileira, está instalada desde 2014. A partir da análise do núcleo da inflação, os técnicos concluem que há sinais de que ela convirja mais rapidamente para a meta.

Acesse o blog da Carta de Conjuntura

Confira a seção Juros da Carta de Conjuntura