Estudo traça radiografia dos profissionais de saúde no Brasil

Estudo traça radiografia dos profissionais de saúde no Brasil

Pesquisa do Ipea mostra que gestão da saúde pública pela União durante a pandemia de Covid-19 é importante para redistribuir a capacidade de atendimento

A distribuição da força de trabalho de saúde nos setores público e privado e a capacidade de propor arranjos para atender o maior número possível de pessoas durante a pandemia de Covid-19 são ferramentas de que a União pode se valer para suprir as diferentes demandas por profissionais da área em todo país. Essa é uma das conclusões de um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que fez uma radiografia da presença de médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde em todos os estados e por locais de atendimento, como hospitais públicos, privados sem fins lucrativos ou privados com fins lucrativos.

O levantamento aponta que a distribuição heterogênea desses profissionais demanda do governo esforços de gestão para promover ajustes na capacidade organizativa e de atendimento da população. Segundo a pesquisa, em 2018, 55% dos trabalhadores dessas três categorias estavam alocados na rede pública de saúde, 23% no setor privado sem fins lucrativos e 22% no setor privado com fins lucrativos. Se fossem considerados apenas os médicos, essa proporção seria de 60% na rede pública de saúde, 22% no setor privado sem fins lucrativos e 18% em instituições privadas com fins lucrativos.

O Rio Grande do Norte é estado que possui o maior contingente de profissionais de saúde no setor público (87%) – o Amapá, por sua vez, possui apenas 25%. Também é significativa a variação encontrada pelos pesquisadores do Ipea no que diz respeito à alocação de trabalhadores da saúde em entidades do setor privado sem fins lucrativos. São Paulo (37%), Rio Grande do Sul (32%) e Rio de Janeiro (28%) possuem cerca de um terço ou mais de seus profissionais nessas instituições.

Nos quatro estados do Sudeste, no Distrito Federal, em Tocantins e Mato Grosso do Sul a oferta de profissionais por habitantes é maior se comparada com a de outros entes da federação. O DF, por exemplo, é a Unidade da Federação proporcionalmente com maior quantidade de médicos por 100 mil habitantes (458), seguido pelo Rio de Janeiro (305) e por Tocantins (189).

O pesquisador do Ipea e um dos autores do estudo, Félix Garcia, explica que, para enfrentar a crise e ter resultados mais eficazes, o governo federal poderia assumir o protagonismo de gestor do Sistema de Saúde e propor aos estados uma distribuição mais equânime dos profissionais de saúde. “A autoridade pública federal tem essa capilaridade de conversar com os entes federativos e de propor soluções que sejam mais efetivas para atender a população onde houver maior demanda e menor oferta de agentes de saúde”, afirma.

Para Garcia, como os estados das regiões Norte e Nordeste – em particular Alagoas, Amapá, Maranhão, Roraima e Rondônia – possuem a menor disponibilidade de profissionais de saúde em relação à população, inclusive de médicos, o governo federal poderia realocar esses trabalhadores se a pandemia avançasse nesses locais, por exemplo. “Agora é fundamental conceber uma estratégia de gestão da força de trabalho, sob risco de limitar o acesso a cuidados ou aumentar o tempo médio de atendimento, o que torna relevante esforços de análise para predizer fluxos e estoques de mão de obra”, ressalta o pesquisador.

Além de Félix Garcia, assinam a Nota Técnica “Mapeamento dos Profissionais de Saúde no Brasil: alguns apontamentos em vista da crise sanitária da Covid-19” os pesquisadores Pedro Palotti, Sheila Cristina Tolentino e Natalia Massaco Koga.

Acesse a íntegra do estudo