Mulheres do setor de saúde estão mais vulneráveis ao Covid-19

Mulheres do setor de saúde estão mais vulneráveis ao Covid-19
Pesquisa indica a predominância das mulheres na área da saúde e os riscos de contágio. Análise também destaca a vulnerabilidade nas regiões com baixo índice socioeconômico.

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica aplicada (Ipea) indica que as trabalhadoras do setor de saúde constituem parcela da população brasileira altamente vulnerável ao contágio do conoravírus (Covid-19), assim como os idosos e pessoas que apresentam comorbidades. As mulheres representam em média 70% dos profissionais da saúde, chegando a 80% em áreas como enfermagem. A escassez de equipamentos de proteção individual (EPI) é apontada como a maior ameaça de contágio aos profissionais do setor.

A pesquisa analisa o índice de vulnerabilidade das profissionais de saúde em epidemias do passado. Dados quantitativos sobre a crise epidemiológica do Ebola, em Serra Leoa (2013-16), por exemplo, apontam que a mortandade feminina esteve diretamente associada ao trabalho do “cuidado perigoso”. O alerta é claro: o alto risco vivido pelas profissionais da saúde que atuam em hospitais e centros de atendimento a pacientes diagnosticados com o novo coronavírus no Brasil.

Na avaliação do Técnico de Planeamento e Pesquisa do Ipea, Roberto Rocha C. Pires, autor do estudo, é essencial que o poder público adote medidas de proteção àqueles que trabalham diretamente no tratamento da pandemia. “Os dados estatísticos em epidemias do passado confirmam a urgência em garantir proteção de forma estratégica para esses profissionais. Dessa forma, será possível garantir maior abrangência no enfrentamento, ampliando a eficácia e a mitigação contra o coronavírus”, destaca.

O estudo apresenta propostas para o aperfeiçoamento das ações públicas voltadas aos profissionais do setor de saúde. Entre as medidas, a aquisição de equipamentos de proteção individual, ampliação da capacidade de atendimento dos serviços de saúde, além da compra de insumos para as atividades médicas. De acordo com as análises, as ações deverão conter a acensão dos casos de contágio das profissionais da saúde e evitar as estatísticas observadas em outos países. Na Espanha, por exemplo, cerca de 14% do total de casos confirmados – aproximadamente 40 mil até 24/03– eram profissionais da saúde.

Regiões vulneráveis

A pesquisa também sugere medidas de enfrentamento ao Covid-19 voltadas especificamente às áreas de baixa renda do país em condições higiênico-sanitárias e socieconômicas limitadas. Um exemplo é Heliópolis, considerada a maior comunidade carente da cidade de São Paulo, onde 68% das famílias já tiveram perdas no orçamento mensal, comprometendo as possibilidades de isolamento social. “As medidas de enfrentamento também devem priorizar a questão territorial. É preciso garantir de forma urgente assistência sanitária e econômica nessas áreas periféricas, pois essas regiões apresentam alta vulnerabilidade de contágio do vírus”, afirma Pires.

O estudo destaca, ainda, a importância e o caráter completar de mobilizações da sociedade civil organizada no enfrentamento ao Covid-19. É o caso de ações como a distribuição de cestas básicas para famílias em situação de vulnerabilidade social; a manutenção de restaurantes comunitários, obedecendo protocolos sanitários; a abertura de abrigos de emergência para que a população em situação de rua tenha acesso à nutrição e higiene; e a instalação de banheiros, chuveiros e pias em espaços públicos.

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