Transportes

Pesquisa examina como aplicativos de transporte privado urbano influenciam acesso a oportunidades

Trabalho usou dados agregados de 152 milhões de viagens, fornecidos pela Uber, realizadas na cidade do Rio de Janeiro, entre 8 de março e 20 de dezembro de 2019

Helio Montferre/Ipea

Os benefícios de acessibilidade proporcionados pelo uso de serviços de transporte individual por aplicativos são maiores para viagens curtas e para pessoas de alta renda. Essa é uma das conclusões do estudo “Acessibilidade Urbana por Ride-Hailing e Transporte Público Considerando o Trade-Off entre Custo Monetário e Tempo de Viagem”, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta quarta-feira (4/10). O trabalho buscou avaliar a forma como o uso desses serviços pode influenciar o acesso a oportunidades de trabalho. Uma das inovações da pesquisa é que ela procurar captar os efeitos do dilema que contrapõe custos monetários e tempos de viagens para investigar como a acessibilidade urbana pode ser ampliada por serviços de transporte individual por aplicativos.

O estudo usou dados agregados de 152 milhões de viagens realizadas na cidade do Rio de Janeiro, entre 8 de março e 20 de dezembro de 2019, fornecidos pela Uber. Além disso, pesquisadores também analisaram informações sobre a distribuição espacial do número de pedidos de viagem e dos tempos que os passageiros esperaram pela chegada do motorista após a confirmação da corrida. Esse conjunto deu subsídio para que os pesquisadores pudessem estimar a acessibilidade por transporte individual via aplicativos. Analisando a acessibilidade ao emprego considerando os custos diários de viagens com um único passageiro no trajeto casa-trabalho.

Do ponto de vista de política pública, os dados do estudo apontam a possibilidade de “grandes ganhos de acessibilidade” por meio da promoção da integração entre o transporte público coletivo e alguma alternativa de serviço de transporte sob demanda de baixa capacidade com e roterização dinâmica (quando a rota planejada pode ter seu trajeto mudado durante o percurso da viagem).

Ao usar o tempo de viagem como critério de avaliação, o trabalho conclui que, de forma isolada, o uso do transporte por aplicativo só é capaz de oferecer maiores níveis de acessibilidade a ofertas de emprego do que o uso do transporte público quando consideradas percursos de até 40 minutos. Além disso, para viagens de até 30 minutos de duração, o uso dos aplicativos como estratégia integrada com o transporte coletivo, o chamado recurso de primeira milha, pode levar a significativos ganhos de acessibilidade ao emprego.

Nos dois casos, os custos relativamente elevados no uso dos serviços de transporte individual por aplicativos tornam seus benefícios algo restrito a populações de alta renda. Nota-se a vantagem no uso dos aplicativos para viagens a partir de R$ 12, valor 32,60% acima da tarifa mais alta da modalidade de transporte público coletivo encontrada no estudo, a integração ônibus/metrô (sem desconto), que custava R$ 9,05 à época do levantamento. O estudo avalia também que o impacto desses custos no orçamento individual da população é limitante, considerando que cada pessoa poderia comprometer entre 10% e 40% de sua renda mensal em custos de deslocamento casa-trabalho.

Nesse sentido, mesmo a adoção da estratégia de primeira milha, com aplicativos de transporte individual sendo usados para se chegar aos grandes corredores de transporte público, esse tipo de serviço não oferece ganhos para populações de baixa renda no acesso ao emprego. Isso porque, o segmento abrangido pelos 40% mais pobres já enfrenta dificuldades de custear o transporte público coletivo e não tem condições de arcar com as viagens de primeira milha. Logo, não podem usufruir dessa estratégia.

O trabalho realizado no estudo envolveu quatro etapas. Em duas delas, foram calculadas as matrizes de custos monetários e de tempos de viagem por transporte público coletivo e para serviços de transporte individual por aplicativos. Esses dados então foram combinados com o objetivo de construir uma matriz capaz de demonstrar os efeitos do uso da estratégia de integração de primeira milha entre aplicativos e coletivos. Cada uma das três matrizes serviu de insumo para que então fossem calculados os níveis de acessibilidade e comparadas como elas, em cada cenário, são distribuídas entre diferentes grupos socioeconômicos.

Os autores do estudo são Rafael H. M. Pereira, técnico de planejamento e pesquisa na Coordenação-Geral de Ciência de Dados e Tecnologia da Informação (CGCDTI) do Ipea, Daniel Herszenhut e Marcus Saraiva, ambos pesquisadores bolsistas na Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur), e Steven Farber, professor da Universidade de Toronto.

Confira a íntegra do estudo

Comunicação – Ipea
(21) 3515-8704 / 3515-8578
(61) 2026-5501 / 99427-4553
Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.