Estudo analisa impactos econômicos no Brasil da crise na Venezuela

Diagnóstico avalia que houve perda relativa de influência do Brasil no país, com espaços de poder sendo ocupados por Rússia, China e Estados Unidos nas últimas décadas

O distanciamento nas relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela abriu espaço para que potências extrarregionais, como China, Rússia e Estados Unidos, ampliassem acordos comerciais e a influência política na América o Sul. O diagnóstico foi apresentado em estudo, nesta sexta-feira (26/11), em webinar promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que considerou dados entre 1999 e 2021.

O estudo analisou que, com a suspensão da Venezuela no Mercosul, houve impactos negativos na balança comercial brasileira, com perdas nos fluxos de exportações, além de aumento na dívida da Venezuela ao Brasil, que soma atualmente U$ 830 milhões. Segundo a avaliação dos autores do estudo Pedro Silva Barros, Raphael Lima e Helitton Carneiro, o Brasil reduziu sua atuação na mediação regional para mitigar os efeitos da crise econômica enfrentada na Venezuela, abrindo espaço para outros países desempenharem esse papel.

Ainda assim, a influência brasileira se manteve na faixa de fronteira entre os dois países, especialmente no estado de Roraima. De acordo com os dados analisados, tanto as exportações formais para a Venezuela como o pequeno comércio de fronteira têm crescido significativamente nos últimos três anos. A principal razão disso seriam os recursos dos programas Bolsa Família e Auxílio Emergencial, que a população de migrantes venezuelanos também tem acesso.

O estudo considera ainda a piora nos indicadores econômicos da Venezuela entre 2016 e 2020. De acordo com os dados, a queda acumulada do Produto Interno Bruto (PIB) atingiu o patamar negativo de 80% durante o período analisado. Seguindo a mesma tendência de agravamento, a relação dívida pública e PIB passou de 32,6%, para 121,9%. Já a inflação estimada no mesmo período saltou de 26% para 1.698.588%.

Debates

A abertura do webinar foi realizada pelo diretor Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais (Dinte/Ipea), Ivan Oliveira, que reiterou a importância de contar com dados que evidenciam os impactos de ações de política externa sobre a economia brasileira. Segundo ele, a Venezuela, apesar da recente crise política e econômica, é estratégica na agenda de política externa brasileira para a América do Sul. “O estudo mostra a necessidade de se reforçar o papel de liderança do Brasil na busca por solução concertada que vise por fim à grave crise econômica, política, institucional e social na Venezuela, que tem impactos em toda a região”, avaliou.

O debate contou com a participação do secretário adjunto de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR), Joanisval Brito Gonçalves, que também comentou sobre a importância da relação comercial com a Venezuela e afirmou que o governo brasileiro vem oferecendo apoio, especialmente na região de fronteira, à população venezuelana em situação de vulnerabilidade. “Estamos trabalhando para contribuir no enfretamento dessa grave crise. Sabemos que ela vai passar. Os dois países mantêm vínculos históricos e vamos ampliar a integração no momento oportuno e de estabilidade econômica e social”, disse.

Para o pesquisador do Ipea e um dos autores do estudo, Pedro Silva Barros, o Brasil pode desenvolver novas iniciativas na agenda de política externa na região. “A desintegração comercial e a fragmentação política têm marcado a América do Sul nas últimas décadas. O Brasil precisa estar atento a esse processo e pode liderar uma agenda de reconstrução da integração regional com forte impacto positivo para o seu processo de desenvolvimento”, examinou.

Leia o estudo na íntegra.

Veja a íntegra do webinar.

Assessoria de Imprensa e Comunicação
(21) 3515-8705 / 3515-8578
(61) 99427-4772
Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.