Ato reúne manifestantes contra cultura do estupro em Brasília

Caminhada das Flores repudia violência sexual e agressões contra as mulheres - Wilson Dias/Agência Brasil


Felipe Pontes - Repórter da Agência Brasil


Após uma contagem regressiva de trinta a zero, cerca de 3 mil manifestantes, a maioria mulheres carregando flores nas mãos, marcharam na manhã deste domingo (29) pela Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para protestar contra a cultura de estupro, pedir justiça para os casos que envolvam violência contra a mulher e exigir políticas públicas que garantam a educação de gênero nas escolas brasileiras.

A Marcha das Flores – 30 Contra Todas, organizada por 16 entidades ligadas a causas feministas e de defesa da criança e do adolescente, foi motivada pelo caso da menor estuprada por mais de 30 homens no Rio de Janeiro. Um vídeo com imagens do crime foi publicado na internet na última quarta-feira (25), causando comoção nas redes sociais e a entrada da polícia no caso.

Sob gritos de ordem como Mexeu com uma, mexeu com todas, Não tem justificativa e Lugar de mulher é onde ela quiser, as manifestantes seguiram até a frente do Supremo Tribunal Federal (STF), onde derrubaram as grades que cercavam o local e tomaram a frente do edifício, sobre o qual foram fixadas calcinhas pintadas de vermelho, numa alusão à violência sexual contra a mulher.

“Para nós, a rua é um campo de batalha. Os homens não têm ideia do medo que a gente vive diariamente. Todos têm esse potencial de ser agressor, porque é natural de nossa cultura subjugar a mulher. Essa desconstrução é muito difícil, mas vamos enfrentar”, disse a professora Daniela Gontijo, de 29 anos.

A estátua de Têmis, a deusa da Justiça, que fica em frente ao STF teve o colo coberto por flores e por cartazes nos quais se liam Fere o Corpo, Fere a Alma e Mulheres Contra a Cultura de Estupro. As mulheres gritavam também palavras de ordem contra o presidente da República interino, Michel Temer, e o ministro do STF Gilmar Mendes.

“Só com escola e com políticas públicas que se pode combater qualquer tipo de violência, e em especial a violência contra a mulher e o machismo”, opinou Ana Beatriz Goldstein, funcionária da Secretaria da Mulher do Distrito Federal e uma das organizadoras do ato. Segunda ela, dezenas de diretoras de escolas públicas estavam presentes.

A estimativa de público dada pelas organizadoras foi maior do que a da Polícia Militar, segundo a qual cerca de 2 mil pessoas compareceram ao ato.


CNDH

O Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) divulgou, na última sexta-feira, dia 27, uma nota de repúdio contra os casos de estupro coletivos ocorridos no Rio de Janeiro e no Piaui. A nota ressalta a urgência do debate sobre questões de gênero nas escolas. Segue o texto na íntegra:

“O Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) vem a público REPUDIAR veementemente as condutas criminosas de estupro coletivo ocorridas contra as adolescentes do Rio de Janeiro, violada por mais de 30 homens, e de Bom Jesus (PI), vitimada por cinco homens. O CNDH posiciona-se pelo enfrentamento à cultura de estupro existente e afirma que atos bárbaros e criminosos como estes violentam não só as adolescentes, mas todas as mulheres do país.

É urgente o debate sobre questões de gênero na sociedade em geral, especialmente nas escolas; o combate à violência contra as mulheres heterossexuais, lésbicas, bissexuais, as travestis, as transexuais, as mulheres jovens, negras e mulheres com deficiência, bem como o enfrentamento da situação real em que uma mulher é estuprada a cada onze minutos, de acordo com o 9º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O CNDH solidariza-se com as vítimas do estupro e com seus familiares, reclama às autoridades o pronto atendimento integral e multidisciplinar a essas adolescentes, conforme previsto na Lei nº 12.845/2013, com atenção às consequências físicas e psíquicas decorrentes da violência sexual que atingem de forma devastadora essas mulheres.

O CNDH exige das autoridades competentes a devida investigação dos casos de estupro com perspectiva de gênero e a responsabilização de todos os envolvidos, asseverando que não tolera a banalização de um crime hediondo e tampouco a revitimização das adolescentes.

Por fim, o CNDH entende que esses episódios recorrentes inserem-se num contexto nacional mais amplo de violações, que demanda ações afirmativas de Direitos Humanos. As políticas públicas de nessa área devem ser fortalecidas e, nesse sentido, o CNDH coloca-se, uma vez mais, contrário à extinção do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, que ocorre na contramão dos avanços sociais, de modo a violar o princípio do não-retrocesso na garantia dos Direitos Humanos.

IVANA FARINA NAVARRETE PENA

Presidente do Conselho Nacional dos Direitos Humanos-CNDH”

 

Fonte: EBC e Secretaria de Direitos Humanos

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-05/milhares-de-mulheres-marcham-contra-cultura-do-estupro-em-brasilia

http://www.sdh.gov.br/noticias/2016/maio/nota/