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Gestão do Conhecimento no Banco Mundial

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O Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), mais conhecimento como Banco Mundial, passou a se destacar na área de Gestão do Conhecimento (GC) devido à rapidez em que se transformou em um “Banco de Conhecimento” em apenas quatro anos). O que motivou a transformação foi o desafio de atender mais rapidamente e melhor as consultas recebidas de instituições de todo o mundo. Para alcançar este objetivo, era necessário mobilizar o conhecimento coletivo disponível na instituição. Além disso, o Banco precisava resolver problemas como a existência de múltiplas bases de dados e repositórios, diferentes ferramentas e sistemas de Tecnologia da Informação (TI), informação inconsistente e gestão deficiente de documentos. Diante desse cenário, o BIRD definiu a seguinte visão de GC: Construir um repositório de referência mundial com a experiência e o conhecimento acumulados pela instituição ao longo de sua história.

Um dos principais fatores que explicam a transformação foi a técnica conhecida como “narrativas” (storytelling) aperfeiçoada por um dos funcionários do Banco, Stephen Denning. Denning propôs a ideia de “história trampolim” após experimentar durante anos a frustração de tentar explicar o que é e para que serve a GC para membros da alta administração. A ideia proposta por ele foi contar uma história para ajudar a audiência (gerentes e executivos do Banco) a usar tal história como trampolim para que as pessoas passassem a ter um conhecimento intuitivo de GC.

Denning usou a seguinte história: “Um profissional da área de saúde na Zâmbia precisava de um preparado antimalária usando apenas os materiais que ele dispunha naquele país. Ele postou sua demanda no sitio da Internet do Banco Mundial e recebeu uma solução prática em menos de 48 horas. Denning foi capaz de mobilizar a experiência coletiva, o conhecimento especializado e o know-how do Banco e responder ao profissional do país africano usando a melhor resposta disponível em um tempo satisfatório.”

Assim se iniciou o programa de GC do Banco Mundial. O BIRD se transformou em um “Banco de Conhecimento” ao estabelecer como objetivo estratégico “colocar o conhecimento no centro das atividades da instituição”. Os elementos da estratégia foram: Pessoas. Colocar o foco nos trabalhadores do conhecimento e em como conectar esses profissionais por meio de comunidades de prática (COPs). Cultura. Promover a mudança da cultura organizacional do individualismo para a colaboração (baseada no trabalho em equipe e no compartilhamento do conhecimento). Prestação de contas. Definir papéis e responsabilidades claras para os gerentes e coordenadores de GC. Tecnologia. Sistema para captar, organizar e disseminar o conhecimento para todas as partes interessadas do Banco. Processo. Sensibilizar de maneira contínua os profissionais da organização sobre a importância da GC.

A organização implementou as seguintes práticas de gestão do conhecimento:

  1. portais corporativos;
  2. repositórios do conhecimento (incluindo banco de imagens);
  3. biblioteca de objetos de aprendizagem;
  4. videos e conteúdos para a Internet;
  5. banco de dados online;
  6. sistema de localização de especialistas;
  7. comunidades de prática (denominados “grupos temáticos”);
  8. revisão Pós-Ação;
  9. aprendizagem com pares;
  10. visitas de campo e viagens às unidades do Banco para promover aprendizagem.

Enfatizaram-se as comunidades temáticas para promover a reestruturação do Banco. Centenas de grupos temáticos ou comunidades de prática foram implementadas sobre temas diversos, tais como: pobreza, desenvolvimento comunitário, infraestrutura de TI em áreas rurais. A responsabilidade pela supervisão de todas as comunidades de prática coube a uma pequena unidade de GC formada por cinco pessoas. Essa equipe central de GC era também responsável pela coordenação geral do Programa de GC. Além disso, desempenhava o papel de facilitadora na implementação das práticas de GC. O Banco instituiu um Comitê de GC para formular a política de GC e implementar o Programa de GC na organização.

O compartilhamento do conhecimento é considerado um valor importante. Por isso, ele é considerado na avaliação individual de desempenho. A instituição investia, em 2005, aproximadamente 3% do seu orçamento total na área de GC. Desse total, menos de 10% era gasto em tecnologia e 2% para gastos operacionais da unidade de GC. O restante era investido nos grupos temáticos e no Escritório de Apoio ao Conhecimento. Os gerentes operacionais das comunidades de prática e os escritórios regionais colaboram também com a implementação da GC em toda a organização. O BIRD demanda que os membros da alta administração apoiem as iniciativas de GC de duas maneiras. Primeiro, autorizando os líderes das comunidades de prática a utilizar 25% do seu tempo às atividades de GC. Segundo, permitindo que os escritórios de apoio colaborem para o bom funcionamento de tais comunidades.

O Banco Mundial estabeleceu uma rede global que o mantém a instituição conectada com países em desenvolvimento para facilitar a colaboração entre os escritórios regionais e para disseminar informações administrativas para os funcionários em qualquer unidade do Banco. Por exemplo, a organização implantou um ambiente virtual colaborativo para viabilizar o compartilhamento do conhecimento entre os membros da “comunidade do desenvolvimento”.

O “Portal do Desenvolvimento” é um ambiente na Rede Mundial de Computadores (WEB) que serve de apoio ao compartilhamento de conhecimento e à interação para discutir temas diversos como, por exemplo, pobreza. Mais de 13.000 funcionários do Banco em 80 países estão conectados por meio de Internet de banda larga de alta velocidade para que todos tenham acesso às mesmas ferramentas de trabalho e informação. As iniciativas de GC contribuíram para o surgimento no BIRD de uma cultura de empreendedorismo e inovação. O Banco adotou uma visão holística de GC que contempla fatores humanos e sociais, assim como fatores tecnológicos.

A American Productivity and Quality Center – APQC (Centro de Produtividade e Qualidade Americano) reconheceu o BIRD em 2000 como uma das cinco melhores organizações na área de GC em todo o mundo. Em 2001, o Banco ficou em quarto lugar no Prêmio MAKE (Most Admired Knowledge Enterprise) que reconhece as empresas que se destacam mundialmente na implementação da GC como objetivo de melhorar o desempenho organizacional. Nos três anos seguintes (2002, 2003 e 2004) o BIRD foi também reconhecimento pelo Prêmio MAKE consolidando sua presença como organização de referência na área de Gestão do Conhecimento. O BIRD instituiu também o Programa Conhecimento para o Desenvolvimento (Knowledge for Development Program) que visa aumentar a capacidade de organizações voltadas para a promoção do desenvolvimento nos países clientes a alcançar maior efetividade por meio da utilização de ferramentas e práticas de GC.

Fonte:
DALKIR, Kimiz. Knowledge management: Theory and practice, 2ª edição. Cambridge,: The MIT Press, 2011.