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Medicina - Cura à distância

2005. Ano 2 . Edição 14 - 1/9/2005

Avança no Brasil a telessaúde, que busca garantir atendimento médico e treinamento em comunidades distantes, especialmente na região Amazônica.

Lia Vasconcelos

A tecnologia e o uso da internet podem permitir o atendimento médico em comunidades distantes, por exemplo, na Amazônia, onde o deslocamento de pessoas para tratamentos de saúde de uma cidade para outra não é tarefa trivial. Da comunidade de Boca do Acre, no Amazonas, até Manaus, no mesmo estado, são exatos 1.038 quilômetros, o que significa uma viagem de, no mínimo, 12 dias de barco se o tempo ajudar e não houver imprevistos. A distância é agravada pela concentração desigual de médicos no território brasileiro. Dos 300 mil profissionais em atividade registrados no Conselho Federal de Medicina (CFM), estima-se que 75% atuem nas regiões Sul e Sudeste - 49% somente nas cidades de Rio de Janeiro e São Paulo.

No Amazonas, existem apenas 2,4 mil médicos, sendo que 2,1 mil estão na capital, enquanto os outros 300 têm de cumprir a gigantesca missão de prestar assistência ao resto do estado. Outro dado preocupante é que dos 5.646 municípios brasileiros, 1,5 mil simplesmente não têm médicos. Para atenuar essas distorções e melhorar a vida de quem mora longe de centros urbanos, as tecnologias aplicadas à medicina - a telemedicina e a telessaúde - são cruciais, porque permitiriam que a prática médica chegasse aonde hoje não está presente. Nesse cenário, a internet desempenha papel fundamental. Recentes no Brasil, as práticas de telessaúde começam a ser disseminadas de forma tímida, porém constante.

As comunidades isoladas seriam as beneficiárias mais imediatas e diretas, porém a ampla oferta de serviços em saúde usando tecnologias de telecomunicação e informação também seria muito bem-vinda para quem mora nas grandes cidades, mas está impossibilitado de locomover-se. Seria a concretização do almejado homecare, expressão em inglês que designa o tratamento feito em casa. "A proximidade com os familiares comprovadamente favorece a recuperação dos pacientes", afirma Sandra Oyafuso Kina, coordenadora do Centro de Informação e Comunicação do Hospital Albert Einstein.

Origem De maneira geral, a telemedicina teve início durante a corrida espacial na década de 60, quando as funções vitais dos astronautas eram monitoradas na Terra. Hoje, ela é praticada em hospitais e instituições de saúde com diversos objetivos: obter diferentes referências, trocar informações, conseguir uma segunda opinião médica, e na assistência a pacientes crônicos, idosos e gestantes, além da telecirurgia. Outra possibilidade é a educação a distância, para atualizar profissionais que atuam em regiões afastadas. Ela também pode ajudar a reduzir a sobrecarga nos hospitais. "Temos um problema de fluxo de pacientes que muitas vezes vão para hospitais de alta complexidade sem necessidade. A telemedicina pode atenuar esse problema auxiliando os médicos de saúde da família no diagnóstico. Assim, as filas nos hospitais podem diminuir porque o médico saberá encaminhar melhor seu paciente", acredita Magdala de Araújo Novaes, coordenadora do Núcleo de Telessaúde (Nutes) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O Nutes, que existe desde 2003, tem uma rede abrangendo quatro municípios pernambucanos - Recife, Cabo de Santo Agostinho, Igarassu e Camaragibe. Cada unidade conta com equipamento para a realização de videoconferências. Já foram capacitados 1,2 mil profissionais e, até dezembro de 2004, foram feitas 54 videoconferências. "Também desenvolvemos aqui um software que permite a troca de informações sobre um caso específico em que o diagnóstico e o tratamento são constantemente debatidos entre os profissionais da rede", conta Novaes.

Para utilizar os sistemas são necessários equipamentos e programas específicos. A infra-estrutura tecnológica varia de acordo com a complexidade do procedimento que se deseja realizar. É possível utilizar desde sistemas de telefonia convencional até redes digitais de alta velocidade para transmissão de imagens e videoconferências. Quando digitalizadas, as informações médicas podem ser processadas de várias maneiras. Os dados quantitativos, por exemplo, podem transformar-se em bancos de dados. Para as imagens, o uso de filtros digitais realça detalhes que normalmente passariam despercebidos e também permite manipular a imagem com rotação e aproximação. Além disso, pode-se acrescentar texto ou indicar uma região de interesse com setas.

Multidisciplinar Apesar de mais conhecido, o termo telemedicina está gradativamente sendo substituído pelo conceito mais abrangente de telessaúde, que prevê grupos multidisciplinares atuando em conjunto. É essa a idéia por trás do projeto encampado pelo CFM, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), pela Universidade do Estado do Amazonas, pela Universidade Federal do Amazonas e pelo Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), que congrega informações geográficas e climáticas sobre a floresta Amazônica. Localizados em comunidades, fronteiras e bases do Exército, da Aeronáutica, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Fundação Nacional do Índio (Funai), os 650 pontos de presença do Sipam estão equipados com telefone, fax e computadores com acesso à internet. Aproximadamente 100 deles já possuem conexão de alta velocidade, o que permite o envio e o recebimento de vídeos e imagens. Toda tecnologia funciona via satélite. A meta é usar a infra-estrutura existente para evitar viagens longas de pacientes e melhorar as condições dos profissionais que trabalham nesses locais.

 

Até agora, 22 unidades já receberam os equipamentos necessários para trabalhar com emergências médicas. Com eles, os médicos poderão obter material didático para apoiar seus diagnósticos e consultar especialistas em Manaus. "Já gravei três horas de aula sobre ética médica para contribuir com o projeto", conta Roberto d'Ávila, coordenador da Câmara Técnica de Informática em Saúde e Telemedicina do CFM. "As instituições devem colaborar, usar as redes e a infra-estrutura que já existem em vez de criar novas", alerta Chao Lung Weng, coordenador da disciplina de Telemedicina da USP. O projeto, de acordo com Edgar Fagundes Filho, diretor técnico e operacional do Sipam, ainda está no início, mas já mostra grande potencial. "Uma aula de Anatomia dada na USP foi transmitida e assistida simultaneamente em São Paulo, Manaus e Parintins e funcionou muito bem. Estamos em fase de experimentação e treinamento dos paramédicos, em sua maioria sargentos do Exército. Dentro de 30 dias, os 22 pontos equipados devem funcionar plenamente", diz.

Internato A expectativa é que o projeto atenda, em sua primeira fase, cerca de 200 médicos e depois seja expandido para os estados do Acre, Amapá, Rondônia e Roraima. Também faz parte da iniciativa o internato rural, que obriga todos os alunos de Medicina das três universidades envolvidas a passar dois ou três meses prestando assistência às comunidades amazônicas. A aposta é que, com os pontos do Sipam devidamente equipados, os estudantes possam trabalhar de forma mais eficiente.

"O Brasil não está tão atrás quando comparado a outros países. Temos, por exemplo, um instrumento que poucos países têm: o Homem Virtual, que funciona como um reforço didático", afirma Wen. Com recursos de computação gráfica, um CD-ROM batizado de Homem Virtual, de distribuição gratuita, mostra exatamente como as doenças agem no organismo e permite visualizar todos os órgãos e o funcionamento do corpo humano. Com o objetivo de diminuir a ocorrência de hanseníase - o Brasil é o segundo país do mundo com maior número de casos dessa doença -, foi firmado um acordo entre a Faculdade de Medicina da USP e a Organização Panamericana de Saúde (Opas). O objetivo é desenvolver um projeto de capacitação de médicos, profissionais de saúde e agentes comunitários do estado de São Paulo para o controle da hanseníase tendo como ferramenta o Homem Virtual.

O programa deve ser usado em larga escala para disseminar o aprendizado das formas de transmissão da doença e a identificação de manchas suspeitas. Por meio da telemedicina, é possível interligar centros de referência na pesquisa e no tratamento da hanseníase, hospitais, postos de saúde, universidades, escolas, governos e órgãos de apoio. A estratégia prevê até a participação de profissionais da área de beleza, como esteticistas, manicures, massagistas e cabeleireiros. Com treinamento adequado, Wen acredita que eles poderão detectar manchas suspeitas em seus clientes e encaminhá-los aos serviços de saúde credenciados.

A tecnologia também é peça fundamental em um projeto de oncologia pediátrica que começou a sair do papel em 2002 com o apoio financeiro da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e funciona numa parceria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com o Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da USP. Todos os médicos, de qualquer parte do país, podem acessar o portal da oncopediatria gratuitamente, que já congrega 4 mil pacientes, 200 médicos e 38 hospitais espalhados por 12 estados brasileiros. "A idéia é descentralizar o hospital como única fonte de informação. E numa segunda fase, pretendemos incluir os casos de oncologia adulta", afirma Marcelo Zuffo, coordenador dos meios interativos do LSI. Hoje, além de oferecer educação a distância, os exames e os sintomas de todos pacientes cadastrados no portal são registrados e o programa desenvolvido especialmente para o projeto é capaz de fornecer um diagnóstico e os detalhes do tratamento. O sistema também gera uma agenda que informa ao médico quais acompanhamentos e avaliações devem ser feitos. A idéia é proporcionar atendimento homogeneizado às crianças portadoras de câncer, segundo protocolos avançados com os melhores índices de cura.

Recursos A meta é que, dentro de algum tempo, todos os casos de câncer infantil estejam na base de dados. Assim, será possível elaborar indicadores nacionais confiáveis da doença. "A má distribuição de serviços médicos de qualidade somada à heterogeneidade dos protocolos dos procedimentos médicos, leva à utilização de condutas que nem sempre são as mais eficazes. A telessaúde é uma opção para melhorar o acesso aos serviços médicos e a disseminação do conhecimento dos centros de referência", aposta Zuffo.

A ampliação desses projetos e a criação de novos sofrem, entretanto, com um denominador comum: a escassez de recursos. "O governo não investe muito em telemedicina, o que é uma pena. Não há outra maneira de alavancar a saúde no país a não ser por meio da tecnologia. O benefício, por exemplo, de usar o dinheiro do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) seria gigantesco, mas o dinheiro está parado", lamenta György Böhm, chefe da disciplina de telemedicina da USP e presidente do Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telessaúde. Mensalmente é destinado ao Fust 1% do faturamento das operadoras de telecomunicações. A administração federal já arrecadou cerca de 4 bilhões de reais desde sua criação, em 2000, mas desde o governo passado os recursos vêm sendo bloqueados no Orçamento da União por causa de interpretações conflitantes em relação à lei que criou o fundo - e para a realização do superávit primário.

"O próximo desafio é colocar a telessaúde nas residências. O ideal é que as pessoas, da mesma forma que acessam seu banco sem sair de casa, também possam receber à assistência médica sem precisar deslocar-se", afirma Zuffo. Entretanto, para que os resultados de fato apareçam, a telessaúde tem de deixar de ser um experimento laboratorial de simples aplicação da tecnologia para transformar-se numa ferramenta incorporada ao processo de saúde. Portanto, é fundamental um modelo que seja prático, auto-sustentado e disponível para o maior número de pessoas possível. Por ter uma extensa rede de telecomunicações, o Brasil pode beneficiar-se muito com a telessaúde. A distância entre o tempo de diagnóstico e o tratamento diminui, o que aumenta a eficiência dos serviços médicos, justificando o investimento em equipamentos. Afinal, o objetivo é que a universalização dos recursos tecnológicos melhore a coleta de informações referentes à saúde de um paciente, seu processamento, sua análise e distribuição. É importante, porém, propor soluções reais para que falsas expectativas não sejam geradas, pois se trata de uma mudança a ser realizada no longo prazo e deve contar com o apoio maciço dos atores envolvidos no processo.

Tecnologia de ponta no Xingu


Em 2,8 milhões de hectares no norte do Mato Grosso estão espalhados cerca de de 4,9 mil índios de 14 etnias em 62 aldeias. O acesso ao Parque Indígena do Xingu é feito meio de pequenos aviões ou por terra, em sofridas e longas viagens. Tentando driblar essas dificuldades, o Projeto Xingu, ao completar 40 anos, pretende lançar mão da tecnologia para melhorar o atendimento de saúde prestado a essas populações.

A tecnologia deve servir para prestar melhores serviços básicos, o que inclui vacinação, pré-natal, monitoramento do desenvolvimento das crianças e controle de doenças como tuberculose, malária e outras sexualmente transmissíveis, como o HPV, vírus que pode causar câncer de útero. Hoje, para fazer exames relativamente simples, como ultra-som e colposcopia (exame que investiga a etiologia de lesões suspeitas de colo uterino), a mulher indígena precisa se locomover até Barra dos Garças, no Mato Grosso, única cidade da região que dispõe de equipamento adequado ao exame. "Além do alto custo, existe a demora da viagem, em média dois dias, que muitas vezes é decisiva para o prognóstico", explica Douglas Rodrigues, coordenador do Projeto Xingu.

A idéia é que uma webcam permita que um ginecologista acompanhe, de São Paulo, a coleta do material ginecológico e as colposcopias feitas no Xingu. Os exames serão, então, fotografados e enviados pela internet a especialistas do Projeto Alfa, centro de tecnologia médica ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), para que possam diagnosticar o problema. Numa primeira fase, a tecnologia será usada na realização de exames ginecológicos, já que alguns casos recentes de infecção por HPV entre as mulheres índias evoluíram para câncer de colo de útero. A segunda etapa deve contemplar o diagnóstico de problemas dermatológicos.

Ainda não há perspectiva de quando o sistema entrará em pleno funcionamento. Rodrigues conta que o problema maior no parque é a falta de energia porque os geradores disponíveis dependem de combustível que vem de longe e precisam de constante manutenção. Uma boa opção seriam os painéis solares.

"Estamos no momento resolvendo essas questões tecnológicas. Já adquirimos duas antenas de conexão via satélite, mas sabemos que elas não serão suficientes porque os arquivos que precisamos transmitir são muito pesados. De qualquer maneira, vamos começar a fazer experimentos e projetos-piloto com o que temos", conta Rodrigues. Para ele, a iniciativa facilitará muito a vida dos 47 profissionais que integram o Projeto Xingu. "A implantação da telessaúde será um grande avanço. Ela pode reduzir as iniqüidades na oferta de serviços de saúde para as populações isoladas", acredita.

 
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