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Comércio Internacional Muralha chinesa - As dificuldades de vender manufaturados para a China

2005. Ano 2 . Edição 12 - 1/7/2005

O Brasil exporta basicamente produtos primários para a China e não consegue romper as barreiras e vender manufaturados de alto valor agregado, o que pode levar a um déficit no comércio com o gigante oriental em 2006


Por Andréa Wolffenbüttel, de São Paulo

O centro de gravidade dos negócios mundiais está se deslocando do Atlântico, onde se manteve nos últimos três séculos, para o Pacífico. A afirmação não é de um alto funcionário do Partido Comunista da China, mas sim do ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, em artigo publicado no jornal The Washington Post, em meados do mês passado. A guinada começou há três décadas, mas se tornou irreversível quando o país mais populoso do mundo decidiu entrar no jogo capitalista e passou a crescer aceleradamente. Em 34 anos, a China saiu de um sistema fechado para a situação atual: atrai volumes crescentes de investimentos e controla cerca de 11% de todo o comércio do planeta. Em 2004, os chineses importaram cerca de 400 bilhões de dólares, mais de quatro vezes o volume total das exportações brasileiras no mesmo período. E qual foi a fatia dessa imensa demanda que coube ao Brasil? Aproximadamente 1,5%, o que representa algo em torno de 5,5 bilhões de dólares.

A dimensão do nosso quinhão pode parecer modesta, mas corresponde rigorosamente à nossa participação no comércio mundial. O que preocupa não é o valor da fatura, mas a descrição das mercadorias. Um olhar sobre nosso comércio com a China dá um banho de água fria no orgulho brasileiro de ter conseguido elevar o valor agregado da pauta de exportações. O modelo café e cana-de-açúcar foi mesmo deixado para trás, mas seu lugar foi ocupado pela dupla soja e minério de ferro, pelo menos quando se trata da China. No ano passado, esses dois produtos representaram 65% de todas as nossas vendas para o mercado chinês. Seguidos por outros com nível de industrialização semelhante, que são pasta de madeira, óleo bruto de petróleo e fumo. Nos primeiros cinco meses de 2005, o cenário se alterou levemente, mas o padrão soja-ferro respondeu por metade das vendas para a China. Se esse é um perfil atípico para o Brasil, como exportador, também é estranho para a China, como importadora. No ano passado, para cada dólar gasto pelos chineses na importação de produtos primários foram consumidos 3,5 dólares na aquisição de produtos industrializados estrangeiros. E por que será que o Brasil não consegue aproveitar melhor o mercado chinês para vender produtos com maior valor agregado?

Como costuma acontecer com as questões relativas à China, a resposta não é simples. Porém, entre as diversas interpretações há um ponto em que todos concordam: o Brasil é um descobridor tardio da China, até mesmo comparado com outros países latino-americanos, como o Chile e o México. "Para dar uma noção do descaso, antes da feira Brasil-China de 2002, o último evento de promoção ao comércio entre os dois países aconteceu em 1986. Foram 16 anos sem nenhuma iniciativa brasileira. Nesse período, outros fornecedores ocuparam o espaço que poderia ser do Brasil ", conta Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China. Apesar do tempo perdido, ele acredita que temos todas as condições para colocar nossos produtos industrializados nos contêineres que partem para a China. Como exemplo, menciona o caso de um fabricante de torneiras e chuveiros elétricos que acaba de fechar uma grande venda. Não se trata exatamente de um produto de alta tecnologia, sobretudo para um país que se envaidece de ser um dos fornecedores mundiais de aeronaves. Ainda por cima, o próprio Tang admite que um comércio desse tipo não tem muito futuro com a China. Se houver mesmo uma grande demanda, em pouco tempo os chineses estarão fazendo seus próprios chuveiros. Por isso recomendou que o fornecedor brasileiro registre a patente na China e posteriormente faça uma joint venture com uma empresa chinesa para fabricar os chuveiros por lá mesmo.

Desobediência "A China não cumpre os acordos com a Organização Mundial do Comércio (OMC) e impõe dificuldades para forçar as empresas a se instalarem lá. Isso aconteceu com a Embraer. E, na hora da compra, ela privilegia as multinacionais que têm operações na China ", acusa Maurício Mesquita Moreira, economista do Departamento de Integração do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington. Na interpretação dele, o acesso brasileiro ao mercado chinês de produtos de alto valor agregado é muito improvável. Em primeiro lugar porque, de acordo com Moreira, a China faz questão de adquirir tudo no estado mais primário possível. Mesmo o Chile, tradicional fornecedor de cobre, sofre porque os chineses se recusam a importar cobre refinado. "E os obstáculos não acabam depois que se consegue fechar o contrato ", alerta Moreira, "pois a distribuição é muito complexa e só quem conta com o apoio do governo consegue atingir o mercado interno. Uma prova disso é que mesmo as montadoras instaladas na China são proibidas de possuir revendedoras e obrigadas a lidar com intermediários chineses. " Por tudo isso, ele aposta que a pauta das exportações brasileiras deve continuar sem grandes alterações.

Além das dificuldades geradas pela política chinesa, existem os problemas inerentes à realidade nacional. Muitos acreditam que a competitividade da indústria brasileira não é suficiente para avançar no mercado chinês. "Não há como competir com a taxa de juro de 2% ao ano que vigora na China ", diz Alexandre Barbosa, diretor da Prospectiva, consultoria brasileira especializada em assuntos internacionais. "A política de juros brasileira, somada à carga tributária, limita nossa opção em vender commodities, enquanto a China só pensa em se industrializar ", conclui. Para alguns, essa opção não foi determinada exclusivamente pelo Brasil, mas contou com forte influência da própria China. Nos longos anos em que a economia chinesa cresceu e o mercado nacional não percebeu, quem definiu o perfil das nossas relações comerciais foram os chineses. "Não fomos nós que vendemos soja e minério de ferro, foram eles que compraram ", declara Roberto Teixeira da Costa, fundador e membro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). O governo federal tenta mudar o perfil das relações comerciais com a China e no ano passado levou para Pequim uma comitiva de 400 empresários, junto com o presidente Lula. Também concedeu status de economia de mercado à China, com a óbvia esperança de conquistar maior simpatia dos importadores. Mesmo assim, estamos longe de conseguir mudar as regras do jogo comercial chinês.

Quem tiver a curiosidade de levantar o nome dos maiores fornecedores para a China vai se deparar com um quadro sintomático. Em primeiro lugar está o Japão, em segundo Taiwan e, em terceiro, a Coréia do Sul. São eles que abastecem os chineses de máquinas e equipamentos. "A ascensão da indústria chinesa provoca efeitos em cadeia em toda a Ásia ", indica Ricardo Mendes, diretor adjunto da Prospectiva, que esteve recentemente na China para efetuar pesquisas. Ele projeta um cenário negativo para o Brasil como exportador de produtos industrializados para a China. "Pode ser que consigamos avançar em bens intermediários, tais como couro, celulose e alimentos, mas é improvável que cheguemos a vender bens de capital. O máximo devem ser autopeças, ramo em que somos bastante competitivos. " Mas, para Mendes, o contrário pode e deve acontecer, isto é, que produtos chineses venham a substituir similares brasileiros tanto no mercado interno como no externo. A título de alerta, ele lembra que a China começou a exportar carros para o Oriente Médio, tradicional cliente brasileiro. Um cálculo do BID com base em dados do Comtrade, órgão da Organização das Nações Unidas para o comércio de commodities, mostra que o Brasil já havia registrado, em 2002, uma perda de 4% de seu mercado exterior para a China.

Lógica Esse pessimismo, porém, não é compartilhado por todos os especialistas. Renato Amorim, membro do Conselho Empresarial Brasil-China, acha que é complicado, mas não impossível, tirar proveito do crescimento chinês. A maior dificuldade é que não basta chegar lá e vender, é preciso entender a lógica produtiva deles, saber inserir-se em algum ponto da cadeia e, acima de tudo, oferecer algo em troca. Todas as empresas teriam de ser um misto de exportadoras e investidoras. O modelo mais comum é o que exporta matéria-prima, usa a mão-de-obra chinesa para montar o produto, compra de volta, agrega a marca brasileira e vende novamente. Algumas indústrias estão fazendo isso com sucesso. São os casos da Caloi e da Gradiente. O problema é que para levar a cabo uma operação desse porte é preciso muita desenvoltura no mercado internacional, e poucas empresas brasileiras transitam com tanta familiaridade por cenários tão distantes. "Falta ao Brasil preparo institucional para lidar com a China ", lembra Amorim.

Um estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) traçou o perfil do seleto clube formado pelas cerca de 1.000 empresas industriais que conseguiram superar a muralha da China. Elas têm aproximadamente 900 empregados, receita média de 290 milhões por ano e exportam 10% desse faturamento. Também apresentam índices de produtividade e de eficiência superiores às demais exportadoras, um quadro que demonstra ser preciso profissionalismo para chegar ao mercado chinês, porém não necessariamente alta capacidade de inovação. A mesma pesquisa apontou que 90% das vendas foram realizadas por empresas especializadas em bens padronizados e só os restantes 10% foram efetuados por firmas que inovam e diferenciam seus produtos.

Possibilidades A pesquisadora Fernanda De Negri, autora do estudo, constatou que as indústrias que já vendem para países asiáticos têm maior probabilidade de entrar no mercado chinês, assim como as empresas de capital estrangeiro, que têm 7% mais chance de exportar para a China do que suas congêneres domésticas. Essa vantagem, entretanto, nem sempre é aproveitada, já que muitas vezes as multinacionais definem suas estratégias comerciais em termos globais e não necessariamente a sucursal brasileira é escolhida para vender para a China. O estudo do Ipea também destaca um detalhe importante: quase todos os grandes exportadores brasileiros já têm acesso à China, porém muitas vezes fornecendo produtos com menor valor agregado do que os vendidos para outros mercados, mesmo para países desenvolvidos. Isso reforça, de certa forma, a noção de que quem determinou a composição da nossa pauta de mercadorias foram os compradores, e não os vendedores.

Mesmo diante de tantos obstáculos, o governo brasileiro permanece otimista e confiante em sua política comercial em relação à China. Ivan Ramalho, secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, acredita que "soja e minério de ferro já ocuparam o espaço disponível, agora é a vez de novos produtos suprirem as necessidades da crescente demanda chinesa ". Para mostrar que está certo, ele aponta alguns casos. No ano passado, o Brasil não vendeu nenhuma máquina-ferramenta para a China, mas em 2005 foram comercializados 28 milhões de dólares. A exportação de compressores dos cinco primeiros meses deste ano alcançou 26 milhões de dólares, mais do que o dobro do valor de 2004. O mesmo aconteceu com máquinas de terraplenagem, cujas vendas até maio chegaram a 5,6 milhões de dólares. Para Ramalho, as perspectivas também são muito boas para aparelhos elétricos, de telefonia, tintas e vernizes. Os números não chegam a ser impressionantes, mas podem, de fato, representar uma tendência.

O que preocupa otimistas e pessimistas são outros números que não dão margem a dupla interpretação. Apesar do volume de comércio entre as duas nações ter registrado aumentos constantes e significativos desde 1999, o saldo da balança favorável ao Brasil começou a declinar no ano passado. Em 2003, a vantagem brasileira foi de 2,4 bilhões de dólares, no ano seguinte caiu para 1,8 bilhão e, em maio deste ano, estava em 200 milhões. As exportações brasileiras para a China durante os cinco primeiros meses deste ano foram ligeiramente inferiores às dos cinco primeiros meses do ano passado. Em compensação, as importações cresceram 60%. As projeções indicam que o saldo da balança deve alcançar, no final do ano, 500 milhões de dólares. Portanto, além de diversificar e melhorar a pauta de suas exportações, o Brasil tem outro desafio pela frente: garantir, ainda que à custa de commodities, que 2006 não passe para a história como o ano em que o prato da balança começou a pesar favoravelmente à China.

 
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