2008 . Ano 5 . Edição 39 - 25/01/2008
Helio Mattar
Para o homem sobreviver, ele tem obrigatoriamente de consumir. É inexorável. Sobre o fato de consumir, não há escolha. Mas há escolha, ou melhor, muitas escolhas, na qualidade e na intensidade desse consumo. Todos os nossos atos impactam o ambiente, os recursos naturais, a sociedade e nós mesmos. Toda e qualquer atividade humana ligada ao consumo sempre exige energia, água e recursos naturais, além de deixar rejeitos sólidos, líquidos ou gasosos no ambiente.
No ritmo atual de exploração do planeta, a humanidade caminha para um beco sem saída. Atualmente os mais de 6 bilhões de habitantes da Terra já consomem 25% a mais de recursos do que o planeta é capaz de renovar. Nessa toada, em um século, não haverá fontes de água ou de energia, reservas de ar puro nem terras para agricultura em quantidade suficiente para a manutenção da vida.
E isso ocorre apesar de, devido à impressionante desigualdade global na distribuição das riquezas, apenas 1,7 bilhão de pessoas consumirem de forma expressiva no planeta. O restante da população vive à margem do acesso a bens e serviços, beirando a linha da pobreza ou abaixo dela.
Se toda a população do mundo passasse a consumir como os habitantes mais ricos, seriam necessárias quatro Terras para saciar tão elevado nível de demanda por água, energia, recursos naturais e alimentos.Segundo medições astrofísicas, já há indícios de um planeta muito parecido com a Terra fora do sistema solar, mas são apenas indícios, e o suposto "gêmeo"está a 20 anos-luz daqui ou algo em torno de 190 trilhões de quilômetros de distância. Viajando em foguetes ultra-sônicos que alcançassem dez vezes a velocidade do som, a viagem duraria mais de 1,5 milhão de anos.Portanto, é bom cuidarmos do único lugar que temos para viver...
Isso quer dizer que nem os ricos poderão continuar com o mesmo modelo de consumo, nem a população mundial poderá adotá-lo. É urgente não só redistribuir o acesso às riquezas, mas passar a produzi-las e consumi-las de maneira radicalmente diferente. Não significa parar de consumir, mas adotar padrões sustentáveis, como, por exemplo, procurar fontes de energia menos poluidoras,diminuir a produção de lixo e reciclar o máximo possível, além de repensar quais produtos e bens são realmente necessários para alcançar o bem-estar.
Aos países pobres e aos chamados "em desenvolvimento", que têm todo o direito a crescer economicamente, cabe o desafio de não repetir o modelo predatório dos ricos. Desde a Revolução Industrial, os países ricos emitiram 80% do carbono que causa o efeito estufa na atmosfera. Cabe às economias que ainda precisam se desenvolver buscar alternativas para gerar riquezas sem destruir florestas nem contaminar o ar e as fontes de água.
Nesse processo, o consumidor consciente tem um papel fundamental. De um lado, escolhendo produtos e serviços de empresas que cumpram com suas responsabilidades social e ambiental, valorizando as melhores empresas e incentivando assim os demais fornecedores de produtos e serviços a adotar processos sustentáveis.
De outro lado, como usuário individual,planejando suas compras, economizando água e energia, repensando seus hábitos, reduzindo o consumo, reutilizando tudo o que for possível e reciclando o lixo.
Dessa maneira, com o crescimento do número de consumidores conscientes, de suas redes de informações e pressão e com seu fortalecimento nos fóruns de mediação - organizações governamentais e não-governamentais, meios de comunicação e internet - será possível criar uma cultura da sustentabilidade do planeta, cujos negócios devem contribuir para um mundo com três qualidades: ser economicamente viável, ambientalmente sustentável e socialmente justo.
Helio Mattar é fundador e diretor-presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente
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