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Rede de solidariedade no setor informal

2005. Ano 2 . Edição 9 - 1/4/2005

"À medida que o uso da alta tecnologia avança, o sistema produtivo se torna mais seletivo, e um contingente significativo de pessoas fica desprovido da possibilidade de inserção no serviço público de Brasília"

Angélica Duarte de Aguiar

É certo que falar no "novo" capitalismo não é tratar de um sistema diferente daquele do século XVI. A palavra "novo" é usada no sentido de que a exclusão social é maior e mais acelerada, na proporção do avanço tecnológico do século XXI. O "novo" capitalismo vem provocando rupturas na sociedade, especialmente no mercado formal, o que expõe o trabalhador a uma "falta de rumo" e faz aumentar sua participação na massa de desempregados. O interessante é que, ao mesmo tempo, o sistema vem proporcionando a criação de alternativas de trabalho, gerando um contingente de pseudoprofissionais no chamado mundo da "desordem" - o setor informal -, em contraposição à ordem da formalidade do trabalho público ou funcional. Os flanelinhas não fogem a essa realidade. Fazem parte da multiplicidade de modelos comportamentais e sociais cuja característica, em Brasília, é a formação de uma rede de solidariedade, estratégia de sobrevivência dos desempregados.

O mundo do trabalho é um meio social complexo, dotado de sentidos, significações e sentimentos capazes de fortalecer o caráter do sujeito, o senso de inclusão social e os vínculos de solidariedade. É o que Edgar Morin chama de paradigma da complexidade. Complexidade é o tecido de ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem o mundo fenomenal formado de incertezas e de contradições.

Mais do que nunca o trabalho vem ganhando espaço como categoria central no universo dos excluídos. Além de ser uma forma de superação das amarras do desemprego, ele constitui um valor no sentido do fortalecimento do caráter do "ser trabalhador" e do ordenamento dos vínculos sociais para além dos vínculos formais do Estado. A categoria "trabalho" é formada pelo universo cultural da complexidade, tendo a subjetividade e as relações informais como base dos vínculos sociais. Apesar de os flanelinhas considerarem que ter um "bom trabalho" é ter um trabalho estável, com direitos trabalhistas, eles também consideram "bom trabalho" aquilo que lhes proporciona o prazer de estar num ambiente tranqüilo, sem pressão, com amizade, respeitando o lugar do outro, evidenciando a importância do contato humano. A rede de solidariedade entre os flanelinhas inclui valores que compreendem a reciprocidade, a tolerância, a compreensão, a amizade, a honestidade, o respeito, a descontração, o sorriso, o calor humano, a comunicação. Por mais que possam parecer manifestações simples, banais, discretas, aparecem no espaço contemporâneo, nos interstícios da vida urbana. Esses fundamentos estão calcados na relação do "dar-receber-retribuir", ou, em termos sociológicos, são o paradigma da dádiva.

Embora o Estado tente englobar a família desses trabalhadores em políticas sociais, como as de educação, ou em programas assistencialistas, com doação de bolsas ou lotes, sua multiplicação evidencia a carência de políticas de geração de emprego e renda, que vem desde a inauguração de Brasília.

A desocupação foi historicamente envolvida pelo silêncio e pela negação do lugar do "outro". À medida que o uso da tecnologia avança, o sistema produtivo se torna mais seletivo, sendo o serviço público o principal setor empregatício que absorve os trabalhadores mais qualificados no Distrito Federal. Assim, um contingente significativo fica desprovido da possibilidade de inserção no trabalho público da capital. Embora o imaginário da cidade seja construído com base na fartura de vagas no serviço público, essa atividade nunca abrangeu toda a população. Há uma dualidade no mercado de trabalho da cidade, onde a informalidade sempre esteve presente.

Na mesma proporção em que o sistema gera dificuldades ao acesso às políticas de emprego e renda, redes de solidariedade no setor informal vão sendo construídas e fortalecidas. Tanto que as tentativas de privatização dos estacionamentos em Brasília não tiveram êxito. Privatização sem inclusão da demanda de trabalhadores no mercado formal é como um barco que navega contra a correnteza, e é assim o sistema capitalista, repleto de contradições, desigualdades e exclusão.


Angélica Duarte de Aguiar é Mestre em Política Social pela Universidade de Brasília, coordenadora e professora do curso de Serviço Social do Instituto de Ensino Superior do Acre e assistente social da Polícia Federal

 
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