2004. Ano 1 . Edição 2 - 1/9/2004
"Foi o Ipea quem teve a idéia de colocar no planejamento de Governo a visão do 'crescimento com redistribuição', no início dos anos 70, para evitar falsas dicotomias entre crescimento e distribuição de renda."
João Paulo dos Reis Velloso
Quando Roberto Campos, então Ministro do Planejamento, me chamou para colocar o desafio da criação do Ipea, lá nos idos de 64, fez questão de acentuar: Tem de ser uma instituição fora do dia-a-dia do Ministério e do Governo, voltada para pensar o Brasil principalmente no médio e longo prazo. E a idéia de pesquisa aplicada significa que não vai ser uma instituição acadêmica, tudo que fizer deverá ser policy oriented, voltado para a definição de Políticas Públicas e para o planejamento".
Considerando a experiência vivida por uma entidade como o Ipea, diria que tem de funcionar em clima de pluralismo e de liberdade de criação. E que está sempre diante de dois desafios.
O primeiro é pensar o desenvolvimento como fenômeno global: econômico, social, político e até cultural. Claro, a ênfase deve ser no econômico e no social. Foi o Ipea quem teve a idéia de colocar no planejamento de Governo a visão do "crescimento com redistribuição", no início dos anos 70, para evitar falsas dicotomias entre crescimento e distribuição de renda.
O segundo desafio é a relevância. O Ipea tem de cuidar de coisas importantes, para que lhe sejam dadas as condições, inclusive materiais, de funcionar bem.
E relevância implica várias coisas. Para começo de conversa, implica criatividade. Foi no IPEA que se fez, no fim dos anos 60 e começo dos 70, o primeiro estudo sobre o aproveitamento dos "Cerrados". E os "Cerrados", como sabemos, mudaram a fronteira e mudaram a face do agronegócio brasileiro. Do Ipea nasceu a Finep, ainda na idéia de financiar estudos e projetos, e lá também se fez a reestruturação do IBGE, e a sua transformação em fundação.
Relevância implica, igualmente, visão estratégica do desenvolvimento brasileiro, para servir de base a qualquer esforço de planejamento estratégico. Planejamento para a economia de mercado, planejamento com liberdade, planejamento como forma de racionalizar a política de desenvolvimento e liberar as forças criativas da economia e da sociedade. Essa, a concepção de grandes humanistas, como James Tobin e Salvador de Madariaga.
João Paulo dos Reis Velloso, ex-ministro do Planejamento, é presidente do Instituto Nacional de Altos Estudos.
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