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Uma fórmula de sucesso no sertão

2015 . Ano 12 . Edição 85 - 20/01/2016

Projeto inovador implantado no interior da Bahia une tecnologia e cooperativismo e cria alternativas para tornar os produtores rurais mais resilientes à seca

Renata Laurindo

Um projeto está transformando a realidade de Pintadas, pequena cidade do interior da Bahia, a 250 km de Salvador, onde grande parte dos habitantes vive da criação de animais e da agricultura de subsistência e sofre com os longos períodos sem chuva. O clima seco, marcado por fortes períodos de estiagem, prejudica a renda dos trabalhadores, vinda da pecuária.

Tudo isso começou a mudar a partir do projeto Adapta Sertão, que uniu o cooperativismo e o associativismo comunitário. Criado em 2006 de forma embrionária no município, hoje beneficia 20 comunidades e 10 dos 14 municípios da Bacia do Jacuípe. O modelo produtivo do Adapta Sertão se baseia na criação sustentável de animais e na mecanização da produção agrícola para aumentar a produtividade no campo e armazenar alimentos para os animais, a fim de enfrentarem os períodos de estiagem.

A Bacia do Jacuípe, no sertão da Bahia, é uma região castigada pela seca. Os índices pluviométricos são baixos e irregulares, registrando‑se variações entre 300 mm e 800 mm, e agravam‑se periodicamente com os longos períodos de estiagem prolongada e precipitações abaixo de 400 mm. Desde 1962, os 14 municípios da Bacia do Jacuípe perderam 30% do volume das chuvas totais anuais, enquanto a temperatura aumentou 1,75 grau Celsius, de acordo com dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

Todos esses impactos ambientais contribuíram para uma escassez de água na região e, consequentemente, prejudicaram a produtividade de cultivos básicos como milho, feijão, mandioca, leite e diversas outras culturas. Como na maior parte das áreas do semiárido a principal fonte de renda do agricultor familiar é a produção de leite e a criação de ovinos e bovinos, os períodos de estiagem são dolorosos para os sertanejos, trazendo insegurança alimentar e redução da renda.


Após anos de uma seca severa, uma chuva faz reaparecer o lírio do campo
na Bacia do Jacuípe: esperança para a população local

Com a falta de água, a produção de leite, que representa a verdadeira renda para a maior parte dos produtores da região, sofre uma queda de 70% durante os períodos mais secos. Isso porque os agricultores não conseguem achar e fornecer comida em quantidade suficiente para os animais. Sem conhecimento e acesso a tecnologia para armazenar comidas no tempo chuvoso, já que os fabricantes de tecnologias costumam concentrar as revendas em áreas urbanas, a renda da população cai drasticamente nesses períodos.

Essa dificuldade em resistir às condições de sobrevivência no sertão fez com que, de 2000 para 2010, a migração no território da Bacia do Jacuípe chegasse à casa dos 40%. A grande seca de 2010‑2014 levou a um aumento ainda maior do êxodo rural, embora estimativas oficiais não estejam ainda disponíveis.

EXPERIÊNCIA

A alternativa para esse impasse veio com o Adapta Sertão. A partir de uma primeira experiência, o projeto mostrou aos agricultores que balanceando a ração era possível aumentar a renda gerada pela venda do leite de uma quantia que varia entre R$ 15 a R$ 60 por animal ao mês.


Albino Rodrigues Alvarez, técnico
de Planejamento e Pesquisa do Ipea

O melhor de tudo é que o custo é praticamente nulo, sendo necessário apenas fornecer a quantidade e a porcentagem certa de alimentos proteicos, energéticos e volumosos. A ideia é simples: o armazenamento de alimentos como feno, forragens e silagem é uma das estratégias mais baratas e eficazes para armazenar água e se preparar para as estiagens, considerando que para produzir um quilo de capim é preciso 360 litros de água.

Segundo a gestora dos projetos do Adapta Sertão, Thais Corral, a aproximação do município de Pintadas com a REDEH surgiu por meio de uma rede de programas de rádio de mulheres. Ela conta que o município era um dos mais ativos durante a programação e, por isso, surgiu a ideia de trabalhar a agricultura familiar naquela região, que costumava sofrer com a estiagem, já que os agricultores não tinham meios para armazenamento de água.A rede de cooperativas Adapta Sertão começou em 2006 de forma embrionária no município de Pintadas, sob o nome de Pintadas Solar, um projeto que utilizou os recursos hídricos disponíveis para viabilizar um método eficaz de irrigação, através do incentivo da Organização Não Governamental REDEH (Rede de Desenvolvimento Humano), do Rio de Janeiro.

Thais explica que a rede Adapta Sertão tem oito eixos de ação que são trabalhados conjuntamente: a tecnologia do Mais (Módulo Agroclimático Inteligente e Sustentável), capacitação, industrialização, pesquisa, cooperativismo, comercialização, financiamento e políticas públicas. A base produtiva do projeto é o Módulo Agroclimático Inteligente e Sustentável (MAIS), que é implementado nos períodos de pluviosidade regular, como uma medida preventiva à seca.

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Agricultores vendem seus cultivos na feira do Adapta Sertão

Com o módulo, os produtores rurais poderão se adaptar à mudança do clima somente através de um planejamento que inclua armazenamento de alimentos nos anos de mais chuva e produção de alimentos na estação com temperaturas mais amenas. Esse modelo eficiente é implantado nas cooperativas por meio da capacitação. O cooperado recebe então o financiamento do banco para implementar o MAIS por meio de uma compra “casada” com a cooperativa. Assim, é a cooperativa que fornece as tecnologias diretamente para o produtor a partir do projeto elaborado.

O MAIS é implementado na propriedade do produtor. Este recebe orientação técnica por um período mínimo de um ano e comercializa a produção por intermédio da cooperativa. No âmbito da pesquisa, o Adapta Sertão trabalha com várias instituições para avaliar o MAIS e incluir tecnologias que sejam realmente viáveis e sustentáveis dentro do eixo da adaptação à mudança do clima. Já o eixo de comercialização busca conseguir alcançar os diferentes mercados com produtos de alta qualidade e usando a matéria‑prima produzida nas propriedades rurais.

PRÊMIOS

Com tantos atributos, o projeto Adapta Sertão coleciona prêmios desde a sua criação. A experiência da cooperativa já foi reconhecida com o prêmio SEED das Nações Unidas, em 2008; o Prêmio Celso Furtado de Desenvolvimento Territorial; o Prêmio Mandacaru do Instituto Ambiental Brasil Sustentável em 2013 e em 2014. O Adapta Sertão foi uma das 30 experiências selecionadas pela 5ª edição do Prêmio dos Objetivos do Milênio (ODM), coordenado pela Secretaria Geral da Presidência da República em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e com o Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade.

Albino Rodrigues Alvarez, técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, visitou a Bacia do Jacuípe em dezembro de 2013 e conta que o que mais o impressionou foi a resistência da população à forte seca e a importância dada à valorização da situação da mulher no projeto. Segundo ele, a prática busca introduzir opções de melhoria de vida com ações simples.

“A origem e a prática das associações investem muito na emancipação feminina. Acho que a grande contribuição da prática é esse estímulo à pesquisa de modelos de convivência com o semiárido, problema muito sério no Brasil e pouco atacado, até por conta de fraca experimentação social”, relata. Segundo ele, a prática merece ser divulgada como exemplo de busca de soluções locais para o Nordeste, região brasileira carente da pesquisa de boas experiências.


Agroindústria para beneficiamento da polpa de frutas da caatinga

Os sistemas instalados são monitorados por técnicos contratados diretamente pela REDEH dentro do projeto do Adapta Sertão. O monitoramento é feito ao longo da duração do projeto usando indicadores sociais, ambientais e econômicos. Os principais indicadores são produtividade da área em função do tipo de cultivo, uso de água, número de horas trabalhadas por pessoa, número de horas de trabalho total, gasto de água, custo de insumos, milímetros de chuva, receita na venda dos produtos, quantidade da produção usada para o consumo doméstico, receita da venda de outras produções (leite, carne, etc...) e lista das dificuldades encontradas.

Thais conta que a meta para os próximos anos é firmar os oito eixos nos municípios da Bacia do Jacuípe. Até 2018, a previsão é de se implantar a plataforma do projeto para 800 famílias.

CURIOSIDADES

 

• Além do trabalho com as famílias da agricultura familiar, o Adapta Sertão mobiliza uma rede de rádios, blogs e mídias sociais da região que permite aos jovens do semiárido ter acesso à visão da agricultura, inédita na região.

 

• Outra área de atuação do Adapta Sertão são as escolas. Através de um projeto financiado pelo Itaú Social, terrenos baldios e cheios de entulho das escolas da região foram transformados em laboratório de conhecimento para aplicação de tecnologia de produção com cultivos orgânicos. As hortaliças e temperos são diariamente utilizados para preparar as refeições dos próprios alunos.

 

 
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