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Aqui não é Detroit

2014 . Ano 12. Edição 81 - 05/10/2014


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Bruno de Oliveira Cruz

Aqui não é Detroit foi o título de festival cultural no vale do Ruhr, em cidades da Alemanha, para tentar diferenciar regiões industriais em países desenvolvidos, mas que atualmente sofrem a decadência da perda de empregos industriais e o esvaziamento tanto econômico como demográfico. Mas o que fez Detroit se tornar um caso tão visível e icônico desta decadência econômica?

A cidade abriga as principais montadoras americanas, sede da GM e da Ford, e foi lá que surgiu o Fordismo, produção em massa consagrada na primeira metade do século XX e que revolucionou a indústria automobilística. Detroit tornou-se uma cidade dinâmica, polo cultural e de inovação nos Estados Unidos. O Museu de Artes testemunha este período áureo. Possui ampla coleção de obras de arte. Diego Rivera, o grande pintor mexicano marido de Frida Khalo, foi convidado pelo próprio Ford para realizar ali no museu de Detroit uma de suas obras--primas, o painel sobre a indústria.

A cidade, já bastante florescente e dinâmica, acolhia os migrantes negros do sul do país e assim a música passou a ter grande destaque nela, com a criação da famosa gravadora Motown, um celeiro de sucessos americanos, lançando desde Stevie Wonder ao Jackson5. Detroit passou a ser também um das principais cidades na luta por direitos e liberdades civis e fortalecimento dos sindicatos.

Mas hoje o cenário é desolador. Detroit atingiu seu pico populacional em 1950, quando chegou a ter quase dois milhões de habitantes. De lá para cá, vem perdendo gradualmente população e hoje conta com apenas 700 mil moradores e uma dívida de US$ 20 bilhões. Em consequência disso e da crise de 2008, existem 80 mil edificações abandonadas.

A perda de população e a migração da população branca para subúrbios mais afluentes no estado de Michigan acirraram a questão racial e a criminalidade. Além disso, como a educação básica no país é financiada em sua maioria por tributos locais, houve uma queda na qualidade do ensino, agravando ainda mais os problemas sociais. Segundo a Forbes, Detroit é a cidade mais violenta dos EUA e serviu de cenário para a filmagem, nos anos 1980, de Robocop.

Com todos estes problemas, Detroit torna-se, nos fins da primeira década dos anos 2000, a maior cidade dos EUA a pedir concordata. A decadência da cidade e do entorno serviu de cenário para Michael Moore lançar o documentário Roger e eu (1989) e depois novamente em Capitalismo, um caso de amor. Todos estes fatos ajudam a consolidar Detroit como o exemplo maior da perda de empregos industriais nos EUA.

Olhando para o caso brasileiro, tendo visível o caso de Detroit, mas também de outras cidades industriais nos países desenvolvidos, podemos refrasear H. Minsky e nos perguntar “Será que isto pode acontecer aqui?” É fato que há queda da participação da indústria na economia. Temos observado este fenômeno desde o final da década de 1980. A relação em “u” invertido da Curva de Kuznets é bastante conhecida na literatura econômica, a transição de economia agrícola para industrial e por fim para serviços. No Brasil, diferentemente dos países desenvolvidos, este fenômeno vem ocorrendo a níveis de renda per capita muito inferiores.

As regiões metropolitanas do Sudeste, em especial São Paulo e Rio, estão perdendo relativamente peso na participação da indústria com o crescimento de cidades médias e regiões metropolitanas em áreas periféricas como Norte e Nordeste. O formato do federalismo brasileiro parece supor que o caso extremo de Detroit é pouco provável que aconteça. Tome-se como exemplo Manaus, que talvez tenha sido o caso mais extremo de decadência econômica no século passado, e ainda hoje temos a Zona Franca e a renovação destes incentivos por anos à frente.

O que de fato é importante para o país é pensar uma política de consolidação da indústria. O exemplo do florescimento do setor naval é promissor para que possamos de fato consolidar o desenvolvimento do país. O cenário tão desolador quanto o de Detroit parece pouco provável no Brasil, mas não devemos nos contentar com isso. Há necessidade de se pensar em complementação de cadeias produtivas no país e uma inserção cada vez maior em cadeias mundiais de valor.

Divulgado por Michael Moore em seus documentários sobre o capitalismo, o vídeo sobre Cleveland (Ohio), vizinha ao estado de Michigan, também no chamado “cinturão enferrujado”, ironiza as mazelas de Cleveland e sarcasticamente conclui: pelo menos “nós não somos Detroit”. O Brasil deve, sim, pensar uma nova política industrial. Dizer que “pelo menos não somos Detroit” não parece ser o suficiente.

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Bruno de Oliveira Cruz é técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea.

 
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