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Os desafios da integração da América do Sul

2014 . Ano 10 . Edição 79 - 23/05/2014

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Ao desembarcarem no país, os médicos estrangeiros trouxeram na bagagem uma boa dose de esperança para os brasileiros que se queixam da falta de profissionais na área de saúde

Enquanto as economias asiáticas se integram para ganhar competitividade, o Brasil perde oportunidades de participar das cadeias globais de valor. Apesar do enorme potencial econômico e da indústria diversificada, não tem políticas coordenadas de integração com os países vizinhos. Diante disso, Ipea prepara estudos a fim de propor novas estratégias para criar cadeias produtivas no continente

Pedro Parisi

Pouquíssimos setores econômicos conseguem criar cadeias produtivas na América do Sul, enquanto no leste da Ásia a profunda interdependência entre as indústrias torna a região a mais competitiva do mundo. Obviamente, a combinação desses dois vetores – aqui e acolá – acaba por ameaçar a sobrevivência das empresas do Cone Sul. Essa diástole das economias sul-americanas tem causas já conhecidas e estudadas, problemas básicos que o Brasil e os nossos maiores parceiros regionais estão longe de solucionar. Estão no topo da lista a infraestrutura precária e o sistema tributário complexo, oneroso e burocrático. Mas não são os únicos. Dependendo do país, a legislação trabalhista ainda é um grande entrave, assim como o baixo desenvolvimento dos mercados financeiros e a inflação, que geram altos custos de capital para novos investimentos.

Diante desse diagnóstico preliminar dos problemas que atrapalham o desenvolvimento da região, a direção do Ipea decidiu preparar um estudo profundo sobre as possibilidades de integração das principais cadeias produtivas do continente. “A produção e a competitividade chinesa são afetadas positivamente por suas relações com os vizinhos”, explica o diretor de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais do Ipea, Renato Baumann. “Por isso, o país realiza altos investimentos neles. Esse modelo chinês gerou a ideia de estudar as cadeias na América do Sul e propor um projeto de integração produtiva semelhante aos governos”. Baumann ressalta a importância da interdependência dos asiáticos, o que gera aumento nos investimentos internacionais.

Na América Latina, apenas dois setores foram capazes de criar cadeias de produção complexas e, com isso, aumentar a competitividade. O caso mais importante é o da indústria automotiva. A empresa japonesa Fujikura, que se instalou há cerca de um ano no Paraguai, aproveita a proximidade geográfica e o acordo do Mercosul para fabricar chicotes elétricos (peças que unem os cabos de eletricidade de um automóvel) e vender para a brasileira Volkswagen. Outro exemplo é o setor de cosméticos. A Natura, gigante brasileira do setor, produz parte do seu portfólio na Argentina desde 2010 e, desde 2011, na Colômbia e no México.

CHANCES REAIS O que incentiva essa internacionalização é, principalmente, o baixo custo salarial e a energia barata. Infelizmente, o motor da integração, no caso da América do Sul, não são os fatores geradores de competitividade, como a infraestrutura eficiente e sistemas tributários desenvolvidos. O estudo do Ipea pretende identificar os setores onde há indicação de um potencial para possível complementariedade produtiva na América do Sul.

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“O modelo chinês gerou
a ideia de estudar as
cadeias na América do
Sul e propor um projeto
de integração produtiva
semelhante aos governos”



Renato Baumann, diretor de
Estudos e Relações Econômicas e
Políticas Internacionais do Ipea

De acordo com Jorge Arbache, professor da Universidade de Brasília (UnB) e assessor econômico da presidência do BNDES, a precária integração regional na América do Sul é resultado da primarização econômica dos países. A pauta de exportação do Cone Sul é formada, principalmente, por produtos primários, como alimentos, minérios e petróleo. “Na medida em que as commodities ganham espaço, diminuem as possibilidades de formação de cadeias de formação de valor”, explica Arbache.

Isso ocorre porque não há necessidade de agregar valor ao produto final. Portanto, não há industrialização. “As chances de criar uma cadeia são proporcionais ao nível de desenvolvimento tecnológico. Mas como perdemos o bonde da diversificação industrial, o esforço será dobrado”, afirma.

DECISÕES ESTRATÉGICAS O Brasil, como os vizinhos sul-americanos, precisa encontrar o seu papel no contexto global. Em uma decisão tão complexa como essa, vários vetores devem ser considerados. Contudo, há dois fatores estratégicos principais. O primeiro diz respeito à natureza geopolítica dos países. As pequenas nações, desde o antigo Principado de Florença até a Cingapura pós-moderna, costumam traçar projetos estratégicos voltados para fora de suas fronteiras. Na América do Sul, é a opção estratégica do Chile, que há três décadas vem focando sua economia nas exportações e prospectando nichos de mercado como vinhos, frutas e minérios – e, em todos, consegue excelentes índices de competitividade internacional.

Já no caso das nações que contam com a rara combinação de grande território, população e recursos naturais, chamadas de “baleias”, há uma tendência de priorizar a conquista do mercado interno. São basicamente cinco baleias: Estados Unidos, Rússia, China, Brasil e Índia. E todos esses países, dependendo do momento histórico, costumam olhar muito mais para dentro de si. Obviamente, todos têm pretensões globais, mas o mercado interno costuma ser a força propulsora. A China, por exemplo, neste momento de ascensão como potência global, tem olhado simultaneamente para dentro e para fora – exatamente como os Estados Unidos no boom do pós-guerra.

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“As chances de criar uma
cadeia são proporcionais ao
desenvolvimento tecnológico.
Como perdemos o bonde da
diversificação industrial,
o esforço será dobrado”




Jorge Arbache, professor da Universidade de
Brasília e assessor da presidência do BNDES

O outro vetor estratégico diz respeito à vocação econômica. Qual o papel de cada país no contexto mundial, tomando-se por princípio os paradigmas tradicionais: fornecedor de matéria-prima, potência industrial ou centro de inteligência e de serviços? Obviamente, o ideal seria a combinação dos três, como é o caso dos Estados Unidos. E enquanto os sul-americanos não se resolvem, a China abocanha fatias dos mercados dos indecisos.

No caso brasileiro, perdura há sete décadas a polêmica sobre nossa “vocação econômica natural”, desde os memoráveis debates, ao final da Segunda Guerra, entre o empresário Roberto Simonsen e o professor Eugênio Gudin. Fundador da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Simonsen defendia o desenvolvimento planificado pelo governo, com a criação de indústrias brasileiras e a substituição de importações. Decano dos economistas brasileiros e nosso representante na Conferência de Bretton Woods, Gudin defendia a “vocação natural” do país para a agricultura e um projeto estratégico no qual, algum dia, o Brasil seria o maior fornecedor de alimentos do mundo.

Simonsen venceu aquele debate e, desde então, 19 governos consecutivos, de Getúlio Vargas a Dilma Rousseff, vêm adotando políticas de substituição de importações de manufaturados e medidas de incentivo à indústria. Fato concreto é que o Brasil possui hoje um dos parques industriais mais diversificados do mundo, o qual produz de palitos de fósforo a aviões. Nos tempos de economia fechada, era motivo de ufanismo.

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PARADOXOS Contudo, desde que o ex-presidente João Figueiredo assumiu o governo com o slogan “Exportar é o que importa”, há três décadas, nove governos consecutivos vêm buscando inserir nossa economia no mercado internacional. Paradoxalmente, só alcançou o posto de 6ª maior economia do mundo por causa da competitividade do seu agronegócio – como apontava o professor Gudin.

A balança comercial de industrializados, por sua vez, sempre foi deficitária. Em 2013, culminou com o maior vermelho da história: R$ 105 bilhões negativos. O problema, segundo Arbache, é que a indústria brasileira não se acostumou a realizar investimentos industriais complexos. Sempre foi mais fácil e lucrativo produzir alimentos e explorar o crescente mercado interno. “Agora estamos pagando o preço”, comenta.

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É nesse ponto que entram os estudos que Ipea e SAE começam a promover com o objetivo de encontrar propostas para a maior integração das cadeias produtivas dos países sul-americanos. Já se sabe que o Brasil é uma das economias que menos participam das cadeias globais de valor. Uma das formas de medir a participação é calculando quanto das exportações de um país é composto por produtos importados. A taxa brasileira é de apenas 10%, de acordo com Renato Baumann, enquanto a participação de produtos prontos importados no mercado de consumo brasileiro foi de 25,2%, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Isso significa que, além de pequena, a participação do Brasil nas cadeias globais de valor “ocorre pelas portas dos fundos”, explica Baumann. Ele lembra que o país vende itens básicos e compra produtos prontos, com alto valor agregado. “Nós não participamos das cadeias, mas somos compradores pesados de produtos fabricados em cadeias”, acrescenta o diretor do Ipea.

BRASIL É UMA DAS ECONOMIAS MENOS INTEGRADAS DA AMÉRICA DO SUL

A falta de acesso a mercados é mais uma das razões da pequena participação brasileira nas cadeias globais.rd79not05img06 Enquanto o mundo inteiro se movimenta para fechar acordos tarifários, o Mercosul estagnou-se. O Brasil tem tratados comerciais com países que representam apenas 10,2% do comércio mundial, enquanto economias dinâmicas, como a da Coreia do Sul e da China, deram um salto enorme nesse quesito. A Coreia passou de 2,8% para 61%, praticamente o mesmo nível do México. A China pulou de 9,5% para 30,5%. Mesmo comparado com países da América do Sul, o Brasil não conseguiu acompanhar o ritmo da integração comercial e só tem 22 acordos comerciais, praticamente um terço do Chile, que tem 62 assinaturas. A Colômbia possui 60 e Peru, 52.

 

 
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