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Perfil - César Lattes

2013 . Ano 10 . Edição 78 - 16/01/2014

Letícia Oliveira

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“A história é a mais importante das ciências”

Indicado ao Prêmio Nobel de Física diversas vezes, o dinâmico César Lattes montou laboratórios, fundou o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e, com suas descobertas, foi estímulo para a comunidade científica nacional. Tornou-se tão notável que o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) batizou o sistema de currículos acadêmicos com seu nome: Currículo Lattes. Ave, César!

Quando, em 1947, Cesare Mansueto Giulio Lattes, 22 anos, sugeriu ao chefe da H. H. Wills Laboratory da Universidade de Bristol, Cecil Frank Powell, melhorar a emulsão nuclear que ele usava para estudar partículas do núcleo das células, acrescentando boro às chapas fotográficas utilizadas para tanto, ninguém imaginava a grandeza de tal feito. Tão enorme que criaria um novo paradigma para a física nuclear e o levaria a ser indicado algumas vezes para ser agraciado com o Prêmio Nobel de Física. O título não chegou, mas o intenso Lattes não desanimou e seguiu seus estudos e experimentos. Naquela época, era tradição que o prêmio fosse concedido aos chefes das pesquisas, em questão, Powell.

Foto: CBPF/Arquivo
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Lattes em Chacaltaya (Bolívia), onde foram feitos os experimentos que levaram à descoberta do méson pi

Em pouco tempo, Lattes descobriu o quarto elemento nuclear, o méson pi. Partícula subatômica que dá força à ligação celular e permite a movimentação entre prótons e nêutrons no núcleo, dando vida a uma célula. A pesquisa comprovava suspeitas anteriores de que havia um elemento a mais, capaz de fazer com que os prótons e elétrons se movimentassem sem se repelir, já que ambos possuem cargas opostas, positivas e negativas. A ocorrência caracterizou a física nuclear do pós-guerra. E mudou de maneira impressionante o ambiente da física no país, pois os cientistas foram se entusiasmando e criando vários institutos de pesquisa, mesmo antes do retorno de Lattes para o Brasil.

Desde então, Lattes tem recebido várias homenagens e prêmios nacionais e internacionais. O reconhecimento internacional se deu em vários momentos: na Bolívia, onde é cidadão honorário; na Venezuela, com a Comenda Andrés Bello; com os prêmios Bernardo Houssay e de Física da Academia do Terceiro Mundo pela Organização dos Estados Americanos (OEA).

No Brasil, as mais famosas passagens foram como membro da Academia Brasileira de Ciências e da União Internacional de Física Pura e Aplicada; recebeu os prêmios Einstein (1950); Fonseca Costa do CNPq (1958), a Medalha Santos Dumont, em 1989, a Medalha Comemorativa dos 25 anos e placa comemorativa dos 40 anos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e foi considerado símbolo para o município de Campinas-SP, em 1992. Para Lattes, conforme dito por ele no documentário Cientistas Brasileiros, “pessoal que sai do país com bolsa e por lá fica é sem-vergonha”. E ele voltou em 1948 para assumir a Cátedra de Física Nuclear da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

No ano de 1986, quando se aposentou, recebeu o título de Doutor Honoris Causa e professor emérito pela Unicamp. Várias escolas, ruas, laboratórios, praças, bibliotecas em muitos dos municípios brasileiros foram batizados como César Lattes. Em 1999, saboreou ainda em vida o reconhecimento máximo na própria casa, quando o CNPq deu ao sistema de currículos acadêmicos o seu nome: Currículo Lattes. Melhor que isso, obviamente, só o Nobel. Em 2011, devido a iniciativas da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o acervo documental privado de César Lattes foi declarado de interesse público por meio de decreto presidencial.

Num contexto em que a geografia não poderia mais ser considerada barreira para a inovação, já que não se falava mais em evolução, mas sim em revolução, grande parte das mudanças ocorridas entre as pesquisas físicas deve-se a Lattes. Se o Brasil conheceu o progresso científico, começou a entender melhor as necessidades das pessoas e houve mudanças no objeto da atividade científica, a origem disso foi dada por impulso de brilhantes jovens físicos brasileiros que foram realizar pesquisas com professores europeus. Por isso, associam Lattes a um “start up”. Não apenas por fazer o que era necessário fazer para alcançar o pretendido, mas por não temer o novo, mesmo quando desestimulado.

O BRILHANTE ASSISTENTE Lattes iniciou sua trajetória em 1941, depois de curiosamente espionado pelos professores José Leite Lopes e Gleb Wataghin. Ambos eram os responsáveis pela supervisão do exame vestibular na Universidade de São Paulo e surpreenderam- se com o jovem que várias vezes levantou- se para pedir mais papel almaço a fim de concluir sua prova. A experiência deles era a de que alunos com esse perfil estavam perdidos, não sabiam o que dizer. Lopes resolveu investigar, pois a escrita de Lattes era muito eloquente. Ele se surpreendeu com o que viu e pediu ao colega examinador para aferir a veracidade do que ele havia visto. O resultado foi a aprovação com as melhores notas do certame e a convocação de Lattes para, desde o primeiro ano de universidade, trabalhar nas horas vagas como assistente de Wataghin.

Foto: CBPF/Arquivo

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O cientista com José Leite Lopes no lançamento do livro César Lattes 70 anos: a nova física brasileira

“O trabalho de Lattes mostrou que era possível um jovem brasileiro fazer uma descoberta importante na física universal. Isso teve grande impacto na América Latina. (...) Ele também mostrou que era possível a um país do Terceiro Mundo e da América Latina fazer pesquisa de qualidade, mesmo em condições não tão favoráveis quanto às dos países do Primeiro Mundo”, disse José Leite Lopes.

O projeto do governo brasileiro – à época, para ter o poder, mais do que uma economia consolidada – era que o país pertencesse à elite mundial, e, para tanto, além de escolher qual sistema adotar – capitalista ou socialista –, deveria ter sua própria bomba atômica. Então, começou a incentivar o surgimento de uma elite pensante, aceitando assim professores socialistas montando laboratórios de ciências para formar jovens universitários. Era a década de 40 do século passado e imagina-se o que era falar em inovação naquele tempo. Todos consideraram os esforços de Lattes bem-sucedidos. Ele era idealista, detinha capacidade de organização admirável e imensa visão social.

CBPF Mas a falta de investimentos para o estudo da física e o relacionamento dele, que não se resumia ao ambiente científico, mas também alcançava o círculo político, levaram-no a fundar o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), em 15 de janeiro de 1949. O CBPF representou a concretização do desejo de cientistas e do próprio Estado de que os investimentos não acontecessem apenas no âmbito das universidades.

A importância de Lattes para o CBPF é contada pelo renomado físico José Leite Lopes, que com ele conviveu em São Paulo desde os anos 1940, e quando muito arguiram sobre a física brasileira, uma vez que a metrópole paulistana já estava com grupos consolidados. O Rio de Janeiro nada havia realizado em termos de física nuclear. E como a Universidade Federal da capital brasileira à época não tinha recurso para tais investimentos, José Leite Lopes intermediou um diálogo entre Lattes e o embaixador João Alberto Lins de Barros. Foi o embaixador quem obteve o financiamento dos primeiros recursos junto ao banqueiro Mário D’Almeida. Lattes acompanhou o projeto de concepção e a montagem dos laboratórios.

ANOS DE CHUMBO Depois da morte do presidente Getúlio Vargas, os investimentos em ciência foram suspensos, o que fez com que muitos cientistas precisassem voltar ao exterior para concluir seus estudos. Lattes afastou-se do CBPF em 1955 e foi para Chicago (EUA). Porém, não demorou muito por lá e voltou. Em 1957, ele fundou o Instituto de Física Gleb Wataghin, na Unicamp, que começou num porão, onde ele conseguiu duas salas e um banheiro. E, assim, um dos pioneiros grupos de raios cósmicos genuinamente brasileiro teve seu primeiro laboratório montado em um banheiro.

Com o golpe militar, em 1964, tudo ficou ainda mais difícil. Iniciava-se aí uma longa crise – suavizada apenas no curto período do milagre econômico dos anos 1970 – com a instituição da tradição de sucessivos governos não investirem financeiramente na ciência e de, por outro lado, o mercado não utilizar as descobertas brasileiras na indústria do país.

Lattes continuou lutando contra as adversidades e, se os estudos não foram devidamente aproveitados, não se pode deixar de mencionar o esforço brasileiro para que ele recebesse o Prêmio Nobel pelos estudos com partículas físicas. E Lattes não deixou de ver na ciência um futuro melhor para o Brasil. Os que o conheceram, nele reconheciam uma personalidade provocadora, suas frases por vezes atrapalhavam o pensamento. Ou seja, desconstruíam para depois construir.

Foto:  BPF/Arquivo
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Encontro da família no Natal de 1993: César Lattes com a mulher Martha Siqueira e os netos

O amigo e brilhante cientista Marcelo Damy o definiu como um dos maiores físicos internacionais e o melhor brasileiro. Até a sua morte, Lattes fazia questão de ressaltar que os seus conhecimentos em física eram oriundos dos relacionamentos que ele desenvolveu na USP. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, ele apenas aplicou o que havia aprendido no Brasil sobre a ciência que busca as leis e os fenômenos da natureza, bem como os princípios e causas primeiras dela.

A FAMÍLIA Engana-se quem acha que Lattes, mesmo com sua intensa atividade profissional, afastou-se de sua amada Martha Siqueira Netto e de suas queridas filhas Maria Carolina, Maria Cristina, Maria Lúcia e Maria Teresa. Sempre que se referiam ao marido e ao pai falavam de uma presença forte. Mesmo quando estava longe, o envolvimento com a família era sentido por elas. Quando questionada sobre a relação do marido com a família, Martha costumava dizer que, independentemente do nível de interatividade, como César era de uma objetividade tamanha, ele sempre acabava por transmitir o mais necessário e o de fato importante.

O notável físico não media esforços para que a família estivesse sempre bem e para que suas filhas tivessem o máximo acesso ao conhecimento, valorizando tudo o que elas produziam, mesmo que não parecesse importante. E fazia a família apreciar a produção cultural brasileira, em especial a música.

Em 8 de março de 2005, um ataque cardíaco levou César Lattes ao falecimento, aos 81 anos. Morria o homem, mas ficava o gênio, autor de frases como “a história é a mais importante das ciências, sem história não há realidade objetiva” e “a sabedoria não entra na alma malvada, mas a ciência sim”.

 
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