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Vozes da inquietação

2013 . Ano 10 . Edição 77 - 07/10/2013

Foto: Fernando Frazão/ABr

 

Washington Sidney

Pesquisas do Ipea e da SAE mapeiam o perfil dos jovens a fim de pavimentar o futuro do Brasil e ajudam a compreender, em números e em projeções, as principais preocupações dessa nova geração que sai às ruas para exigir um país melhor

Jady Espíndola Caffaro, 21 anos, aluna de Publicidade e Propaganda do centro universitário UniCEUB, de Brasília, Edemilson Paraná, 24, estudante de mestrado de Sociologia, e Fábio Félix, 24, estudante de mestrado de Política Social, ambos da Universidade de Brasília (UnB), têm muito mais em comum do que o simples fato de serem jovens universitários. Eles expressam uma grande preocupação com o futuro, cobram mudanças urgentes no nosso modelo de sociedade e manifestam desejo incontido de participar ativamente da vida política do país.

Conectada nas redes sociais, essa juventude transpira inquietação e inconformismo e revela capacidade incomum de mobilização, como se pôde atestar nas manifestações de junho, que começaram em São Paulo com protestos contra o reajuste e a má qualidade do transporte público e tomaram as ruas do país, encorpadas por um conjunto de reivindicações que envolvem vários itens, desde a melhoria dos serviços públicos até o fim da corrupção. A empregabilidade é outro desafio para a nova geração. Pesquisa feita pelo Ipea, em agosto deste ano, a partir da base de dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego, revela que o grande problema da juventude não é a inserção no mercado de trabalho, mas as altas taxas de rotatividade, fator que dificulta o aumento de sua (futura) produtividade e salários. Na verdade, os jovens têm até mais facilidade para conseguir trabalho que os trabalhadores mais velhos, mas não duram nos empregos.

De fato, a média 92,6% da taxa de rotatividade para os jovens sugere que, para cada dez deles empregados, nove foram contratados ao longo do ano. A mesma média para adultos situa-se em 42,8%. No mesmo gráfico, percebe - se que a taxa de separação (razão entre o número de trabalhadores que saem de seus postos de trabalho por demissão voluntária ou involuntária em relação ao estoque de trabalhadores) é tão elevada quanto: 72,4%. Ou seja, em média, sete em cada dez trabalhadores jovens desligam-se de seus postos de trabalho ao longo de um ano. A taxa de separação dos mais velhos é pouco mais da metade, em torno de 41,3%.

Foto: Antonio Cruz

“Os jovens são a principal
porta de entrada de
inovações nos valores e nas
aspirações de cada sociedade,
permitindo antecipar
no tempo a formação do
pensamento geral da nação”


Marcelo Neri, ministro-chefe
interino da Secretaria de Assuntos
Estratégicos e presidente do Ipea

Em resumo, os números mostram que as taxas de separações também são elevadas para os jovens: mínimo de 65% e acima de 85% em dois anos (2008 e 2010). Colocadas juntamente, as taxas de contratação e separação mais altas indicam um mercado de trabalho mais “turbulento” para os jovens, em que empregos curtos associados com taxas mais elevadas de separação coexistem com a entrada rápida no emprego e taxas de contratação mais elevadas, em média.

Carlos Henrique Corseuil, diretor-adjunto de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) do Ipea e um dos responsáveis pelo estudo, atribui esse fenômeno a dois fatores: “Em primeiro lugar, os jovens estão ingressando no mercado de trabalho em empresas de alta rotatividade. Outro fator que contribui para isso, mas de forma menos relevante, é que eles ingressam no mercado fazendo uso de contratos temporários de uma forma mais frequente que os adultos”. O estudo sugere a criação de políticas públicas para incentivar trabalhadores e empregadores a investir na relação de trabalho por meio de treinamento custeado por ambas as partes, de forma que tenham menos motivação para romper a relação de trabalho.

JUVENTUDE QUE CONTA As demandas da juventude se tornaram, nos últimos tempos, importante pauta na agenda do Ipea. Em maio deste ano, o órgão realizou a pesquisa Juventude que Conta, cujo objetivo foi traçar o perfil desta nova geração e saber o que ela pensa. Mais de 10 mil pessoas foram consultadas, mediante modelo de perguntas similar ao da pesquisa My World (Meu Mundo), levada a cabo por agências das Nações Unidas em diversas partes do globo. O estudo foi divulgado pelo presidente do instituto e ministro-chefe interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Marcelo Neri, e pelo subsecretário de Ações Estratégicas da Presidência da República, Ricardo Paes de Barros, às vésperas da Jornada Mundial da Juventude.



 O que eles pensam

Foto: Carla Lisboa

 

Edemilson Paraná:
“As manifestações revelaram o desejo de
ver um país mais justo, mais igual, onde as
pessoas tenham uma vida digna, com direito
a saúde, educação, transporte público,
acesso a cidades de qualidade. Enfim, foi um
chamado político, social, para uma mudança
profunda nesse país”


Foto: Carla Lisboa



Jady Espíndola Caffaro:
“A reivindicação por uma educação de
qualidade é uma pauta extremamente
importante. Acredito que a educação
pública possa ser de qualidade, com
condições de conceder oportunidades
que hoje em dia não se tem, porque o
ensino público é extremamente precário”

 





 

 

 

 



Foto: Carla Lisboa

Fábio Félix:
“Eu acho que a grande luta é pela
radicalização da democracia participativa. A
gente precisa de mais plebiscitos, referendos,
fortalecimento e ampliação dos conselhos
de participação. Acho que é preciso ampliar
e radicalizar a democracia para o povo
participar daquilo que é fundamental”

A grande aspiração dos jovens, segundo a pesquisa, é educação de qualidade: 85,2% dos brasileiros de 15 a 29 anos apontaram esta opção como a primeira das seis mais importantes de 16 alternativas elencadas. Melhoria nos serviços de saúde (82,7%), acesso a alimentos de qualidade (70,1%), governo honesto e atuante (63,5%), proteção contra o crime e a violência (49%) e melhores oportunidades de trabalho (46,9%) completaram as prioridades dos entrevistados.

Entre a pesquisa de campo, em maio, e sua divulgação, em julho, eclodiram as grandes manifestações por todo o país, deixando surpresa boa parte dos observadores políticos. Os números detectados na pesquisa expõem com clareza que as reivindicações há muito estavam latentes. O questionário apresentado aos jovens brasileiros incluiu questões como a melhoria nos transportes e estradas, liberdades políticas, proteção a florestas, rios e oceanos e eliminação do preconceito e da discriminação, entre outras.

“O jovem, no Brasil, que é criminalizado, que padece nas periferias, vítima da violência e da falta de oportunidades, olha para a educação como uma chance de mudar de vida, de ter dias melhores”, explica o estudante Edemilson Paraná. Ele continua: “Então, a educação é fundamental para nós. Uma educação priorizada pelo Estado, governo e sociedade, que seja emancipadora, valorize o senso crítico e que seja cidadã. É por meio dessa educação que nós podemos mudar esse país, daí ela ser tão importante”.

PLATÔ DA JUVENTUDE Outra pesquisa, coordenada pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República e apoiada pelo Ipea, mapeou o crescimento e as tendências demográficas da população jovem. Intitulada Juventude Levada em Conta, a pesquisa aponta a existência, hoje, de 51 milhões de jovens no Brasil, o que corresponde a 26% da população do país. Trata-se da maior juventude brasileira de todos os tempos, número que, a se manterem as tendências demográficas históricas, deve permanecer nesse patamar por mais uma década.

O estudo revela que o número de jovens ficará estagnado por 20 anos, de 2003 a 2022, com pouco mais de 50 milhões de pessoas. Paes de Barros, da SAE, chama este período de “platô da juventude”, o qual será sucedido por outro de contração da população jovem, com redução de 12,5 milhões entre 2023 e 2042. “No fim desse século, a juventude será 60% da que temos hoje”, afirmou Paes de Barros ao apresentar o estudo. “Hoje temos a maior juventude da história, foi a maior pré-juventude e será a maior força de trabalho relativa e absoluta, mas não será a maior população idosa”, ressaltou.

A maior população idosa, por outro lado, será composta pelos filhos destes jovens, por causa da redução na taxa de mortalidade. O presidente do Ipea e ministro-chefe interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Marcelo Neri, divide essa população em três grupos: o jovem adolescente (15 a 17 anos), representando 20% do total, com 10 milhões de pessoas; o jovem-jovem (18 a 24 anos), que corresponde a 45% do total e 23,1 milhões; e o jovem-adulto (25 a 29 anos), cujo número atinge os 35%, totalizando 17,5 milhões de jovens.

Marcelo Neri diz que é preciso ouvir os mais jovens. “É necessário que a juventude nos conte o que pensa e o que quer. A fim de empoderar na prática a juventude, ouvir é preciso. Não só para atender aos anseios da juventude, mas a fim de decifrar os principais desafios ainda por vir do país. Os jovens são a principal porta de entrada de inovações nos valores e nas aspirações de cada sociedade, permitindo antecipar no tempo a formação do pensamento geral da nação”, comenta.

CANAIS DE COMUNICAÇÃO AMPLIADOS A preocupação com o futuro do Brasil foi o grande motivador da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República para a realização da pesquisa Juventude Levada em Conta. A subsecretária de Ações Estratégicas da SAE, Adriana Mascarenhas, que participou ativamente da elaboração do estudo, destaca: “É impossível pensar em crescimento econômico e social e em transformação do país sem levar em conta nossos maiores ativos. Investir nas novas gerações tem reflexos positivos não apenas no presente das próprias crianças e jovens, mas também no futuro do Brasil”.

Adriana lembra que por 20 anos teremos mais de 50 milhões de pessoas entre os 15 e 29 anos. Esses jovens irão formar a maior força de trabalho que o país já teve. Ela será capaz de dar uma contribuição para o desenvolvimento do país maior do que qualquer outra geração. “Para isso ocorrer, contudo, é necessário prepará-los, oferecer condições, informações e oportunidades adequadas. Conhecer quem são esses jovens, ouvi-los e entender quais são as suas prioridades, o que eles querem e como querem é fundamental”, acrescenta.

Segundo ela, ao contrário do que se viu no passado, o país tem ampliado cada vez mais seus canais de comunicação com o jovem. De fato, há hoje mais de 100 conselhos municipais e estaduais de juventude, além do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve). Além disso, foi lançado no ambiente virtual o Participatório, que agrega o elemento participação ao Observatório da Juventude, com vistas a promover justamente o debate, a interlocução e possibilitar a mobilização social.

Outra prova da preocupação do governo com a nova geração é a criação de uma Secretaria Nacional de Juventude, vinculada à Secretaria-Geral da Presidência da República, para integrar e coordenar as multissetoriais políticas públicas voltadas para este segmento. Agora, ressalta Adriana, a questão crucial e urgente é mapear o que tem sido oferecido, identificar o que falta oferecer e, sobretudo, analisar a adequação dessas políticas às reais necessidades e anseios dos jovens.

“Nunca o Estado brasileiro teve um grupo tão numeroso de jovens e que está, ao mesmo tempo, demonstrando os resultados de um avanço social recente. Registramos os ganhos de renda e aumento de escolaridade, comparados com as gerações anteriores. É uma juventude que está estudando mais, que trabalha e interage de maneira acelerada e transita por essas diversas dimensões da sua trajetória de vida de uma maneira ainda não totalmente compreendida e aproveitada pela sociedade brasileira. É, ainda, uma juventude que tem manifestado, nas ruas e nas redes sociais, a sua capacidade de articulação, sua vontade de ser ouvida e de participar das decisões do seu país. Mas, além disso, restam muitos desafios a serem superados. Há inúmeras e persistentes desigualdades na oferta e no acesso efetivo a oportunidades entre os jovens”, esclarece a subsecretária.

Os estudos que a Secretaria de Assuntos Estratégicos vem desenvolvendo com diversos parceiros nessa área têm o objetivo justamente de atuar nesse sentido, ao buscar entender a heterogênea juventude brasileira e colaborar na identificação e na superação dos principais desafios que a envolvem de maneira inovadora. Outra linha de ação é a inédita abordagem para análise e combate da evasão dos jovens de atividades e programas.

“Ressaltamos, inicialmente, uma diferença fundamental entre a mobilidade positiva dos jovens (relacionada ao dinamismo e à busca por melhores oportunidades, que denominamos circulação) e entre o abandono e a evasão, de fato, prejudiciais. Essa última leva à perda de recursos públicos com programas de baixos índices de conclusão, a distorções idade-série, à alta rotatividade no mercado de trabalho e passa, muitas vezes, pela falta de adequação do que é oferecido aos jovens. Os altos índices de evasão dos jovens não são um problema exclusivo do ensino médio. Já tivemos conversas preliminares com especialistas da neurologia, da psicologia e de TI para conhecer fatores fisiológicos particulares dos jovens, além daqueles relacionados ao meio social e às novas formas de aprendizagem e interação proporcionadas pela tecnologia digital, que podem, de alguma forma, influenciar o seu comportamento e as suas tomadas de decisões”, finaliza.

Educação e mercado de trabalho

Foto: Divulgação/Ipea

“Temos de melhorar a
capacitação do professor. Hoje
o Brasil tem dois milhões
de professores nos ensinos
médio e fundamental. Essas
pessoas foram, em sua
maioria, malformadas e
são funcionários estáveis”


Divonzir Gusso, pesquisador do Ipea

Educação de qualidade e mais e melhores oportunidades de trabalho são os desafios que o Brasil enfrenta para atender os anseios da juventude. O Estado manifesta preocupação com o problema, já que está associado ao futuro do Brasil, mas a realidade é implacável: na última década o desempenho dos jovens no mercado de trabalho ficou aquém da média nacional. Eles estudaram mais, porém tiveram mais dificuldades para conseguir se empregar por causa da baixa qualificação.

Levantamento feito pelo IBGE revela que, entre junho de 2003 e junho de 2013, a taxa de desemprego dos jovens de 16 a 24 anos caiu 41,6%. Seria um resultado expressivo, não fosse o fato de que a queda, na média dos trabalhadores de todas as idades das seis maiores regiões metropolitanas, foi bem maior: 53,8%. Esses números deixam claro que, se não aproveitar bem o potencial de sua juventude, o Brasil poderá ter, na próxima década, o maior desperdício de sua história. Até 2023, a população de jovens entre 15 e 24 anos somará mais de 33 milhões, uma força de trabalho com potencial para aumentar o crescimento econômico do país.

Por outro lado, se houve avanço da escolaridade dos jovens, não ocorreu melhora da qualidade da educação. E esse pode se tornar, senão o maior, um dos maiores entraves ao desenvolvimento do país. Segundo Divonzir Gusso, pesquisador do Ipea especializado em educação, o país levou cinco décadas para incluir todos os brasileiros no ensino regular, mas deverá levar pelo menos outras duas para melhorar a qualidade da educação. São muitos os desafios.

“Temos de melhorar a capacitação do professor. Hoje o Brasil tem dois milhões de professores nos ensinos médio e fundamental. Essas pessoas foram, em sua maioria, malformadas e são funcionários estáveis. E outra coisa: as escolas de formação de professores, na maior parte, não são do governo. Ele não tem controle sobre a qualidade dessas escolas. A licenciatura das universidades públicas é muito pequena. Ou seja, forma menos professores que o setor privado. Mudar isso exige informação. E hoje a gente tem muito mais informação. Tem uma experiência mundial. Então, estamos em busca de respostas para o clamor das ruas”, ressalta Divonzir Gusso.

 
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