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Perfil - Caio Prado Junior

2012 . Ano 9 . Edição 75 - 28/12/2012

Lincoln Secco- de São Paulo

Caio Prado Junior


O homem de lugar nenhum

Autor de obras fundamentais para o entendimento da realidade brasileira, como Formação do Brasil Contemporâneo (1942), História econômica do Brasil (1945) e A revolução brasileira (1966), entre outros, Caio Prado Junior (1907-1990) não foi aceito na universidade e tinha pouca expressão em seu Partido Comunista Brasileiro. Mas, ao longo do tempo, firmou-se como um dos maiores historiadores do país

Caio Prado Junior pertenceu a uma geração de comunistas que tentou apagar muito da marca dos indivíduos sobre processos históricos. Em um pequeno livro chamado O que é filosofia, escrito em 1981, ele se perguntava acerca dos limites da liberdade humana. Liberdade esta que, para um marxista, não iria muito além da tomada de consciência das forças coletivas da história. Para ele, era o “homem ao mesmo tempo autor e ator da história”. Autor anônimo, muitas vezes, imerso em cadeias de ações coletivas impessoais, mas enfim, autor. Mas numa história que se desenrola muitas vezes à revelia das vontades individuais, o homem seria sempre mais ator num palco construído pelas gerações passadas e sempre reconstruído pelos homens e mulheres do presente. Em suas palavras:

“É certo que o plano em que se situam os indivíduos humanos e o grau de participação de cada qual, pelo seu pensamento e ação, na marcha da história, não são os mesmos (...). A generalidade se conserva no modesto plano de uma vida privada que se encerra em estreitos horizontes familiares e ocupacionais modestos e de relações sociais e atividades de ordem pública relativamente restritas. Os indivíduos nessa situação terão naturalmente (...) papel muito reduzido na marcha da história. Mas nem por isso deixam de trazer a sua contribuição, porque é da totalidade dessas contribuições individuais, em conjunto, que a história se faz”.

Ação e pensa mento Mas Caio Prado Júnior alçou-se, pela ação e pensamento, a outro patamar. Suas ações não tiveram o poder de influenciar diretamente os rumos do país e nem mesmo os de seu partido. Mas sua obra teve um merecido reconhecimento acadêmico, embora não o político, como ele queria.

Caio da Silva Prado Júnior, ou Caíto (apelido de infância), nasceu no dia 11 de fevereiro de 1907, no bairro de Higienópolis, em São Paulo. De tradicional família paulista, ex-aluno da faculdade de Direito de São Paulo (1924-1928) e jovem advogado na época da Revolução de 1930, ele chocou seus círculos familiares e de amizade ao aderir ao Partido Comunista do Brasil (PCB) um ano depois da queda da República Velha. Militante incansável, ele foi preso e perseguido várias vezes. Sua vocação para os estudos brasileiros, contudo, o inseriram no rol daqueles pensadores que eram tolerados devido à sua aguçada inteligência, apesar da opção política.

Com a fundação da USP em 1934, Caio Prado Junior matriculou-se na seção de História e Geografia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Lá se tornou companheiro de conversas e viagens dos geógrafos, especialmente de Pierre Monbeig e Pierre Defontaines, e participou da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB).

Caio foi preso em 1935, afastado do Brasil e teve uma possível carreira universitária interrompida. Elegeu-se deputado estadual pelo PCB em 1947 e foi cassado no mesmo ano, quando o governo Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) colocou a agremiação na ilegalidade. Em 1954, por insistência de amigos, escreveu Diretrizes para uma política econômica brasileira, tese apresentada no concurso para a cadeira de Economia Política da Faculdade de Direito da USP. Obteve o título de Livre Docente, mas não a cadeira de professor, por razões políticas. Na época ele já era um dos mais respeitados historiadores do Brasil.

Mesmo no seu partido, embora respeitado e ouvido, raramente tinha oportunidade de debater suas ideias. Nos anos 1950-60 tentou por três vezes ser professor universitário no estado de São Paulo, mas foi preterido por causa de sua filiação ao PCB. Mas quando faleceu, em 1990, sua obra de historiador havia se tornado um modelo quase universalmente debatido nas universidades brasileiras.

CONHECER PARA MUDAR Em sua obra, Caio Prado Junior procurou conhecer o Brasil para mudá-lo. Ele mostrou que o Brasil nunca foi um país subdesenvolvido ou em desenvolvimento. O país sempre foi pobre e rico, desenvolvido e atrasado, dependendo do ciclo econômico de cada época: “Infância, juventude, adolescência, maturidade, velhice e senilidade encontram-se presentes em nosso país e em sua economia, hoje como em qualquer época do passado”, escreveu ele em Diretrizes para uma política econômica brasileira. O intelectual não viu ciclos em sequência (do pau-Brasil, do açúcar, café etc), mas uma superposição de fases, cuja lenta evolução a cada momento apresentava um fator como dominante ou sobreposto a outro. É a economia permanentemente extrovertida, com a América portuguesa desde o início integrada ao capitalismo internacional. Nascemos modernos como uma empresa global. A tecnologia mediterrânica da plantação de cana-de-açúcar nas ilhas do Mediterrâneo e as mudas das ilhas atlânticas se associaram à força de trabalho do continente negro.

O que importava a Caio era o fato de que as formas de produção aqui instaladas obedeciam ao único objetivo de abastecer os mercados dos países europeus com alguns gêneros primários.

Por isso “a análise da estrutura comercial de um país revela sempre, melhor que a de qualquer um dos setores particulares da produção e o caráter de uma economia”, como ele escreveu em 1942. Os seus críticos chamaram isso de “circulacionismo” e não atentaram para o fato de que, na periferia, o estudo da esfera da distribuição é que conduz à totalidade. Isso porque o dinamismo do modo de produção está no centro do sistema e é este quem dá o “sentido da colonização”.

HOMEM SEM LUGAR Afirmou-se também que Caio Prado Junior não deu a devida relevância ao nosso processo de diferenciação produtiva interna. Escrevendo nos anos 1950 contra o capital estrangeiro no Brasil, o historiador via (como o seu partido) o imperialismo e o latifúndio como obstáculos à emancipação econômica do país.

Mas Caio Prado Junior não opôs os capitais estrangeiros à industrialização do Brasil. Isso seria contrariar seu esquema interpretativo da economia colonial, já que ele foi o primeiro a observar que o centro do sistema precisava desenvolver a colônia para explorá-la.

Apesar de sua originalidade, Caio Prado não estava separado da cultura comunista de seu tempo, compartilhando a fé laica no modelo socialista com sua geração. Por outro lado, ele não tinha lugar no partido. Era admirado como intelectual por muitos comunistas, mas não a ponto influenciar a direção do PCB. Na universidade, como vimos, sua entrada estava proibida.

A estranha situação de um autor original cuja produção se dava num “não-lugar” permitiu que Caio Prado Junior escrevesse a mais importante interpretação histórica do Brasil. Uma obra revolucionária.

 
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