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Perfil - Aloisio Teixeira

2012 . Ano 9 . Edição 73 - 28/08/2012

Maria Mello de Malta - Rio de Janeiro

Aloisio Teixeira


Lutador imprescindível

Falecido no último dia 23 de julho, Aloísio Teixeira, economista e ex-reitor da UFRJ, deixa um legado político e acadêmico inigualável. Combatente das lutas pela universidade pública, pela soberania nacional, pela democracia e pelo socialismo, desde a juventude ele aglutinou intelectuais e políticos críticos para pensar a mudança no Brasil

Quem ouviu seu próprio nome sendo chamado pela voz do professor Aloisio Teixeira jamais esquecerá. O timbre parece ter sido artisticamente escolhido para dar notícias importantes, trazer a novidade e ser portador de ideias provocadoras. Sorte daqueles que o puderam ouvir durante os 67 anos em que viveu. Nessas quase sete décadas atuou no enfrentamento à ditadura militar, interpretou e contribuiu para o pensamento econômico brasileiro, formulou e executou políticas importantes para o país. Especialmente, Aloisio Teixeira deixou sua marca na construção da universidade brasileira do 21º século.

Aloisio é marcante em toda amplitude de sua humanidade. Filho e pai dedicado, amigo para todas as horas, professor indefectível, intelectual teoricamente orientado, porém aberto e criativo, e companheiro de luta daqueles que Brecht referiria como "os que lutam a vida inteira", simplesmente imprescindível. Essas características combinadas no corpo de um leitor voraz, apaixonado pela música e cientista crítico tornavam sua presença uma deliciosa aula permanente.

OPÇÃO E VOCAÇÃO Tendo o marxismo como opção e o magistério como vocação, formou várias gerações convidando-asa pensar o Brasil, regando nossas mentes com a generosidade de compartilhar suas mais íntimas dúvidas e ideias. Tinha como conselho permanente o trecho de A Internacional Comunista que afirma “façamos nós por nossas mãos, tudo o que a nós nos diz respeito”. E fazia.

Nascido em 1944, no início dos anos 1960 entrou para o Partido Comunista Brasileiro (PCB), militando no Comitê Universitário do Estado da Guanabara, quando era estudante de engenharia. O grupo de companheiros que formou nessa fase da militância o acompanhou a vida inteira, até 23 de julho de 2012, estando quase todos presentes em sua última homenagem. Foi primeiro-secretário do Comitê Universitário a partir de 1969. “Caiu” em meados desse ano, quando passou seis meses na prisão sofrendo as consequências da violência com que a ditadura brasileira tratava seu contraditório. Hora marcada para tortura, mas a determinação de não quebrar o levavam a buscar alternativas para deixar a mente organizada. Contava a experiência de jogar xadrez, sem tabuleiro, com seu vizinho de cárcere, sujeito de quem não conhecia o semblante, mas a quem considerava exímio jogador. Referia-se sempre com muito carinho à sua companheira dessa época, Maria Tereza, também membro do Comitê Universitário e mãe de suas duas filhas. Afirmava que ela fora fundamental para conseguir manter-se vivo naqueles dias. Durante a fase da prisão teve a casa onde morava, junto com seus pais, no Posto Seis, em Copacabana, incendiada num atentado de vandalismo do aparelho da repressão. Julgado à revelia, foi para a clandestinidade, até que se passassem os quatro anos necessários para a prescrição da pena de um ano à qual fora condenado.

FORMAÇÃO COLETIVA No período de clandestinidade organizou a Assessoria do Comitê Central do PCB. Naqueles anos preparou detalhadamente a ida do grupo de estudos de O Capital para um curso de formação em Moscou. Compunha este grupo entre outros companheiros sua irmã Maria Lucia Teixeira Werneck Vianna, sua mulher, Maria Tereza, Carlos Nelson Coutinho, Júlio Mourão, Ana Maria Malin e Luiz Werneck. É também dessa época a formação dos laços com companheiros de vida inteira como José Paulo Neto e Leandro Konder na organização da intervenção do partido naquela conjuntura política.

Retornando à vida oficial optou pelo estudo de economia e se formou economista no ano de 1978. Três anos depois ingressou como professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro. A experiência inicial no magistério foi simultânea aos seus estudos para formação como mestre. Participou de uma pesquisa coordenada pela professora Maria da Conceição Tavares na qual foi formulada uma interpretação crítica sobre o funcionamento do padrão monetário internacional pós o fim de Bretton-Woods. A referida pesquisa envolvia vários professores recém-chegados na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da UFRJ e pesquisadores associados ao Instituto de Economia Industrial (IEI) da Universidade.

Maria da Conceição Tavares o convenceu a participar como professor-assistente do curso de Experiências Industriais Comparadas, na pós-graduação do IEI, no qual apresentaria resultados dessa pesquisa coletiva. Quem teve aulas ou compartilhou cursos com Aloisio sabe o cuidado e o prazer com o qual preparava cada detalhe daquilo que iria dizer em sala de aula, por isso, a partir da preparação desse curso foi capaz de montar a excelente dissertação de mestrado publicada como Texto para Discussão nº 25 do IEI em 1983. O movimento da industrialização nas economias capitalistas centrais no pós-guerra virou referência dos cursos sobre o tema sem jamais ter sido editada. É um texto primoroso, como todos os que Aloisio produzia, e uma pesquisa de altíssima qualidade, ainda não superada por qualquer outra sobre o tema para o período de referência.

Nessa época, já casado com Beatriz, sua companheira até seu último dia, e tendo Lucas, o primeiro de seus três filhos, nascido, Aloisio elaborou uma linda dedicatória em sua dissertação na qual revela a importância de seus companheiros de luta para o retorno à sua vida fora da clandestinidade.

EXPERIÊNCIA NA REDEMOCRATIZAÇÃO Com o fim da ditadura militar, seu expressivo trabalho político e acadêmico dos mais de vinte anos anteriores o fez receber convites para participar daquilo que se via na época como um governo que levaria o Brasil para o verdadeiro desenvolvimento, agora sob direção democrática. Em 1986, aceitou assumir a Superintendência Nacional de Abastecimento (SUNAB) no contexto do Plano Cruzado. No ano seguinte foi Secretário Especial de Abastecimento e Preços do Ministério da Fazenda, mas a importância do movimento político que se expressou na Assembleia Nacional Constituinte tomou de assalto seu peito militante e o levou a contribuir com formulações estruturantes do capítulo da Seguridade Social na Constituição que ali se escrevia para o país. Coerentemente a esse movimento, em 1988 assumiu o cargo de Secretário Geral da Previdência e Assistência Social.

A década de 1990 marcou seu retorno à Universidade. Nessa década concluiu seu doutorado pela Unicamp defendendo a tese O Ajuste impossível – um estudo sobre a desestruturação da ordem econômica mundial e seu impacto sobre o Brasil, publicada como livro no ano seguinte pela Editora da UFRJ. Voltou a ministrar cursos na graduação e na pós-graduação do Instituto de Economia da UFRJ (nascido nos anos 1990 pela fusão da Faculdade de Economia da FEA e o IEI), a partir dos quais montou grupos de estudos e de pesquisa com seus estudantes, que vinham de toda Universidade.

Seus cursos de leituras dos Grundrisse, de Karl Marx, e Tópicos em história do pensamento econômico deram origem ao Grupo de Estudos Marxistas (GEMA). Os trabalhos desse grupo floresceram com o livro Utópicos, Heréticos e Malditos, editado pela Record em 2002, e a fundação do Laboratório de Estudos Marxistas (LEMA) junto com o professor José Ricardo Tauile, em 2005.

Marx, segundo o próprio Aloisio, organizou definitivamente a matriz de seus pensamentos e era o fundamento de seu marco teórico, mas o objeto de reflexão de sua dedicação era o Brasil. Seus cursos sobre crises políticas e crises econômicas no Brasil, transformações globais e a economia brasileira e as duas versões e inúmeras edições do curso Intérpretes do Brasil resultaram em uma motivação: discutir a necessidade de criação de um espaço de estudos que transpusesse todas as barreiras disciplinares juntando pesquisadores do pensamento social, econômico, jurídico, literário, musical e tecnológico brasileiro para o estudo e a formulação de interpretações sobre o Brasil.

NOME PRETERIDO Foi também nos anos 1990 que concorreu pela primeira vez para a reitoria da UFRJ, tendo sido o candidato escolhido pelo voto da maior parte da comunidade. No entanto, sofreu um golpe do Ministério da Educação (MEC), quando o Ministro Paulo Renato de Souza – seu contemporâneo na Unicamp – preteriu seu nome, na lista tríplice, por de outro candidato recebedor de menos de 9% do total de votos. Eterno combatente pela democracia, Aloisio assumiu o assento de representante de professores titulares do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) no Conselho Universitário de onde travou dura batalha contra a intervenção então instalada.

Entre 2003 e 2011 dirigiu a UFRJ de forma democrática, sempre aberto a ouvir e dar espaço à apresentação do contraditório, possibilitando um ambiente de debate e criatividade raramente vividos pela univer-sidade brasileira. Reviveu a universidade de um período de sombras, reorganizando-a administrativamente, recolocando na pauta dos conselhos superiores e na comunidades da UFRJ o debate sobre o papel da univer-sidade pública no Brasil e lutando no MEC, na Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e em cada fórum que pudesse pela expansão de vagas, estrutura e financia¬mento do ensino superior público, gratuito, universal e de qualidade.

Essa bela trajetória esteve sempre entre-meada de duas deliciosas paixões com as quais animava e seduzia seus amigos e companheiros: a torcida pelo Botafogo e a culinária inovadora.

Aloisio realizou tudo que de melhor sonhou e que estava no cardápio das possi¬bilidades da história do seu tempo. Foi um homem que nesta vida estendeu seu abraço a um número inimaginável de pessoas. Por tudo isso podemos dizer que entre tantos louros, um facho de luz: Aloisio, a tua estrela solidária nos conduz!

 
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