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Brasis de Aziz - conta um pouco de suas percepções sobre os ecossistemas

2012 . Ano 9 . Edição 72 - 15/06/2012

Foto: phan

Aziz Ab’Saber conta um pouco de suas percepções sobre os ecossistemas que estudou, em entrevista inédita. Viajante contumaz, o cientista percorreu inúmeras vezes as regiões do país, realizando pesquisas e levantamentos que se tornaram referência para estudiosos

No dia 10 de maio de 2010, nas dependências da Superintendência do Iphan, em São Paulo, o geógrafo Aziz Ab’Saber concedeu uma longa entrevista a profissionais do órgão. O objetivo foi pontuar paisagens naturais brasileiras passíveis de proteção, a partir da perspectiva do professor. A iniciativa do encontro foi do diretor do Departamento do Patrimônio Material e Fiscalização, Dalmo Vieira Filho. Participaram o coordenador geral de Patrimônio Natural, Carlos Fernando de Moura Delphim, e os arquitetos Victor Hugo Mori, Maria Regina Weissheimer e Mônica de Medeiros Mongelli. A seguir, os principais trechos da entrevista.

OS PRIMEIROS VIAJANTES E A NATUREZA DO PAÍS Os viajantes antigos deixaram, pela primeira vez, uma ideia dos grandes espaços de vegetação, sobretudo do Brasil, num tempo em que ainda não existia o conceito de ecossistema e nem tampouco havia uma documentação mais séria do ponto de vista de imagens de satélites, cartas topográficas etc. [Johann Baptiste von] Spix [1781-1826] e [Carl Friedrich Philipp Von] Martius [1794-1868] fizeram um primeiro desenho das grandes regiões naturais do Brasil. Identificamos cinco: Amazônia, Nordeste Seco, Brasil do Cerrado, Brasil Tropical Atlântico, e depois Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, num só. E hoje, dividimos [a última parte] por causa de novos conhecimentos sobre o Rio Grande do Sul, cujas pradarias, comparadas aos planaltos de Araucária do Paraná, são totalmente diferentes. Infelizmente, todas as vezes que eles tentavam fazer cartografia desses grandes setores vegetacionais do país, uniam um setor com outro no mapa, faziam uma linhazinha que separava Nordeste Seco da Amazônia. Nesse sentido, a minha contribuição desde alguns anos atrás foi mostrar que era impossível uma região vegetacional do tipo da Amazônia ficar de repente diferenciada pela presença da Caatinga. Então, eu fiz um mapinha no qual eu identifiquei a core área [área nuclear] de cada um desses domínios de vegetação. Identificadas as seis áreas: Amazônia; Nordeste Seco, com as caatingas; Brasil Tropical Atlântico, dos Mares de Morros; Planaltos Centrais, com cerrados, florestas e galerias; Planalto das Araucárias e pradarias mistas do Rio Grande do Sul, que o pessoal ainda hoje designa pelo nome errado, “pampa gaúcho”. Pampa é um nome de outras áreas da América do Sul, mas a vegetação é de um tipo de pradaria mista.

DOCE ÁGUA SALGADA Eu gosto da palavra domínios para essas áreas nucleares de grande extensão, as quais eu digo domínios morfoclimáticos e fitogeográficos. Eu vou dar um conceito que sempre me levou a aprender mais. Não adianta dizer bioma, pensando que tudo é igual no relevo, na vegetação, no solo, nos rios, cor dos rios etc. Na Amazônia tem rios negros, tem rios brancos, brancos super argilosos e tem rios verdáceos. Tudo está relacionado com o solo e com elementos biogênicos ou então superargila. Quando eu entrei no Amazonas eu disse, meu Deus, que rio sujo! Sujo de argila, argila por tudo. Quando o rio Amazonas na sua boca norte sai por dois canais, no sul, e um largo mais ao norte, entre Amapá e algumas ilhas que um dia foram deltaicas, de fundo de estuário, lá tem uma névoa de argila dentro do mar que tem uma história. Toda aquela sujeira de argila, quando chega ao mar forma um véu. E tem uma história fantástica sobre isso: alguém que veio de Portugal para Belém teve de ir para a região de Macapá. Contrataram um índio que sabia remar numa canoa grande. A canoa saiu pelo rio Pará e costeou a ilha de Marajó, no sentido de Macapá. Acontece que o pessoal não sabia que a viagem era demorada. Não levaram muita comida e, sobretudo, água. E o índio nada de parar. Quando chegaram a Macapá, quiseram saber porque que o índio não precisava de água. Contaram o motivo: ele andou pelo mar Dulce. Quando queria água, tirava um pouco dessa auréola fantástica de argila. Quando chega no mar, a argila começa a se depositar e a água fica doce. Então tombar a foz do Amazonas para preservar isso é uma coisa importante.

TOMBAMENTO DA SERRA DO MAR Sabe o que me disse uma senhora que veio do Rio até São Paulo nesses aviões de ponte aérea? Ela viu só floresta, porque viajava na frente da Serra do Mar e dos morros que precedem a serra. E chegou para mim e protestou: “Ô Aziz, você fica ai dizendo que houve muito desmate em São Paulo. Eu só vi floresta, do Rio até São Paulo”. Ela não sabia dessa glória que foi o tombamento da Serra do Mar. Eu fiz o tombamento provisório. Tive ajuda de dez técnicos e cientistas. Dentro da Mata Atlântica, os estudos de ecossistemas não são simples, só uma equipe bem organizada pode estudá-los, porque tem que estudar o solo, isso é da ciência dos solos, tem que estudar a biota vegetal, animal e microrgânica do lugar.

PARQUES CULTURAIS
Os italianos fizeram um esforço para fazer parques culturais na Itália. São muito bonitos. Podia-se começar a criá-los aqui em todas as áreas que tenham a mesma raiz histórico - cultural, independentemente do bioma. Quando se identificou o caiçara que fazia uma nutrição baseada no peixe e alguns produtos da sua região, uma das pessoas [do grupo de pesquisa] que não era cientista disse que o caiçara tem uma nutrição baseada em coisas que estão lá, o peixe por exemplo. O caipira dependia quase sempre do milho. Aquela região do milho, o parque cultural caipira, dependia do milho. Hoje já mudou bastante, depois do ciclo do café e outras coisas.

 
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