resep nasi kuning resep ayam bakar resep puding coklat resep nasi goreng resep kue nastar resep bolu kukus resep puding brownies resep brownies kukus resep kue lapis resep opor ayam bumbu sate kue bolu cara membuat bakso cara membuat es krim resep rendang resep pancake resep ayam goreng resep ikan bakar cara membuat risoles
Perfil - Portinari

2012 . Ano 9 . Edição 71 - 08/05/2012

Gilberto Maringoni - de São Paulo

Portinari

imagem


As cores do povo brasileiro

Com um estilo pessoal e profundamente brasileiro, Portinari fez de sua arte uma longa narrativa das dores e alegrias do Brasil trabalhador. Participou intensamente da vida cultural e política do país e ficaria consagrado como um dos mais importantes pintores do século XX

Cândido Portinari já era um dos principais nomes da pintura mundial em 1952, quando recebeu um desafiante convite da Organização das Nações Unidas: elaborar dois painéis que seriam permanentemente expostos no gigantesco hall de entrada do edifício-sede, em Nova York. A ele caberia propor o tema da obra. Não teve dúvidas. O planeta saíra do mais terrível conflito bélico da História havia sete anos. Sugeriu “Guerra e paz”. Foi aceito sem restrições.

Os trabalhos foram executados num enorme galpão da extinta TV Tupi, no Rio de Janeiro. Cerca de 180 esboços foram feitos para os dois murais de 140 metros quadrados cada um. Depois de um esforço intenso ao longo de quatro anos, a inauguração foi marcada para 6 de setembro de 1957.

A radicalização da Guerra Fria levou o governo dos Estados Unidos a dificultar a entrada de personalidades que não se alinhassem aos dogmas do Departamento de Estado. Portinari era comunista, algo que nunca escondera.

Seu visto de entrada no país vinha sendo seguidamente negado desde o fim da década anterior. Talvez se fizesse um pedido especial, teria sua permissão concedida. Mas resolveu esperar por um convite formal de Washington. O convite não veio.

A inauguração resumiu-se uma pequena cerimônia e o pintor ficou no Brasil

INFÂNCIA POBRE Talvez a dureza de convicções que o artista exibiu naquele episódio tenha origem em uma infância cheia de dificuldades. Cândido Torquato Portinari, filho de camponeses italianos, nasceu no penúltimo dia de 1903, numa fazenda de café, em Brodósqui, cidadezinha próxima de Ribeirão Preto. Era o segundo de doze irmãos. A infância foi passada entre trabalhadores pobres do interior paulista.

À medida que crescia, o garoto mostrou sua predileção pelo desenho. Logo, a expressão gráfica se mostrou mais que uma distração. Revelou-se uma vocação. O pai, sensível a isso, conseguiu que o menino tivesse aulas com um pintor local. A educação regular não foi longe: abandonou os estudos no 3º ano primário.

Aos 15 anos, em 1919, o rapaz mudou-se para o Rio de Janeiro, então capital federal, para estudar desenho e pintura. Matriculado no Liceu de Artes e Ofícios, teve uma vida dura, de grandes privações e pouco dinheiro. Mas na primeira metade da década seguinte, começou a ter seus trabalhos reconhecidos pela imprensa, em mostras e exposições na cidade.

No entanto, quando apresentou seu primeiro trabalho ao Salão Anual da Escola Nacional de Belas Artes, em 1924, a obra foi recusada. Não era uma pintura acadêmica. O quadro Baile na roça, uma tela de dois por dois metros, retratava com cores fortes um costume interiorano.

Suas preocupações sociais se manifestaram em uma entrevista a um jornal carioca, em 1926: “Arte brasileira só haverá quando os nossos artistas abandonarem completamente as tradições inúteis e se entregarem com toda a alma à interpretação sincera do nosso meio”.

Em 1929, vence o concurso do Salão Anual da ENBA e, com o prêmio, faz uma viagem a Paris, onde ficou por dois anos. Aproveitou a estadia para palmilhar praticamente todos os museus e galerias da capital francesa e explorar o meio artístico de outras grandes cidades europeias. Lá conhece sua futura esposa, Maria Martinelli, uma uruguaia de 19 anos.

ARTISTA SOCIAL Na volta ao Brasil, sua faceta artística voltada para temas sociais se sobressai. Sua concepção de pintura e de usos das cores muda, por influência dos modernistas. Nos anos seguintes são produzidos quadros como Preto na enxada, O estivador, O sorveteiro, Mestiço e outros. Retratam a pobreza e as duras condições do mundo do trabalho. As telas não apenas ganham destaque entre círculos intelectuais, como incomodam pelo potencial de denúncia.

Pouco a pouco, Portinari altera a escala de suas obras. Em lugar de quadros, sempre que possível realiza murais que possam ser admirados por um público pouco familia-rizado com salões ou galerias.

Em 1935, recebe menção honrosa na Exposição Internacional do Instituto Carnegie, de Pittsburg, nos EUA. E no ano seguinte, realiza os afrescos do prédio do Ministério da Educação, no Rio, edifício projetado por Le Corbisier. Nessa época, o tema da seca nordestina adentra sua obra, até culminar com Os retirantes, de 1958.

Nos anos 1940, Portinari exporia em Nova York e realizaria murais para a biblioteca do Congresso, em Washington. Uma grande exposição, com 130 obras, percorreria várias cidades estadunidenses.

Ao mesmo tempo, nunca perdeu de vista a religiosidade popular. Seus quadros com motivos sacros sempre tiveram a preocupação de mostrar figuras bíblicas como gente do povo, com expressões de alento e tristeza, em uma arte de características sacras e sociais.

As pinturas da capela de Brodósqui, realizadas no início dos anos 1940, são exemplo disso. Aos críticos dizia: “Pinto a dor, a alegria, o trabalho, a miséria, o meu povo enfim”. A mesma interpretação se dá em suas obras históricas, quando produz Primeira Missa (1948) e Tiradentes (1949).

Ainda em 1944, colabora com Oscar Niemeyer na decoração da igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, o primeiro trabalho de destaque do arquiteto.

O MILITANTE Portinari teve intensa participação na vida política. Embora sua arte não fosse militante, ela deixava clara sua percepção sobre as abissais diferenças sociais no país. Optou por retratar o povo, suas festas, suas manifestações e sua miséria. E criou um estilo peculiar, pessoal e profundamente brasileiro.

Em 1945, disputa uma vaga ao Senado pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Mas é derrotado pelo industrial Roberto Simonsen, do PSD, que realiza uma campanha milionária. O resultado é cercado de polêmicas.

Em entrevista concedida em Roma, em 1979, aos jornalistas Iza Freaza e Albino Castro, o dirigente comunista Diógenes Arruda Câmara denuncia uma suposta fraude na contagem dos votos:

“Nós elegemos um senador, que foi o Cândido Portinari, o grande pintor. Ele foi eleito. Basta dizer o seguinte: o Roberto Simonsen, que havia sido apoiado pelo PSD, pelo Getúlio e por todo mundo, estava atrás da votação de Portinari cerca de 50 mil votos. Essa noite ia ser fechada a ata geral das eleições em São Paulo. Na noite seguinte, para surpresa, os quase 50 mil votos de diferença a favor do Portinari haviam passado milagrosamente... ou melhor dito: foram roubados e passados para Roberto Simonsen. Quer dizer: o Roberto Simonsen não foi eleito pelo eleitorado. Foi eleito pelo Tribunal Estadual Eleitoral de São Paulo. O verdadeiro senador eleito foi Cândido Portinari”.

Simonsen não se pronunciou, mas Portinari ficaria conhecido como “Senador furtado”.

Em 1947, com o crescente alinhamento do Brasil com os Estados Unidos, vários direitos democráticos são restringidos. Há intensa perseguição nos meios sindicais e o registro do PCB é cassado. No final do ano, com o acúmulo de tensões políticas no horizonte, Portinari muda-se para o Uruguai, onde permanece até o ano seguinte.

AUGE E DEBILIDADE Nos anos seguintes, o artista consolida seu prestígio no Brasil e no exterior. Na I Bienal de São Paulo, em 1951, ele tem uma sala especial. No ano seguinte, recebe o convite para a elaboração dos painéis da ONU. Expõe na Polônia, Israel, Bélgica e Áustria.

No auge de sua carreira, um grave problema de saúde começa a se manifestar. A partir de 1952, ele começa a receber advertências médicas para que evite manusear tinta a óleo. Uma intoxicação proveniente do chumbo contido na composição química das têmperas acaba por debilitar sua saúde. O conselho clínico revelou-se inócuo. Como abandonar seu ofício e sua arte? O artista muniu-se de luvas para tentar proteger o organismo. Mas a partir dali sua saúde foi se debilitando, ao mesmo tempo em que o trabalho e as viagens se intensificavam.

Morre aos 58 anos, em 6 de fevereiro de 1962, no Rio de Janeiro, cidade onde passara a maior parte da vida.

 
Copyright © 2007 - DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação sem autorização.
Revista Desafios do Desenvolvimento - SBS, Quadra 01, Edifício BNDES, sala 1515 - Brasília - DF - Fone: (61) 2026-5334