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Perfil - Abdias Nascimento

2011 . Ano 8 . Edição 70 - 29/12/2011

Elisa Larkin Nascimento - do Rio de Janeiro

Abdias Nascimento

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Economista, teatrólogo, artista plástico, pesquisador, deputado, senador e acima de tudo militante político. Em 97 anos de vida, Abdias tornou-se referência internacional na luta contra o racismo e a discriminação e bateu-se de forma intransigente para que a legislação brasileira possibilitasse a integração dos afrodescendentes sem preconceito de espécie alguma

Abdias Nacimento nasceu em Franca(SP), em 1914. Era filho do sapateiro e músico José Ferreira do Nascimento e da doceira e ama de leite Georgina Ferreira do Nascimento. Sua família era tão pobre que, mesmo sendo filho de sapateiro, Abdias passou descalço a sua infância. Trabalhou desde os sete anos de idade. Completou o segundo grau, com diploma em contabilidade, em 1928. Aos 14 anos ele recusou um emprego bem remunerado para os padrões de sua família quando mandaram buscá-lo numa carroça onde ele deveria viajar na parte traseira com suprimentos e animais, tratamento que não seria dado a um contador branco. Deixou Franca para capital São Paulo, onde se alistou no Exército em 1929.

Formou-se em Economia pela Universidade do Rio de Janeiro em 1938. Ainda nos anos 1930, participou de atos públicos da Frente Negra Brasileira e organizou o Congresso Afro-Campineiro (1938), que discutiu as relações raciais na cidade de Campinas (SP). Participou da resistência contra o regime do Estado Novo, o que lhe valeu uma prisão pelo Tribunal de Segurança Nacional.

Preso em razão de incidentes de combate à discriminação racial, Abdias Nascimento criou o Teatro do Sentenciado na Penitenciária do Carandiru em 1942, em que os prisioneiros criavam, ensaiavam e apresentavam seus próprios espetáculos teatrais. Também ajudou a fundar o jornal dos prisioneiros.

TEATRO E SEGREGAÇÃO Abdias fundou, em 1944, o Teatro Experimental do Negro (TEN), entidade que rompeu a barreira racial na dramaturgia brasileira e foi a primeira entidade afrobrasileira a ligar a luta pelos direitos civis e humanos dos negros à recuperação e valorização da herança cultural africana. Denunciando a segregação no teatro brasileiro, inclusive a prática de pintar atores brancos de preto para desempenharem papéis dramáticos, o TEN formou a primeira geração de atores e atrizes negros e favoreceu a criação de uma dramaturgia que focalizasse a cultura e a experiência de vida dos afrobrasileiros.

Sob a liderança de Abdias Nascimento, o TEN organizou a Convenção Nacional do Negro (Rio de Janeiro e São Paulo, 1945-46), que propôs à Assembleia Nacional Constituinte (1946) a inclusão de um dispositivo constitucional definindo a discriminação racial como crime de lesa-pátria e uma série de medidas afirmativas de combate à discriminação. O TEN realizou também a Conferência Nacional do Negro em 1949 e o 1º Congresso do Negro Brasileiro em 1950, ambos na cidade do Rio de Janeiro.

À frente do TEN, Abdias mantinha contato com os movimentos de expressão cultural e de libertação africanos e com o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos. Ele e os artistas e intelectuais associados ao TEN eram os principais, talvez os únicos, partidários no Brasil do Movimento da Negritude, liderado por Aimé Césaire, Léon Damas e Léopold Senghor. Entretanto, eles foram excluídos da delegação oficial brasileira ao 1o Festival Mundial das Artes Negras (FESMAN), realizado no Senegal, como afirmação internacional do valor da cultura africana e da negritude. A Carta Aberta a Dacar, escrita por Abdias Nascimento, denunciava o processo que levou a essa exclusão e foi publicada na prestigiosa revista Présence Africaine. Trata- -se do primeiro protesto de um intelectual afrobrasileiro a ser ouvido por um público africano mundial contra a discriminação racial no Brasil.

Abdias Nascimento foi o primeiro diplomado no histórico Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), em 1957, e concluiu pós-graduação em Estudos do Mar pelo Instituto de Oceanografia em 1961.

INTERCÂMBIO INTERNACIONAL A partir de 1950, ele atuou como curador do projeto Museu de Arte Negra do TEN, fruto de uma resolução do Congresso do Negro Brasileiro. A exposição inaugural se realizou no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, no ano de 1968. Pouco depois de inaugurar a exposição do MAN, Abdias Nascimento viajou aos Estados Unidos para realizar um intercâmbio entre os movimentos norte-americano e brasileiro de promoção dos direitos da população negra. Alvo da repressão policial do regime militar, ele não pôde retornar ao País em razão da repressão política instituída a partir do Ato Institucional no. 5, promulgado em dezembro daquele ano. Durante 13 anos, viveu no exílio nos Estados Unidos e na Nigéria.

Nesse período, Abdias participou de inúmeros eventos do mundo africano e em outros organizados por entidades negras nos Estados Unidos. Assim, ele introduziu a população negra do Brasil no palco da história africana mundial. Até então, nos eventos internacionais africanos não havia representação da América Central ou do Sul. Abdias Nascimento participou da reunião preparatória (Jamaica, 1973) e do 6o Congresso Pan-Africano (Dar-es-Salaam, 1974). Tomou parte no 2º Festival Mundial de Artes e Culturas Negras e Africanas (Lagos, 1977) e no Encontro sobre Alternativas do Mundo Africano e 1o Congresso da União de Escritores Africanos (Dacar, 1976), bem como do 1o e do 2o Congressos de Cultura Negra das Américas (Cali, Colômbia, 1977; Panamá, 1980). Neste último, foi eleito vicepresidente e coordenador do 3o Congresso de Cultura Negra das Américas.

Abdias Nascimento desenvolveu, ainda fora do País, sua extensa obra de artista plástico, na maior parte pintura, trabalhando temas da cultura religiosa da diáspora africana e da resistência à escravidão e ao racismo. Suas telas foram largamente exibidas nos Estados Unidos em galerias, museus, universidades e centros culturais como o Studio Museum in Harlem, as Universidades Yale e Howard, o Museu da Associação dos Artistas Afro- -Americanos, o Museu Ilé Ifé de Filadélfia e o Centro Cultural do Inner City de Los Angeles, entre outros.

Abdias permaneceu nos Estados Unidos e na África até 1981. Atuou como professor das Universidades Yale, Wesleyan, do Estado de Nova York e Ilé-Ifé (hoje Obafemi Awolowo), na Nigéria.

MILITANTE TRABALHISTA Militante do antigo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Abdias Nascimento atuou do exterior, ao lado de Leonel de Moura Brizola, na criação do novo partido político do trabalhismo brasileiro. Em grande parte como resultado de seus esforços, o partido incluiu o combate ao racismo e à discriminação racial como prioridade no seu programa político nacional. Abdias liderou a organização do movimento negro dentro do partido. Ele trabalhou para fazer da luta pelos direitos civis e humanos dos descendentes africanos uma causa suprapartidária e uma questão política nacional.

Retornando ao Brasil definitivamente em 1981, ele esteve à frente da fundação da Secretaria do Movimento Negro do Partido Democrático Trabalhista (PDT).
Participou, ainda, da criação do Memorial Zumbi e do Movimento Negro Unificado. Ele fundou, nesse ano, o Ipeafro – Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros –, que organizou o 3o Congresso de Cultura Negra nas Américas (São Paulo, 1982) e o Seminário Nacional sobre 100 Anos da Luta da Namíbia pela Independência (Rio de Janeiro, 1984), que fizeram com que o Brasil recebesse, pela primeira vez, uma representação do Congresso Nacional Africano da África do Sul e da Organização do Povo do Sudoeste da África (SWAPO) da Namíbia. O Ipeafro criou um dos primeiros cursos de preparação de professores para a introdução da história e da cultura africanas e afrobrasileiras no currículo escolar, o curso Sankofa, que se realizou na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e na Universidade do Estado do Rio de Janeiro no período de 1984 a 1995.

Candidato nas primeiras eleições do processo de abertura democrática (para governos estaduais e municipais e para o Congresso Nacional), Abdias Nascimento assumiu em 1983 como primeiro deputado negro a defender a causa da população de origem africana no parlamento brasileiro. Na Câmara dos Deputados, ele introduziu projetos pioneiros de legislação antidiscriminatória e apresentou as primeiras propostas de ação afirmativa (PL 1332/1983).

ATUAÇÃO PARLAMENTAR Como deputado federal, Abdias Nascimento participou dos simpósios regionais e internacionais das Nações Unidas em apoio à Luta do Povo da Namíbia pela sua Independência (San José, Costa Rica, 1983; Nova York (1984) e foi um dos principais atores no processo de criação da Fundação Cultural Palmares, órgão do Ministério da Cultura, bem como na instituição do 20 de novembro, aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, como Dia Nacional da Consciência Negra. Essa data tornou-se feriado oficial em diversos municípios e Estados do Brasil e hoje é reconhecida e comemorada em escolas e centros culturais em todo o País. Integrante da Comissão das Relações Exteriores, ele propôs e articulou medidas contra o Apartheid, advogando o rompimento de relações com o regime sul-africano.

Em 1991, Abdias Nascimento se tornou o primeiro senador afrodescendente a dedicar o seu mandato à promoção dos direitos civis e humanos do povo negro do Brasil. O então governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola, criou a Secretaria de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras do governo daquele Estado e o nomeou titular. A secretaria existiu até 1994, sendo extinta pelo sucessor de Brizola.

Terminado o seu mandato no Senado Federal, em 1999, Abdias assumiu como primeiro titular da nova Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Em 1995, foi eleito Patrono do Congresso Continental dos Povos Negros das Américas, realizado no Parlamento Latino-Americano em São Paulo, na ocasião do 3o Centenário da Imortalidade de Zumbi dos Palmares.

Ele participou ainda da Iniciativa Comparativa sobre Relações Humanas no Brasil, na África do Sul e nos Estados Unidos, organizada pela Fundação Sulista de Educação de Atlanta, EUA. O projeto desempenhou papel importante na construção de intercâmbios para a participação desses países na 3a Conferência Mundial contra o Racismo realizada pela ONU em Durban, África do Sul, em 2001.

HOMENAGENS NO EXTERIOR No ano de 2001, o Centro Schomburg de Pesquisa das Culturas Negras, Biblioteca Pública do Município de Nova York, no Harlem, homenageou Abdias com o Prêmio da Herança Africana Mundial. Realizado na sede da ONU no 75o aniversário do Centro Schomburg, o prêmio foi criado para reconhecer, naquela ocasião, seis personalidades destacadas do mundo africano, incluindo também Katherine Dunham, Dorothy Height, Amadou Mahtar M’Bow, Billy Taylor e Gordon Parks. Ainda nesse ano, Abdias Nascimento proferiu palestra no encontro das ONGs na 3a Conferência Mundial contra o Racismo em Durban. As Universidades de Brasília, Federal da Bahia, do Estado da Bahia, do Estado do Rio de Janeiro, e Obafemi Awolowo na Nigéria lhe outorgaram título de doutor honoris causa.

A partir de 2003, Abdias Nascimento participou das iniciativas de defesa da política de cotas perante os tribunais da nação, defendendo a constitucionalidade da ação afirmativa. A Unesco lhe conferiu, em conjunto com o poeta e estadista Aimé Césaire, o Prêmio Toussaint Louverture em comemoração ao bicentenário da Revolução dos Haitianos. Abdias foi indicado oficialmente ao Prêmio Nobel da Paz de 2010. Ele faleceu em maio de 2011, pouco depois de celebrar 97 anos na Escola de Samba Unidos da Villa Rica, Ladeira dos Tabajaras, Rio de Janeiro.

 
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