2011 . Ano 8 . Edição 64 - 10/02/2011
Da Praça do Comércio ao painel eletrônico
O mercado brasileiro de valores começou sua estruturação com a vinda da família real portuguesa ao Brasil, em 1808. A Praça de Comércio do Rio de Janeiro foi estabelecida como o primeiro pregão de ações do país. Hoje, duzentos anos depois, a cidade de São Paulo possui uma das maiores bolsas de valores do mundo, processando milhares de transações em seu pregão eletrônico
A Bolsa de Valores do Rio de Janeiro foi a primeira instituição de transação de ações a ser fundada no Brasil. Antes do início formal de suas operações, em 1845, os negócios, com produtos como fretes de navio e mercadorias de importação e exportação, eram realizados em uma espécie de pregão ao ar livre, e os corretores eram chamados de zangões. A partir da vinda da família real para o Brasil, no início do século XIX, a atividade de comercialização ganhou grande impulso, o que levou às primeiras tentativas de organização do mercado. Assim surgiu a Praça de Comércio, cujo funcionamento, na essência, era bem parecido com o atual pregão organizado.
A Bolsa do Rio, sucessora da Praça, foi palco de importantes momentos econômicos do país, desde o Encilhamento - primeira grande febre especulativa, gerada a partir da decisão do governo republicano recém instalado em promover o crescimento econômico por meio de emissão de moeda - até os leilões de privatização de grandes empresas estatais, após a adoção do Programa Nacional de Desestatização, em 1991.
Com a evolução do mercado acionário e acordos de integração, a partir de 2000, a negociação de ações no país foi transferida para a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). A Bovespa, inicialmente chamada de Bolsa de Fundos Públicos de São Paulo, foi criada em 1895. No início, as negociações de títulos e de ações eram registradas em enormes quadros-negros de pedra. Até o mês de setembro de 2005 a Bovespa manteve em funcionamento um ambiente físico para a realização dos negócios, onde os operadores de Bolsa apregoavam suas ofertas de negócios, daí a origem do nome "pregão", termo derivado do verbo apregoar, que significa divulgar em voz alta.
Em 2002, Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) adquiriu os títulos patrimoniais da Bolsa do Rio de Janeiro, passando a deter os direitos de administração e operacionalização do sistema de negociação de Títulos Públicos, o Sisbex. Tais ações consolidaram a cidade de São Paulo como o centro financeiro do país.
O grande avanço, no entanto, veio com a integração da Bovespa Holding S.A. e da BM&F S.A., em 2008, o que resultou na criação da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&FBovespa S.A.), uma das maiores bolsas do mundo em valor de mercado. Em setembro de 2010, durante o lançamento da oferta pública de ações da Petrobrás, a empresa passou a valer R$ 30,4 bilhões, atrás apensa da Bolsa de Hong Kong. Desde agosto de 2008, a companhia de capital nacional possui ações listadas, sob o código BVMF3, negociadas no novo mercado. Seus papéis também integram o Ibovespa, índice que reúne as ações mais comercializadas do Brasil.
Este ano as negociações da BM&FBovespa já superaram os resultados de 2009, segundo estatísticas da Bolsa. Dois meses antes do final de 2010, o Ibovespa já marca 69.529 pontos em títulos nominais, número superior aos 68.588 pontos de 2009. Em outubro deste ano o volume total de negociações somava R$ 1,216 trilhão. No mesmo mês, o volume médio diário de negociação foi de R$ 6,514 bilhões para 2010, para uma média diária de 426.420 operações. Em 2009, esses dois valores, foram, respectivamente, de R$ 5,286 bilhões e 332.349 negócios.
DE OLHO NO PEQUENO INVESTIDOR Para ampliar o perfil de investidores e atrair um número crescente de pessoas físicas e pequenas empresas para negociar na Bolsa, a BM&FBovespa investiu em planos de comunicação e de educação financeira, especialmente mirando o público jovem. Ao analisar o avanço da entrada de pessoas físicas com investimentos na Bovespa, percebe-se que os jovens, principalmente os nascidos entre 1980 e 1999, mais habituados com a internet, respondem pela maior parte do incremento das contas de pequenos investidores. Grande parcela destes jovens foi atraída pela possibilidade de negociar ações de dentro de suas casas. Desde 1997 a Bovespa disponibiliza o home broker, sistema de negociações de ações via internet.
Em 2002 o total de investidores pessoa física era 85.249, número que saltou para 630.895 pessoas até setembro de 2010, das quais 75% são homens e 25%, mulheres. A maior parte desses investidores concentrase na faixa etária entre 15 e 35 anos, o que representa 33% do total de investidores, ou 208 mil contas na bolsa, de acordo com dados da BM&FBovespa. A maior faixa, 169 mil contas, está concentrada nos aplicadores entre 26 e 35 anos.
Entretanto, ainda há muito espaço para que a participação deste segmento avance. Segundo dados divulgados em julho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta hoje com 3,7 milhões de jovens entre 18 e 29 anos que possuem renda alta, na sua maioria ainda moram com os pais e, apesar de altamente bancarizados (90% possuem contas) apenas 1% destes jovens investe em ações ou em outras aplicações financeiras.
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