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Retratos - Brasil com sotaque japonês

2010 . Ano 7 . Edição 63 - 19/11/2010

Brasil com sotaque japonês

Iphan aprova o tombamento de 14 bens da cultura japonesa no Vale do Ribeira, com o objetivo de preservar tradições que marcam a diversidade cultural e étnica do Brasil

Tatame no chão da sala. Nos quartos, camas baixas, chamadas futton, com estrutura toda de madeira, sem nenhum prego, sustentadas somente por encaixes, conhecidos por sambladuras. Os pés de chá na varanda dão um toque bucólico à paisagem, que poderia ser de um filme do cineasta japonês Akira Kurosawa. Mas o cenário é bem brasileiro, mais precisamente das cidades de Registro e Iguape, no Vale do Ribeira, no litoral paulista.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovou, em junho deste ano, o tombamento de catorze bens culturais na região, que compõem parte da história da colonização de imigrantes japoneses no Brasil. "O reconhecimento desses bens de cultura japonesa no Vale do Ribeira vem de um projeto maior do Iphan para tratar da imigração no Brasil. Isso mostra a diversidade étnica e cultural que o nosso país possui", explica Flávia Nascimento, historiadora do Instituto.

A população de descendentes japoneses no Brasil é estimada em 1,5 milhão de pessoas, sendo a maior comunidade de japoneses fora do Japão, segundo o Centro de Estudos Nipo-Brasileiros. Dados divulgados durante a comemoração do centenário de imigração, em 2008, mostram que 75% dos descendentes estão concentrados no estado de São Paulo, com 40% destes somente na Grande São Paulo.

Com um sotaque carregado de quem passou a maior parte da vida falando japonês, embora tenha nascido no Brasil, Rubens Shimizu, membro da Associação de cultura nipo-brasileira de Registro, conta que é neto de um issei, como são chamados os imigrantes japoneses de primeira geração, e pertence à terceira geração dos imigrantes que se fixaram na região do Vale do Ribeira. Ele considera importante preservar o legado deixado por seus ancestrais, "para que possamos contar nossa história para nossos filhos e netos, assim como para aqueles que vêm nos visitar, e é também uma homenagem aos nossos antepassados".

Diferente dos imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil em 1908, a comunidade que se estabeleceu em Iguape - mais tarde dividida entre duas outras cidades: Registro e Sete Barras - atracou no porto de Santos apenas em 1913, para colonizar a região do Vale do Ribeira. Isso porque houve um acordo firmado entre o governo do estado de São Paulo e o Sindicato Tóquio, entidade japonesa.

O compromisso brasileiro foi doar vasta extensão de terra no Vale do Ribeira, além de isenção fiscal. Em contrapartida, a instituição japonesa deveria introduzir duas mil famílias na região, em um período de quatro anos. O contrato foi repassado pelo Sindicato para a Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha (também chamada de Kaiko) - empresa de beneficiamento de arroz que construiria uma sede em Registro para empregar os imigrantes.

Desde então, os japoneses que se estabeleceram na região nunca mais saíram. Trouxeram na bagagem sua cultura, cujos reflexos podem ser encontrados não só na arquitetura, como também nos costumes e tradições das cidades da região.

O Toro nagashi, por exemplo, é uma celebração realizada no segundo dia de novembro, para homenagear a alma dos antepassados e entes queridos. O culto ecumênico é marcado pela tradição de soltar barquinhos à vela no rio Ribeira de Iguape. Existem também práticas diárias de ginásticas matinais, judô, danças típicas e o uso do taiko, o tradicional bumbo japonês.

Flávia destaca a importância de preservar essa paisagem e cultura, para os japoneses da região, mas também para todos os brasileiros: "esses bens que foram tombados representam o esforço do imigrante brasileiro de adaptação ao território nacional. Sua arquitetura é uma mistura das técnicas construtivas brasileiras e orientais, um encontro de duas culturas".

Entre os bens tombados (ver Box) estão residências, a fábrica de arroz KKK, fábricas de chá, igrejas - muitos japoneses foram catequizados depois do contato com portugueses que mantiveram um fluxo contínuo para o país oriental, a partir de 1543 -, e, inclusive os primeiros pés de chá Assam, mais conhecido por chá preto no Brasil.

As colinas suaves do município de Registro, que em algumas estações do ano ficam cheias de verde, ofereceram boas condições para o plantio de chá. Assim, a mata foi substituída pelos chazais, marcando a paisagem da região. Outro produto típico que os descendentes exploraram nas várzeas do rio Ribeira do Iguape foi o junco, usado para produzir as famosas esteiras e chinelos de fibra natural.

O plantio do chá assam no Brasil teve início em 1935, quando Torazo Okamoto, imigrante japonês estabelecido na colônia de Registro, introduziu em suas terras essa variedade, de origem indiana, que apresenta folhas mais largas sendo, portanto, mais produtiva e de maior qualidade. A colônia de Registro tornou-se, na época, a maior produtora e exportadora desse chá no país.

Dispostas em cinco fileiras acompanhando o declive do terreno, em colina suave situada próxima à Fábrica de Chá Ribeira, as 65 mudas de chá trazidas por Okamoto foram preservadas pela sua família e hoje são um bem tombado pelo Iphan. Atualmente, o cultivo de chá não é mais a atividade principal dos japoneses de Registro e Iguape. As cidades tornaram-se centros comerciais da região e a plantação de bananas tomou conta do que antes era coberto por chazais.

Os japoneses trouxeram também diferentes técnicas de carpintaria e instrumentação, que utilizaram na construção de edificações. Os ambientes internos de suas casas eram mais simples, poucas divisórias e poucos móveis. Destaca-se a estrutura de madeira aparente, sempre fixada por encaixes. Com o tempo, alguns costumes ocidentais foram incorporados, como por o exemplo o mobiliário e o uso de sapatos dentro das residências.

O Vale do Ribeira é a região mais pobre do estado de São Paulo e o tombamento desses bens pode trazer, entre outros benefícios, o aumento do turismo nessas cidades, avalia Flávia. "A região possui extensa área de Mata Atlântica que também deve ser preservada. Temos a intenção de chancelar o Vale do Ribeira como paisagem cultural do Brasil. Todas essas iniciativas buscam dar um maior reconhecimento àquela região", argumenta a pesquisadora. O próximo passo, acrescenta Flávia, é estabelecer metas de restauração e preservação para os bens tombados, para os próximos cinco anos, a exemplo do que foi feito com as cidades históricas de Minas Gerais.

No ano de 2013, os descendentes de japoneses das cidades de Registro e Iguape comemorarão o seu centenário de imigração. As mais de 2.600 famílias de japoneses que vivem no Vale do Ribeira prometem uma grande celebração, regada a chá Assam, e ao som dos taikos.

Edifica ções fabris e administrativas
■ Sede da Kaigai Kabushiki Kaisha - KKKK (Registro - Colônia Registro)
■ Fábrica de Chá Shimabukuro (Registro - Colônia Registro)
■ Fábrica de Chá Amaya (Registro - Colônia Registro)
■ Fábrica de Chá Kawagiri (Registro - Colônia Registro)
■ Fábrica de Chá e Residência Shimizu (Registro ? Colônia Registro)
■ Engenho, Sede Social e Residência Colônia Katsura (Iguape ? Colônia Katsura)

Edifica ções residenciais
■ Residência Fukasawa (Registro - Colônia Registro)
■ Residência Gozo Okiyama (Registro - Colônia Registro)
■ Residência Sra. Susu Okiyama (Registro - Colônia Registro)
■ Residência Família Hokugawa (Registro - Colônia Registro)
■ Residência Família Amaya (Registro - Colônia Registro)

Edifica ções religiosas
■ Igreja Episcopal Anglicana (Registro - Colônia Registro)
■ Igreja de São Francisco Xavier (Registro - Colônia Registro) Patri mônio paisa gístico
■ Primeiras Mudas de Chá da Variedade Assam (Registro - Colônia Registro)

 
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