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Pela igualdade racial

2010 . Ano 7 . Edição 60 - 28/05/2010

Pela igualdade racial

Viviane Pereira Nunes - do Rio de Janeiro

Catálogo de projetos que promovem melhores condições de vida para população negra registra mais de 300 iniciativas, algumas com mais de 50 anos de existência



A escravidão foi abolida há 112 anos no Brasil, mas até hoje as políticas públicas de promoção da igualdade racial não eliminaram o problema da desigualdade no acesso a oportunidades iguais para todos os cidadãos brasileiros. A sociedade civil e população em geral, entretanto, não ficou impassível diante deste quadro. É o que mostram os 75 projetos de luta por melhores condições de vida para a população negra inscritos no Prêmio Igualdade Racial, entregue pela primeira vez este ano pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e pela ONG Criar Brasil.

A mobilização nacional contra o racismo também fica evidente em 300 iniciativas registradas nas quatro regiões do país em um catálogo lançado durante a entrega do prêmio em março, no Rio de Janeiro. Algumas destas atividades têm mais de 50 anos de existência.

"O principal ponto é que essas iniciativas já vêm de longa data. E os caminhos que seguem são os mesmos: a educação, a questão da cultura, das raízes, que são fundamentais para compor a identidade de uma pessoa", avalia a assistente social Lúcia Maria Xavier, jurada do prêmio.

O ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, entregou o prêmio aos cinco projetos finalistas, e comemorou o fato de o governo estar finalmente reconhecendo que a desigualdade racial existe, e promovendo ações para combatê-la, como a política de cotas nas universidades públicas e no ProUni, programa do governo federal que oferece bolsas de estudo em universidades particulares.

"Hoje, o Brasil finalmente acordou para aquilo que não foi feito no século XIX e está fazendo no século XXI, que é instituir políticas públicas para a inclusão do negro", disse o ministro, acrescentando que devemos "convencer a sociedade brasileira da importância de todas as iniciativas que visam a igualdade racial".

Os cinco finalistas receberam prêmios em dinheiro, e os premiados foram temas de cinco programas especiais de rádio e de um DVD multimídia.


Prêmio Igualdade Racial

1º LUGAR: ORIINU - A CABEÇA DE DENTRO (PORTO ALEGRE) O vencedor do primeiro Prêmio Igualdade Racial foi o projeto realizado pela Comunidade Terreira Ilê Axé Yemonjá Omi Olodô há sete anos na Vila São José, no bairro Partenon, um dos bolsões de pobreza de Porto Alegre. Este promove diferentes atividades com crianças, jovens e adultos que visam divulgar e fortalecer a cultura afrodescendente, por meio da vivência da religião e buscando soluções para a vida intelectual e profissional dos participantes. Mais de 500 pessoas já foram beneficiadas pelas atividades pedagógicas, de formação profissional e promoção da cidadania do projeto. Uma destas atuações foi para o desenvolvimento de um núcleo de moda étnica com mulheres da comunidade. O terreiro também promove a assistência social e a distribuição de cestas básicas, por meio de parcerias com órgãos públicos.

"Este projeto é o nosso filho, o nosso sonho. Por mais que os terreiros sejam espaços milenares, queríamos levar a cultura afro para mais pessoas, criar uma alternativa em uma sociedade racista, branca e intolerante. Nossa ideia é de continuidade, por isso temos atividades que visam muito a criança e o adolescente, em formação", diz Bábà Diba de Iyemonjà, líder espiritual desta comunidade.

2º LUGAR: CENTRO AP LICADO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MULTIÉTNICA - CAPEM - (DUQUE DE CAXIAS, RJ) Como grande parte das iniciativas de inclusão social inscritas no Prêmio Igualdade Racial, o Capem nasceu a partir de um curso pré-vestibular comunitário, em 1994, mas se expandiu rapidamente. Hoje, cerca de 400 pessoas que tiveram aulas neste sobrado já ingressaram em universidades públicas e uma parte delas voltou para dar aulas e oferecer oportunidade a novos alunos. A associação também conseguiu reunir uma biblioteca de três mil títulos, na qual crianças têm a oportunidade de fazer leituras que discutem a questão racial. Além disso, o tema é tratado em grupos de debate. Promove ainda o grafite como fonte de renda e a alfabetização de jovens e adultos. As atividades têm como a população de Duque de Caxias e entorno na Baixada Fluminense (RJ), uma região de baixa renda e com escassos recursos.

"Procuramos trabalhar a questão geográfica, mostrando às pessoas que elas podem contribuir para melhorar as condições de vida no local onde moram. Que elas não devem simplesmente pensar em melhorar e ir embora", diz Giane Campos, coordenadora do centro.

3º LUGAR: ASSOCIAÇÃO CULTURAL CHAPADA DOS NEGROS (ARRAIAS - TO) "Quando eu conheci a capoeira, conheci minha verdadeira identidade. E pensei, vou levar essa mensagem para o pessoal de Arraias", conta Mestre Fumaça, que criou a associação em 1985. Segundo ele, até então, ele sentia vergonha de ser negro, não se identificava com suas raízes. Hoje, ele e sua família vivem dia e noite para o projeto que divulga a força dessa tradição esportiva e cultural trazida com os negros da África. A ACCN está localizada em Arraias, interior de Tocantins, uma cidade histórica de quase 270 anos, construída pelas mãos fortes e sofridas dos escravos africanos. O projeto já levou a capoeira para outros dez municípios de Tocantins e norte de Goiás, incluindo três comunidades quilombolas rurais.

4º LUGAR: FAMÍLIA ALCÂNTARA CORAL (JOÃO MONLEVADE, MG) O projeto Família Alcântara Coral surgiu na década de 60, quando uma família de descendentes do quilombo de Caxambu, no interior de Minas Gerais, resolveu formar um coral para mostrar a musicalidade dos antepassados africanos. Foi Pedro, um dos filhos da matriarca Vó Mena, quem teve a ideia. O coral conta com parcerias locais como a prefeitura da cidade, Fundação Casa da Cultura e empresas. Atualmente tem 45 integrantes entre irmãos, agregados e filhos, que já fizeram diversas apresentações em cidades brasileiras, como São Paulo e Rio de Janeiro, e também na Europa.

"A música foi uma forma que encontrei para ficarmos juntos. Nós dividimos o que temos com o coral, com o teatro e com o congado", explica Pedro de Alcântara, que toca hoje o projeto com as irmãs Ivone e Cassemira, que promovem oficinas de música, teatro e congado.

5º LUGAR: PRÉ-VESTIBULAR QUILOMBOLA (VITÓRIA DA CONQUISTA, BA) Os 60 alunos quilombolas que freqüentam o curso Pré-Vestibular de Vitória da Conquista não aprendem apenas as disciplinas que caem no vestibular. Além do vasto conteúdo das matérias obrigatórias, os jovens se engajam na comunidade, se reconhecem como quilombolas, elevando a auto-estima. O projeto, que tem um ano de existência, é fruto da organização do Conselho Regional Quilombola e da luta pelas cotas adicionais na UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia). Todos os professores são voluntários e cumprem um cronograma e horário de aulas adequado à realidade dos jovens, com aulas pela manhã para valorizar a permanência em sua comunidade rural.

"Dentro do cursinho estamos formando uma comunidade de jovens, para discutir as questões dos quilombolas", conta a professora Maria do Alívio Trindade, coordenadora do pré-vestibular.

De acordo Lucia Maria, que coordena hoje a organização para mulheres negras Criola, além de fazer parte do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Social, durante a seleção dos projetos foi dado destaque especial para o empreendedorismo local. "Essas iniciativas mostram o quanto a sociedade se beneficia da cultura afro-brasileira, o quanto ela tem a contribuir de uma forma geral para o patrimônio público", acrescentou Lúcia Maria.

Já o presidente da ONG Criar Brasil, João Paulo Malerba, conta que a qualidade dos projetos inscritos no prêmio impressionou, assim como a grande quantidade de iniciativas promovidas em áreas longe dos centros urbanos. Ele explica que o objetivo do evento é auxiliar na replicação de iniciativas que promovam uma cultura não discriminatória, por meio de atividades que assegurem à população o exercício pleno de cidadania, independente de sua cor e raça.

"O objetivo não é só premiar estes projetos, mas divulgá-los, por isso produzimos um catálogo. Queremos que mais pessoas saibam destas iniciativas e as transformem em sementes", afirmou Malerba.

 
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