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História - Petróleo

2010 . Ano 7 . Edição 59 - 29/03/2010

Petróleo: da crise aos carros flex

Em declarações recentes à imprensa, o ex-ministro Delfim Netto tem enfatizado que as perspectivas de agravamento do endividamento externo brasileiro não vão desviar o país da rota do crescimento nos próximos anos, porque os dólares do petróleo da camada pré-sal começarão a jorrar a partir de 2015, equilibrando as transações correntes e garantindo capacidade energética para a sustentação de uma expansão vigorosa. O economista conhece bem os impactos positivos do ouro negro sobre qualquer economia. Ele também sabe que incertezas na atividade petrolífera podem ser desastrosas. Como superministro da Fazenda do regime militar na época do milagre econômico, Delfim presenciou os primeiros impactos da crise mundial do petróleo em 1973.

No início da década de 1970, os principais países produtores do Oriente Médio, como Arábia Saudita, Irã, Iraque e Kuwait começam a regular as exportações do óleo às nações consumidoras. Mas o choque vem mesmo em 1973, por motivações políticas. Literalmente, o petróleo árabe vira arma contra o mundo ocidental, principalmente os Estados Unidos e países europeus que declararam apoio a Israel na Guerra do Yom Kippur (Dia do Perdão) contra Egito e Síria. As retaliações causam pânico global: em 16 de outubro, as vendas para os EUA, maiores importadores mundiais, e para a Europa são embargadas; a produção sofre firme redução em tempos de alta demanda, forçando o preço do barril a subir cerca de 400% em três meses, de US$ 2,90, em outubro de 1973, para US$ 11,65, em janeiro do ano seguinte. O governo norte-americano lança mão de controle sobre a oferta da gasolina vendida no país. Cenas de motoristas em longas filas ilustram dramaticamente a extensão do problema. "Ninguém está mais profundamente consciente do que está em jogo: o petróleo e nossa posição estratégica", declarou o presidente Richard Nixon, no dia do anúncio do embargo, que durou até março de 1974.

Os países ricos são obrigados a reduzir os gastos públicos e as importações de petróleo, além de elevar suas taxas de câmbio de modo a preservar suas contas externas e buscar outras formas de geração de energia. Temendo desemprego e bagunça generalizada no setor produtivo, o Brasil mantém as compras do óleo a preços altíssimos, tenta estimular exportações de bens manufaturados e investe pesadamente em projetos de produção de álcool, como alternativa de combustível à caríssima gasolina. Nos anos seguintes, o endividamento brasileiro começa a subir, e o nível de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) se sustenta no campo positivo, embora em patamares bem inferiores à média de 9% registrada durante os anos do milagre econômico, entre 1967 e o fim de 1973.

O susto do choque do petróleo e os baixos preços do açúcar no mercado internacional desembocam no Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool), idealizado pelo físico José Walter Bautista Vidal e pelo engenheiro Urbano Ernesto Stumpf. A política governamental é estabelecida em 14 de novembro de 1975 por meio do decreto 76.593. O país passa a ampliar a produção da matéria-prima e a converter carros a gasolina em veículos alimentados pelo combustível vegetal. Em 1979 há um novo choque. A paralisação da produção petrolífera do Irã, consequência da Revolução Islâmica liderada pelo aiatolá Khomeini, provoca a segunda crise do petróleo. O preço médio do barril explode, chegando a US$ 40. A nova crise é apenas parcialmente amortecida pelo Pró-Álcool, tecnologia genuinamente brasileira.

As nações desenvolvidas realizam movimentos de altas generalizadas de suas taxas de juros, medida que favorece fugas dos investidores que vinham apostando em retornos elevados de aplicações no Brasil. O país vê sua dívida inchar insustentavelmente. Os preços do petróleo permanecem elevados até 1986, quando se reestabilizam e colocam em cheque a eficiência do Pró-Álcool. Com os preços do petróleo mais comportados, o combustível vegetal se torna um negócio desfavorável, tanto para o motorista quanto para o produtor. Além disso, os usineiros brasileiros se aproveitam do aumento da cotação do açúcar no mercado internacional e deixam de lado a produção do álcool, menos rentável. Nas bombas, motoristas começam a ter dor de cabeça para encher o tanque. O golpe de misericórdia no PróÁlcool vem no fim dos anos 1980, quando as montadoras desistem de produzir carros novos movidos a etanol.

A volta por cima do combustível vegetal ocorre nos anos 1990, quando o Brasil importa a tecnologia do carro bicombustível (flex fuel), desenvolvida com pioneirismo nos EUA como demanda ambiental. Os primeiros veículos começam a ser vendidos em 2003. O sucesso é imediato. Todas as montadoras passam a fabricar automóveis movidos a etanol e a gasolina e o cultivo de cana-de-açúcar apresenta crescimento expressivo em quase todo o país, se tornando, inclusive, motivo de incômodo para ambientalistas por causa do avanço das plantações em território amazônico. Em 2009, a comercialização de carros flex atinge o pico de 2,652 milhões de unidades, 92,3% do total de automóveis vendidos no período, conforme balanço da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Entretanto, o alto consumo de etanol não livra o álcool de ficar sujeito a especulações e variações de preço. Nos dois últimos meses, com a alta do preço do açúcar no mercado internacional, os usineiros reduziram a quantidade de cana destinada à produção de combustível, e dão preferência à produção de açúcar. Com isso, pela primeira vez em muitos anos, os brasileiros viram a diferença entre os preços do álcool e da gasolina se reduzir significativamente, e voltam a abastecer seus veículos com gasolina, cujas vendas sobem, por conta da melhor relação entre litros consumidos e quilômetros percorridos oferecida pelo combustível fóssil.

Ciente da consolidação do etanol no mercado doméstico, das perspectivas favoráveis ao produto brasileiro no comércio internacional - recentemente, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA reconheceu que o etanol ajuda a reduzir "substancialmente" as emissões de gases de efeito estufa - e, sobretudo, do papel do Brasil como potência petrolífera por causa do pré-sal, o decano economista Delfim Netto, que também é membro do Conselho de Orientação do Ipea, reúne argumentos suficientes para afirmar que o petróleo terá papel fundamental na sustentação da expansão da atividade econômica brasileira e também no enfrentamento de futuras crises energéticas.

 
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