2009 . Ano 7 . Edição 55 - 17/11/2009
Economia brasileira supera fase de recessão e inicia novo ciclo de crescimento. Mas indústria ainda está com capacidade ociosa e deve retomar lentamente os investimentos
A Carta de Conjuntura de setembro confirma, a partir da análise dos dados macroeconômicos, os indícios de que a economia brasileira reagiu bem à crise econômica. "A economia brasileira atravessa um período de absoluta tranquilidade em vista da dimensão da crise internacional", resumiu o coordenador do Grupo de Análise e Previsões (GAP) do Ipea, Roberto Messenberg, durante a divulgação da publicação, na companhia do diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto, João Sicsú.
"Tivemos um colapso da taxa de investimento do terceiro para o quarto trimestre de 2008, o que fez a produção industrial despencar. A crise do ponto de vista doméstico é da indústria. A economia se segura pelo serviço, pela demanda, pelas exportações", afirmou Messenberg. Com crescimento já no segundo trimestre de 2009, a economia saiu da classificação técnica de recessão - dois trimestres de crescimento negativo, no caso, o último trimestre de 2008 e primeiro trimestre de 2009. "A recessão teve duração mínima, sendo que a economia já apresenta sinais do começo de um novo ciclo de crescimento", diz a publicação.
O ciclo de crescimento iniciado em 2005, segundo o Ipea, foi sustentado pelo crescimento da demanda interna, "liderado pelo bom desempenho do consumo e, principalmente, do investimento". Ao mesmo tempo, teve a contribuição do "ambiente externo extremamente favorável, com fartura de liquidez internacional e demanda mundial crescente", que possibilitou a obtenção de seguidos superávits na balança comercial. O País cresceu, manteve a inflação baixa, reduziu a dívida externa, acumulou reservas, reduziu a vulnerabilidade externa e seu risco. A boa fase foi interrompida no terceiro trimestre do ano passado pela crise financeira dos Estados Unidos, que contaminou todos os países.
Graças às medidas anticíclicas adotadas pelo governo, o Brasil saiu rapidamente da crise. Com o reaquecimento da economia e câmbio apreciado, segundo o Ipea, a contribuição das exportações líquidas para o crescimento do PIB deve sofrer alteração. A Carta de Conjuntura aponta ainda que o nível de utilização da capacidade produtiva ainda se encontra num patamar reduzido, e, por isso, a recuperação do investimento da indústria deverá acontecer de maneira mais lenta. "O nível de ociosidade atual do parque industrial proporciona aos empresários uma margem de segurança confortável para atender a uma possível aceleração da demanda", diz a publicação.
O desempenho da economia no decorrer do segundo semestre de 2009 deve ser influenciado pelo consumo das famílias, crescimento da massa salarial, recuperação no mercado de crédito e do mercado de trabalho. O emprego vem crescendo em quase todos os setores. A indústria agora também começou a contratar. Em menor grau, a melhora da demanda internacional deve refletir no setor exportador: "Além da China, que continuará importando commodities, alguns países desenvolvidos já dão sinais de que podem estar iniciando uma recuperação, o que pode implicar uma melhora nas exportações de produtos manufaturados".
João Sicsú destacou que as finanças públicas estão controladas, mesmo com o aumento dos gastos do governo para enfrentar a crise: "Nossas receitas caíram em relação a 2008, mas era esperado, na medida em que em 2009 o crescimento seria menor. Mas nosso déficit nominal acumulado é da ordem de 3%, o que é confortável, em vista das medidas anticíclicas tomadas pelo governo." A análise da conjuntura indica que o PIB crescerá entre 0,2% e 1,2%, neste ano, conforme prevê o Ipea. "Mas estamos agora muito mais próximos de 1,2%", frisou Sicsú.
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