2009 . Ano 6 . Edição 50 - 21/05/2009
Por Pedro Henrique Barreto, de Brasília
Por meio de cooperativa, famílias de baixa renda conseguem sobreviver com dignidade e recebem prêmio da Caixa Econômica Federal
Na estética, cremes, sabonetes, xampus. Para limpeza, detergentes. Quando o assunto é decoração e moda, artesanatos, brincos, pulseiras. Na cozinha, farinha, azeite, leite, temperos. Muita gente desconhece, mas tudo isso pode ser extraído de um único produto, abundante em regiões do Nordeste brasileiro: o babaçu.
No Maranhão, a Associação em Áreas de Assentamento no Estado (Assema) percebeu o potencial e iniciou um grande processo de organização entre as famílias da região do Médio Mearim. Em 2002, foi criada a "Embaixada Babaçu Livre", com o objetivo de estimular e prestar assistência aos pequenos produtores do Estado.
A iniciativa baseou-se na formação de sistemas cooperativistas por oito municípios. Um dos projetos, "Babaçu é Vida", de Itapecuru Mirim, foi um dos vencedores do Prêmio Caixa - Melhores Práticas em Gestão Local 2007/2008. "A embaixada acabou sendo fechada no ano passado por falta de recursos financeiros, mas apenas fisicamente. Todo o trabalho entre famílias e associações continua. A idéia é termos uma comercialização cada vez mais organizada, que não dependa de atravessadores. Temos obtido grandes avanços", conta o presidente da Assema, João Pereira de Souza.
MOEDA Ele explica que o babaçu funciona na região como uma moeda. Há pequenas cantinas em cada comunidade na qual se pode trocar o coco, de onde o babaçu é extraído, por mercadorias como café, açúcar, óleo, calçados, materiais elétricos. As famílias que não querem trocar, vendem o coco. O extrativismo da palmeira de babaçu é hoje a terceira maior força produtiva do Maranhão, atrás da pecuária e da agricultura.
Três grupos do Médio Mearim têm sido os responsáveis por liderar uma rede de 4 mil famílias nessa cadeia produtiva. Em Lago do Junco, estão as cooperativas dos pequenos produtores agroextrativistas (Coppalj); em Esperantinópolis, a Coppaesp; e em Lago do Junco e Lago dos Rodrigues, a Associação das Mulheres Trabalhadoras Rurais (AMTR). Juntas, coordenam uma produção média de 1,5 mil toneladas de amêndoas de babaçu por ano, que tem sido fundamental na valorização do trabalho familiar e garantia de renda no campo maranhense.
A sede da embaixada fechou as portas, mas a bandeira "Babaçu Livre" segue sendo o lema do trabalho diário na região. Diversas organizações estão se fortalecendo a partir desse tipo de produção alternativa, como o Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB). Hoje, é também um espaço para discussões políticas e de valorização à mulher em todo o Nordeste brasileiro.
A partir do coco, as famílias produzem óleo vegetal, sabonete, carvão vegetal, farinha de babaçu. Produzem também produtos orgânicos, como arroz, milho e feijão. Além disso, o lenho é usado como esteio para construção de casas e as folhas da planta como cobertura e material para confecção de portas e janelas, bastante resistentes às chuvas. As cooperativas, com assessoria da Assema, também têm contrato com a Conab: parte do produto é distribuída na merenda das escolas da região, já há três anos.
A qualidade do babaçu acabou chamando a atenção de outros países. As cooperativas de Lago do Junco, por exemplo, exportam o produto há mais de dez anos, uma média de 60 toneladas anuais. Os compradores são empresas de cosméticos dos Estados Unidos, Inglaterra e, mais recentemente, Itália e Alemanha. Para os próximos anos, já há contratos fechados com esses países. A americana Body Shop, uma das maiores empresas de cosméticos do mundo, é uma das que adquirem regularmente o babaçu da região.
O diretor financeiro da Assema, Raimundo Ermino, conta que a associação vem participando de feiras internacionais nos últimos anos e dando visibilidade ao "tesouro" das famílias maranhenses. "As exportações vem crescendo e temos a perspectiva de novos compradores na Europa. É de extrema importância porque valoriza o esforço das comunidades rurais e estimula a produção do babaçu aqui na região", diz. Em 2008, 58% da produção total das cooperativas coordenadas pela Assema foram para exportação. Em 2009, a meta é chegar a 60%.
Ermino explica que o próximo passo da Assema é recuperar a embaixada e criar redes de comercialização e apoio à produção que se estendam a outras regiões do Maranhão. "Batalhamos desde a década de 1990 para conseguir um preço justo para o babaçu. Nossa grande missão é conseguir políticas públicas de proteção, que consigam manter as famílias na terra, incentivá-las e que também possam tornar os babaçuais pontos turísticos da região. Há desafios grandes, mas estamos prontos para superá-los e fazer com que essa cadeia de produção seja um modelo para todo o País", acrescenta.
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