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Eles também precisam de ajuda - - Instituição pernambucana orienta e apóia a paternidade na adolescência

2006. Ano 3 . Edição 19 - 7/2/2006

Instituição criada no Recife apóia e orienta rapazes que se tornam pais na adolescência ajudando-os a conviver com a nova realidade e a compreender os desafios e as realizações da paternidade

Por Goretti Soares, do Recife

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A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a adolescência como o período entre os 10 e os 20 anos de idade.No Brasil,o último censo, realizado em 2000,mostra que 21% da população é formada por adolescentes e 62% deles estão na classe C. Essa também é a parcela na qual mais ocorre a gravidez precoce. A baixa renda, a escolaridade precária, a falta de acesso à informação e aos serviços públicos de saúde contribuem para que, a cada ano, seja maior o número de mulheres de 10 a 19 anos que estão tendo filhos.A situação muda com os adolescentes de maior escolaridade.Nesses casos, é nítido o aumento dos índices de uso dos métodos anticonceptivos e até o retardo do início da prática sexual.De acordo com o Ministério da Saúde,23% das mães brasileiras são adolescentes.Em todas as pesquisas, não faltam dados relativos às mulheres e às implicações da maternidade precoce.O mesmo,porém,não ocorre com os rapazes.Para cada mãe adolescente,existe um pai, que tem, em média, dois ou três anos a mais que ela - portanto, uma grande parcela é formada por pais também adolescentes ou jovens pais adultos.

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Para eles,que também passam por um momento dramático ao se descobrirem pais, existe em geral a ausência de programas e serviços.Quase nunca se investigam a participação, o desejo e a responsabilidade do homem no processo de concepção. As instituições não acolhem os homens que se tornam pais precocemente. Sozinhos, eles enfrentam o duro dilema entre fugir e assumir a paternidade.E,quando não ignoram os filhos, encontram falta de apoio e muitas dificuldades.Essa realidade foi confirmada em pesquisas de pós-graduação em Psicologia Social que os psicólogos Benedito Medrado e Jorge Lyra desenvolveram na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.As constatações inspiraram os estudiosos a criar,no Recife, o Instituto Papai, uma organização não-governamental que desenvolve pesquisas e trabalhos práticos voltados para homens nos campos reprodutivo, da saúde e dos direitos sexuais. Jorge Lyra diz que há negligência da sociedade em relação à participação do jovem pai na vida reprodutiva."Não se pergunta a ele sobre o desejo de ser pai nem lhe é facultado o acesso à informação sobre direitos e compromissos da paternidade.O trabalho do Papai é para que a sociedade deixe de restringir a figura paterna ao reconhecimento dos filhos e à figura do provedor financeiro."

Masculista Foi em 1996 que Lyra e Medrado elaboraram o projeto "Paternidade adolescente:construindo um lugar".O trabalho, que recebeu o apoio da instituição norte-americana Fundação MacArthur, previa a construção de um espaço para a paternidade na adolescência e a sensibilização de profissionais que atuam com jovens.Um ano depois, foi fundado o Programa de Apoio ao Pai (Papai), que ficou conhecido como Instituto Papai.Pioneiro no Brasil e na América Latina, o trabalho já foi replicado em outras localidades, como na cidade paulista de Diadema, e surtiu um grande efeito na redução da violência. Como indica a própria sigla, o Papai nasceu com o foco para a paternidade, mas,aos poucos, as atividades foram sendo ampliadas e hoje o programa atua em três núcleos: direitos reprodutivos, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e Aids, além de violência de gênero. Em todos os segmentos, o alvo principal é o homem e os temas da masculinidade.Os fundadores fazem questão de destacar que não se trata de promover um movimento "masculista", em confronto com o feminista. Ao contrário, o objetivo é unir esforços para criar um ambiente melhor e mais harmônico para ambos os sexos.A equipe, formada por homens e mulheres ligados às áreas de ciências humanas e sociais, desenvolve pesquisas sobre masculinidade e atividades com rapazes adolescentes no Recife, contando com o apoio voluntário de jovens multiplicadores de informação. O instituto atua conjuntamente com entidades nacionais e internacionais, além de instituições de ensino e pesquisa e órgãos governamentais.Com base no referencial feminista e de gênero, promove atividades de intervenção social com os homens, tomando como ambiente de ação comunidades do Recife.

Envolvimento Uma das rotinas repetidas semanalmente por um grupo de técnicos do Papai é a visita ao Centro de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam).A instituição não foi escolhida ao acaso,ela é a maior maternidade de Pernambuco, em termos de atendimentos, e é referência no estado em relação à assistência a gestantes de alto risco.Mais do que isso, o Cisam é considerado um dos melhores serviços públicos de assistência à mulher.E é justamente nesse ambiente dedicado às mães que o Papai realiza um importante trabalho de apoio aos rapazes.

Durante duas horas, jovens pais que acompanham as parceiras no pré-natal participam de oficinas temáticas.O objetivo é estimular um maior envolvimento nas questões relativas à saúde sexual e reprodutiva. Através de palestras,os participantes são convidados a refletir sobre suas práticas e comportamento diante do filho que está para chegar."O importante é estimular a participação do pai em todos os momentos",diz Luciana Souza Leão,coordenadora do núcleo Paternidade e Adolescência." A idéia é que os futuros pais entendam que essas atitudes são instrumento de benefício não apenas para as mulheres e as crianças,mas para eles mesmos e para toda a sociedade", reforça ela, que considera os resultados animadores."Os jovens se mostram muito interessados nas oficinas relativas a concepção e contracepção. E geralmente se surpreendem com as informações. Eles nunca esperam encontrar, num serviço voltado para mulheres, atividades direcionadas aos homens." O rendimento do trabalho,de acordo com Leão, é mais qualitativo do que quantitativo. Em 2005, foram realizadas 28 dessas oficinas com a participação de 135 homens - um percentual pequeno,de pouco mais de três homens em cada encontro.A equipe sabe que está lidando com problemas sociais complexos que causam a resistência da participação masculina,mas se entusiasma com os efeitos na vida dos participantes, que muitas vezes sugerem os temas a serem discutidos e colaboram ativamente nos debates."Nós trabalhamos para que esses adolescentes se conscientizem de que o papel do pai não significa apenas o provimento material do filho ou da família,mas que seja visto como um direito, um desejo e um compromisso do homem.E que o provimento também seja afetivo", conclui ela.

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Outro foco da atividade é promover a inserção dos homens no serviço público de saúde. Levantamento do próprio Cisam mostra que os homens só procuram auxílio médico no campo curativo. Por isso, o Papai também trabalha na capacitação dos profissionais de saúde que convivem diariamente com os jovens pais, para que incentivem neles os cuidados relativos à própria saúde.A resistência em buscar as unidades de saúde, a falta de programas preventivos direcionados a eles e a desinformação são objeto de estudo do núcleo Sexualidade e Sociedade/Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e Aids. Para quebrar essas barreiras, um grupo de 15 jovens multiplicadores visita casas na comunidade de Alberto Maia, em Camaragibe, região metropolitana do Recife.Eles distribuem preservativos e realizam conversas informais com os homens sobre os cuidados com as doenças sexualmente transmissíveis, e as formas de evitar a gravidez indesejada e o comportamento considerado "masculino" de auto-suficiência em relação à saúde.Na comunidade também estão instalados pontos fixos de distribuição de preservativos."Nós não queremos em nenhum momento substituir o trabalho do estado no controle de DST/Aids e contracepção.Queremos apenas colaborar, chegando aos homens,onde eles estão.Sabemos que são eles os mais resistentes a procurar os serviços de saúde,porém,por outro lado,as unidades de saúde também não estão preparadas para recebê-los.Nós queremos contribuir para que isso mude", diz Maristela Morais, diretora executiva do Papai. E ela aponta os bons resultados.Em cinco anos de trabalho nessa comunidade, foram identificados aumentos na freqüência de homens nos postos de saúde do município, na procura de preservativos e o mais comemorado: através da solicitação dos homens, os postos fixos aumentaram ano a ano."Não temos como definir esses resultados em números expressivos,porque eles se confundem com os levantamentos realizados pela Secretaria de Saúde do Município de Camaragibe, mas essas constatações nos dão a certeza do valor qualitativo do nosso trabalho", reforça a coordenadora Leão.

Incompreendido José Ricardo Claudino Costa sentiu na pele o despreparo das instituições de saúde com os homens. Há quase dez anos acompanhando as atividades do Papai,ele se preparou com ansiedade para rebecer o primeiro filho.Mas percebeu as dificuldades ainda no pré-natal da esposa.A gravidez era de risco e o pai só foi autorizado a acompanhar as visitas médicas no começo."Os médicos alegavam que minha presença poderia atrapalhar o estado de saúde dela", queixa-se Costa.A chegada do filho trouxe a frustração maior. Ele foi impedido de assistir ao parto."Isso foi o que mais me deixou triste.Eu me preparei tantos anos,queria ter visto meu filho nascer, acho que era um direito meu.Mas só pude olhar para ele no dia seguinte.Os hospitais não estão preparados para entender que os pais também querem participar. Disseram que eu poderia desmaiar e aí eles iam ter de cuidar de duas pessoas.Pode até ser,mas,se houvesse uma preparação antes, isso seria diferente,não é? Eu fiquei mesmo chateado."A mágoa de Costa faz sentido. Aos 17 anos ele conheceu o trabalho do Papai.Na época,vivia como a maioria dos jovens de subúrbio do Grande Recife.Vida sexual irregular e com os mesmos riscos de chegar a uma gravidez indesejada ou,pior ainda,de contrair uma doença grave.Só por sorte isso não aconteceu.Em pouco tempo, ele se tornou um dos agentes multiplicadores do instituto."Eu passei a ter mais precaução e a orientar meus colegas sobre o uso da camisinha e os cuidados que um homem deve ter", diz com orgulho. A prevenção funcionou e o primeiro filho só veio aos 26 anos."Aprendi a cuidar do meu filho e gosto de dar banho, dar comida e acordar à noite junto com minha mulher.Mas as pessoas acham isso estranho.Uma vez fui ao posto de saúde para vacinar meu filho e as mulheres que estavam lá ficaram ignorando eu ter trazido a criança.Eu era o único pai na fila e fiz questão de dizer que homem também pode cuidar de uma criança."

A história de Costa mostra o quanto um homem pode ser amoroso na sua relação com a mulher e com o filho, mas nem sempre a realidade é essa.Como se sabe,muitas vezes os homens abusam da força física e agridem as companheiras.No bairro da Várzea,na zona oeste do Recife, um grupo formado por sete jovens rapazes entre 15 e 22 anos é responsável por uma das importantes ações do Papai, relativa à violência contra as mulheres.Eles encenam um espetáculo para outros jovens em escolas, instituições sociais e até mesmo nas ruas.Através de um sonho,um rapaz conversa com os próprios pensamentos sobre as atitudes de violência que costuma tomar com as mulheres.Ele corre o risco de perder a mulher que ama porque a agrediu e, enquanto reflete sobre seu comportamento, acaba chegando a várias conclusões.Uma delas é que o homem não é violento por natureza, mas está inserido em um contexto social que considera as atitudes violentas coisas de homem.No final, surge um novo Raimundo,comprometido com a vontade de mudar."Através dessas ações alguns homens não violentos passam a servir de exemplo para os que são autores de violência. O objetivo é identificar durante as discussões por que o homem se torna autor de atos violentos.Nós trabalhamos para que a sociedade entenda que o homem não é violento por natureza,mas por questões sociais", diz Morais, a diretora do Papai.

O instituto também está plenamente engajado com a campanha do Laço Branco, da qual fazem parte o Instituto Promundo, do Rio de Janeiro, o grupo Comunicação em Sexualidade (Ecos), de São Paulo, e a Rede Acreana de Mulheres e Homens.Todas são entidades que trabalham com o objetivo de combater a violência de gênero, que atinge principalmente as mulheres.No caso do Papai, a preocupação se estende também a ajudar o homem autor de atos violentos.Um projeto-piloto conjunto está em andamento nos estados de Pernambuco, Goiás e Santa Catarina. Núcleos acadêmicos trabalham com grupos de homens agressores, realizando acompanhamento psicológico."O objetivo é elaborar um protocolo de atendimento a esses homens que sirva de modelo para todas as instituições de saúde do país", reforça a diretora Morais.

Cooperação Um dos projetos que estão sendo executados pelo Papai tem o apoio do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).Os resultados esperados para ele podem ser o alento para muitos homens, como Costa.Trata-se da capacitação de 20 profissionais do Cisam,onde já é realizada intervenção para a paternidade.Um grupo de trabalho em gênero da Universidade Federal de Pernambuco realiza uma pesquisa com homens que buscam pela vasectomia ou acompanham a mulher em planejamneto familiar, pré-natal, parto e pós-parto e clínica pediátrica.Para sensibilização da comunidade, cerca de 40 jovens estão diretamente envolvidos nas ações.O objetivo é ampliar em 40% o número de atendimentos masculinos no Cisam,em todas as etapas da assistência materno-infantil, e divulgar e inserir esses resultados em outras unidades públicas de atendimento aos homens.Para a doutora Taís Santos,representante auxiliar do UNFPAdo Brasil,o objetivo do projeto é ousado porque vai de encontro a uma prática enraizada em toda a sociedade."É preciso avaliar os resultados do trabalho do Cisam,no Recife,para definir sua extensão a outras instituições no Grande Recife, nacionais e até internacionais. O importante é ter um ponto de partida. E este é um começo."

Saiba mais:

Instituto Papai
www.papai.org.br

 
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