Tão longe, tão perto |
2006. Ano 3 . Edição 20 - 9/3/2006
O Fim da Pobreza - Como acabar com a miséria mundial nos próximos 20 anos Jeffrey D. Sachs Companhia das Letras, 2005 472 p. , R$ 55, 00 Jeffrey Sachs é reconhecidamente um liberal. Mas ele não prega o liberalismo como a solução para todos os males e lugares do mundo. Em seu último livro, O Fim da Pobreza, Sachs não poupa críticas ao FMI, ao Banco Mundial, aos EUA e aos países ricos no que diz respeito à obtenção de regras mais justas no comércio global e à ajuda financeira aos países empobrecidos por dívidas impagáveis e por doenças como a malária e a Aids. O autor não sai em defesa do mercado a qualquer custo nem radicaliza o discurso no sentido oposto. Ele pondera. Suas palavras:" Quando as precondições de infraestrutura básica e de capital humano estão disponíveis, os mercados são poderosas máquinas de desenvolvimento. Sem essas precondições, os mercados podem cruelmente esquecer grandes parcelas da população mundial, deixando-as na pobreza e no sofrimento sem alívio". O economista conhece a pobreza de perto. Ou melhor, as pobrezas. A africana, a latino- americana, a chinesa e a indiana, e também viu parte dos 8 milhões de pessoas que morrem a cada ano no mundo porque são pobres demais para permanecer vivas. Para Sachs, existem países que estão longe de colocar os pés no primeiro degrau da escada do desenvolvimento e nunca conseguirão fazê-lo a não ser que recebam apoio financeiro dos ricos. A ajuda vai desde o perdão da dívida externa até o envio de medicamentos e mantimentos. Bastaria que os países ricos cumprissem o compromisso de destinar 0, 7% de seu PIB à assistência externa. O que ele quer ainda é desmistificar qualquer justificativa de que os países só são pobres porque são corruptos, e seus povos, preguiçosos. E provar que o desenvolvimento econômico não é um jogo de soma zero, em que para um grupo ganhar outro deve perder. No tabuleiro mundial, todos podem vencer. Decididamente não é um pessimista. Acredita, por exemplo, que a pobreza extrema acabará em 2025, já que o desenvolvimento econômico se difunde pelo mundo. O problema é a tal escada, que não dá livre acesso a todos os países. E são as Metas para o Desenvolvimento do Milênio (ODM) a chance de o mundo "comportar- se melhor em relação aos países mais pobres depois de 20 anos de fracasso das políticas de ajuste estrutural". Entretanto, Sachs critica a postura de toda a comunidade internacional, que, segundo ele, é incoerente na prática por nunca se preocupar com a questão operacional e com as condições que devem ser concretizadas para que se atinjam os ODM. Sua análise chega à seguinte imagem: a dificuldade em acabar com a pobreza está em fazer com que pessoas que nunca se encontraram nem confiam umas nas outras passem a cooperar, formando uma ampla rede global. O livro é consistente. As idéias são sensatas. Tudo se encaixa, mas depois de lidas todas as páginas é inevitável a dúvida do "será mesmo possível conseguir tudo isso?" A questão, entretanto, é que as idéias de Sachs parecem ser a única alternativa. Giovana Tiziani |