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Educação de porta em porta - Programa de município paulista ganha prêmio ao pôr o professor dentro da casa do aluno

2008 . Ano 5 . Edição 44 - 08/06/2008

Por Manoel Schindwein, de São Paulo

Vira e mexe, surgem programas mirabolantes que pretendem erradicar de uma vez por todas um grave problema que aflige a nação durante anos a fio. Tudo, claro, ao custo de incontáveis milhões de reais. Não por coincidência, as histórias têm sempre o mesmo final, com as boas idéias indo pelos ares. Em Taboão da Serra, município da região metropolitana de São Paulo, uma iniciativa da Secretaria da Educação foi exatamente no caminho oposto: com a singeleza de quem tem um orçamento reduzido e pouca infra-estrutura para trabalhar, uma idéia simples e barata transformou-se no fator determinante do sucesso dos alunos na escola.

Há alguns anos, professores da rede municipal de ensino perceberam carências de seus alunos e resolveram saber mais sobre o cotidiano deles. Em vez de fazerem o que reza a cartilha, como chamar os pais para "prestar depoimento" na escola, resolveram ir à casa deles. De porta em porta, passaram a conhecer a realidade dos alunos-problema, com notas baixas ou com pouca freqüência. Ouvir os pais, saber onde moravam, o que faziam no tempo livre, tudo foi significativo para entenderem o quadro que se apresentava todos os dias em sala de aula. Começava ali uma iniciativa que logo em breve seria aplicada em todas as escolas da cidade.

Assim que tomou conhecimento das visitas esporádicas, o secretário de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia do município, César Callegari, resolveu institucionalizar a iniciativa. Pegou aquele estalo inicial dos professores e o aprimorou, colocando as coisas nos seguintes termos: "Já que queremos tanto melhorar a educação, por que não vamos atrás?". Foi o estopim que faltava para chamar diretores, conversar com professores e lançar, em 2005, o Programa Interação Família Escola.

O objetivo é estreitar os laços entre ambos, de modo a diminuir índices de evasão e repetência. Deu tão certo que a iniciativa foi reconhecida por organismos internacionais. O programa ganhou o Prêmio Objetivos de Desenvolvimento do Milênio Brasil - ODM Brasil 2007, criado pelo governo brasi-leiro com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), braço da Organização das Nações Unidas (ONU) nas causas inovadoras.

CASA ARRUMADA No começo, os pais dos alunos não sabiam ao certo o que os professores estavam fazendo na casa deles - a maioria temia que a visita era por conta de algum problema, como baixo rendimento escolar ou faltas em excesso. "Era uma surpresa, uma preocupação a mais para eles. Mas bastava a gente explicar os motivos da visita e tudo se resolvia", recorda a professora Elaine de Paula Dutra. Ela participa do programa desde 2007. No começo deste ano, ela fez mais uma rodada de visitas: foram 25 famílias de alunos da Escola Horário e outras 25 da Escola Mingau - como a maioria dos professores brasileiros, Elaine precisa arranjar tempo para se dedicar a mais de uma escola a fim de pagar as contas no final do mês.

As visitas duram entre 40 minutos e uma hora, tempo limite para os encontros. Na maioria das vezes, os professores deixam o guarda-pó de lado, afinal as visitas são feitas ou no contraturno escolar (se o aluno estuda pela manhã, a visita é na parte da tarde) ou durante a noite. Quem define o horário são os pais e, em muitos casos, a visita só é possível nos finais de semana. "Às vezes temos dificuldade para compreender por que as crianças enfrentam dificuldades na escola, seja porque não conseguem se concentrar, ou porque não conseguem entender o que estamos ensinando", explica.

Segundo a professora Elaine, é no contato com a realidade das crianças que as coisas ficam mais claras. "Depois das visitas, percebi o quanto sou valorizada pelos meus alunos e seus familiares", corrobora sua colega de profissão Cleusa Auxiliadora de Moraes, da escola municipal Armando de Andrade.

Recheadas de ansiedade e preparativos, logo as visitas caíram no gosto das famílias. "Os pais arrumam a casa, preparam bolo e vestem roupa de domingo, é um grande acontecimento", conta o secretário, experiente no acompanhamento das visitas. "Os familiares nos recebem muito bem, eles ficam muito felizes com nossa visita", diz Elaine. Os pais também aprovam a idéia. "Na reunião da escola eu não tinha a oportunidade de conversar bastante, pois são muitos alunos. Em casa, fiquei sabendo mais sobre minha filha e sobre sua professora, e ela virou uma amiga da família", observa Cleide da Silva, mãe de um aluno.

É nestes encontros em que as crianças, sempre convidadas a participar das conversas, compartilham um pouco mais de sua vida com os professores. O momento mágico, completa César, fica por conta da satisfação dos alunos ao acompanharem o professor contar aos pais os progressos que tiveram nas notas. "É uma grande satisfação eles ouvirem isso direto da escola", diz. A estudante Celyane Silva, de nove anos, não deixa esconder: "Eu estava ansiosa para que minha professora fosse à minha casa. Antes eu tinha vergonha de perguntar quando eu não entendia a lição, agora não".

EXEMPLOS CONCRETOS De 2005 para cá, 600 professores de 45 escolas da cidade atuaram no programa - sempre de forma voluntária, ninguém o faz obrigado, frisam os idealizadores. Dos 32 mil alunos da rede municipal, 20 mil já receberam alguma visita a partir da iniciativa. O programa é focado em estudantes da educação infantil e ensino fundamental (da 1ª à 8ª séries).

É o caso da Escola Horácio, no bairro Jardim Roberto. São 460 alunos, divididos em cinco turmas em cada um dos três turnos mantidos pela escola - outro dos males típicos da educação brasileira, que obriga os alunos a estudarem entre 7h e 11h, ou entre 11h e 15h (o "turno da fome") ou ainda entre 15h e 19h. São crianças de quatro a seis anos, estudando nas turmas Jardim I, Jardim II e 1ª série.

"A iniciativa é muito boa porque é uma forma de chamarmos a atenção dos pais, de ganhar o respeito deles e apontar as dificuldades que os filhos enfrentam no dia-a-dia da sala de aula", conta a coordenadora pedagógica da escola, Luciana Kovalic Oliveira. Ela começou a trabalhar neste ano na instituição, mas já contabiliza nove anos de magistério.

Segundo ela, o contato com a realidade dos alunos muda a dinâmica de ensino em sala de aula. Os exemplos de uma aula de matemática, por exemplo, em vez de serem abstratos e hipotéticos, contam com elementos da vida dos alunos, com figuras concretas como o número de quartos ou de banheiros da casa deles. "Isso torna a aula muito mais dinâmica, prática e produtiva", reforça a coordenadora. De fato, ela tem razão - dizem os números apresentados pela Secretaria da Educação do município.

MAIS 20 PONTOS No ano passado, os alunos da 2ª série do ensino fundamental que não foram visitados pelas professoras tiveram média de 44,1 em português e 41,7 em matemática. Já os que abriram a porta de casa para receber um professor-visitante apresentaram um desempenho acima de satisfatório: 65,6 em português e 75,3 em matemática. O mesmo critério vale para a 4ª série: de 52,7 em português e 51,9 em matemática, os alunos passam a ter a média de, respectivamente, 75,3 e 69,7. São cerca de 20 pontos de diferença (numa escala de 0 a 100). Foram avaliadas 8.300 crianças.

O Ministério da Educação (MEC) também confirmou o êxito dos estudantes da cidade. Segundo dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgados em junho deste ano, a cidade teve um aumento de 14,3%, nos anos finais da educação básica (de 5ª à 8ª séries), com a média de 4,8 - o MEC previa que Taboão da Serra só atingiria essa meta em 2012. Nos anos iniciais (da 1ª à 4ª séries), o município também teve um crescimento expressivo, de 8,9%, com a média de 4,9, acima da média nacional, que é de 4,2.

Criado em 2007 pelo governo federal, o Ideb leva em conta as taxas de aprovação, abandono escolar e o desempenho em duas avaliações nacionais: o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e a Prova Brasil, realizadas em 2007. Assim que o resultado saiu, o secretário da Educação, que também é membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), aproveitou para afirmar que a educação da cidade está baseada em um tripé: aluno, professor e família.

"A prefeitura investe muito na formação continuada dos professores, em projetos pedagógicos de qualidade e na participação da família. E quem sai ganhando é o aluno", conta César Callegari. Os cálculos lhe levaram a fazer uma analogia peculiar. O desempenho dos alunos a partir do programa faz com que cerca de mil crianças deixem de ser reprovadas a cada ano. "Isso representa a economia da construção de uma nova escola a cada doze meses", traduz o secretário, satisfeito com a possibilidade de aplicar os recursos poupados em outras frentes.

PREÇO IRRISÓRIO O rol de ganhos não ficou só nos indicadores de notas e do governo federal. O Programa de Interação Família Escola também permitiu à secretaria lançar mão de outras frentes de atuação. No que diz respeito à melhoria da aprendizagem, as visitas permitiram a criação de grupos de apoio pedagógico para crianças com dificuldade de aprendizagem no contraturno escolar, beneficiando diretamente 2 mil crianças. As escolas também ganharam laboratórios de aprendizagem, voltados ao diagnóstico e orientação dos problemas de desenvolvimento escolar, recuperando o rendimento de 140 alunos.

No campo das oportunidades educacionais para a comunidade (de posse das demandas dos parentes das crianças visitadas), mais de 10 mil jovens e adultos foram beneficiados com cursos de inglês e informática durante a noite ou nos finais de semana e 2 mil adultos tiveram pela primeira vez a oportunidade de completar os estudos. De quebra, 5 mil pessoas participaram do programa Fazendo Arte na Escola, de atividades culturais.

A lista de avanços, quase interminável, é a prova de como uma simples iniciativa, bem aplicada, se reproduz, fazendo-se presente em outras áreas. A palavra interação do nome do programa não se limitou à família e à educação e logo a secretaria passou a dialogar com outras áreas da prefeitura de Taboão da Serra. Resultado: foram encaminhados 342 casos à rede de proteção social do município, o que inclui famílias desestruturadas ou com orçamento doméstico reduzido, por exemplo.

Para tanto, foi criada uma equipe multidisciplinar composta de médico pediatra, psicólogos e professores especializados, a fim de apoiar os docentes nas escolas, com atenção redobrada às crianças com necessidades especiais de aprendizagem. Por fim, uma iniciativa de pré-diagnóstico de acuidade visual deu cabo a 19 mil exames.

PARECE MÁGICA Isto pode dar a impressão de que Taboão da Serra, distante 18 quilômetros da capital paulista e com índices de criminalidade e pobreza típicos das "cidades-dormitório" localizadas nas cercanias das grandes metrópoles, fez mágica. Há um "pulodo- gato": as visitas são remuneradas. Cada vez que a porta da casa de um aluno da rede municipal de ensino se abre o professor embolsa R$ 35,00. Pouco? Muito? Diante do orçamento da secretaria, é pouco: são R$ 600 mil em R$ 80 milhões anuais. "Veja que este é um programa baratíssimo e que de nenhuma maneira é usado como forma de complementação salarial", diz o secretário. Os recursos, conta ele, são do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), do governo federal. A média salarial dos professores de Taboão da Serra é de R$ 1,1 mil.

O pioneirismo chamou a atenção de outros secretários de Educação e logo o gabinete de Callegari se enchia de visitantes de diversas cidades do interior de São Paulo e de outros estados. A glória veio com o Prêmio ODM Brasil 2007, divulgado em abril deste ano. Foi uma disputa com 1.062 experiências de todo o Brasil. A escolha dos premiados foi feita por um júri composto por 13 especialistas de todo o país e a premiação foi em Brasília.

O prêmio tem por objetivo incentivar ações, programas e projetos que contribuam para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) notificou- os formalmente de que o Programa Interação Família Escola será implantado de forma experimental em outras oito cidades brasileiras. Tem tudo para vingar, como justifica o secretário: "É um programa que requer uma baixa carga de administração porque é um programa que faz sentido para todos".

 
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