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SUS Plus - Hospital de Clínicas de Porto Alegre usa tecnologia para melhorar o atendimento

2006. Ano 3 . Edição 22 - 5/5/2006

Hospital de Clínicas de Porto Alegre utiliza tecnologia com inteligência para melhorar procedimentos, condições de trabalho e atendimento à população

Por Patrícia Marini , de Porto Alegre

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Numa manhã de abril de 2006, o médico entra no quarto do paciente no Hospital de Clínicas de Porto Alegre para uma visita de rotina. Em vez de pegar o prontuário pendurado ao pé do leito, tira do bolso um palm top. No pequeno equipamento, lê o prontuário do internado, o resultado dos exames recém-feitos, os últimos procedimentos e as observações registradas pelas enfermeiras. Na mesma telinha, faz sua prescrição e pede novos exames. Antes de sair para mais uma visita, comenta com alunos e residentes o encaminhamento dado ao caso. "É fascinante. O trabalho ficou mais fácil e eficiente", resume o pneumologista Renato Seligman, vice-presidente médico. Em seu palm top há, ainda, meia dúzia de compêndios médicos que podem ser consultados sem que ele precise deixar o leito do paciente.

O Clínicas de Porto Alegre é uma exceção no universo dos depauperados e malfalados hospitais públicos brasileiros. Merece observação atenta. O que se vê ali, desde abril deste ano, os tais prontuários acessíveis em computadores de mão, é um estágio de um processo mais amplo que, nos últimos cinco anos, envolveu toda a comunidade hospitalar. Para o segundo semestre de 2006, planeja- se aproveitar a renovação da rede de comunicação e introduzir a tecnologia wireless, sem fio. Assim, os médicos nem sequer precisarão se conectar aos computadores da rede para baixar os prontuários dos pacientes - estando em seu posto, as informações aparecerão disponíveis em seus equipamentos.

Uma história diferente

O Hospital de Clínicas de Porto Alegre foi concebido com uma fórmula diferente dos demais hospitais universitários brasileiros. Criado por lei federal aprovada no Congresso Nacional em 1970, nasceu como empresa pública de direito privado, ou seja: é academicamente ligado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), integra a rede de hospitais do Ministério da Educação, que banca sua folha de pagamento, mas tem orçamento próprio e autonomia administrativa.

A especificidade foi conseguida graças à influência do reitor da UFRGS, Eduardo Faraco, cardiologista do general Emílio Médici antes de sua nomeação à Presidência da República. O hospital foi instalado, em 1972, num prédio que estava em obras desde 1931, durante o primeiro governo de Getúlio Vargas.

Atualmente, passam pelo Clínicas todos os dias, em média, 16 mil pessoas, entre elas funcionários, pacientes e visitantes (mais do que a população de 65% dos municípios gaúchos). O prédio consome mais de 1 milhão de quilowatts/hora por mês de energia elétrica, o equivalente ao consumo de uma cidade de 25 mil habitantes. O ambulatório registra 2 mil atendimentos diários.

A arrecadação total de 2005 foi de 335 milhões de reais, considerando todas as fontes, as inscrições de portarias em recursos a receber e o saldo do exercício anterior. A maior parte, 65, 4% do total, vem do Tesouro Nacional para o pagamento de pessoal e encargos sociais. As receitas próprias, provenientes de serviços hospitalares (aí incluídos os repasses do SUS), totalizaram 31%. Outros recursos, provenientes da execução de convênios com outros órgãos, inclusive o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), complementam a receita.

As contas fecham, praticamente não há filas, a qualidade do atendimento melhorou, os recursos são mais bem explorados e os pacientes confiam no hospital.

 

Nos últimos anos, o investimento em tecnologia da informação e da comunicação tem sido equi valente a 4% do faturamento do Hospital de Clínicas porto-alegrense
 
 

 

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No HCPA, cada médico tem um palmtop onde consta a integra dos prontuários dos pacientes. A informatização também ajudou a organizar o atendimento e a reduzir filas e tempo de espera

Pioneirismo Num ambiente em que apenas pouco mais de um terço dos quase 7 mil hospitais brasileiros possui algum nível de informatização, o Clínicas de Porto Alegre se destaca. Na década de 1980, foi pioneiro, ao lado do hospital-escola da Universidade Federal de Campinas (Unicamp), em aplicar a Informática Médica, então uma novíssima área de conhecimento, para armazenamento, recuperação e uso da informação na solução de problemas e na tomada de decisões. Enquanto na maior parte das organizações a informatização está limitada à automatização das ordens médicas (prescrição e solicitação de exames), no Clínicas porto-alegrense seu espectro é bem mais amplo. Criou-se ali um sistema de informações útil à assistência, à pesquisa e ao ensino, que também serve como ferramenta de gestão. "O Hospital de Clínicas de Porto Alegre tem sido uma referência pelos seus sistemas de informação e está entre os hospitais universitários mais bem geridos do país", atesta Ana Maria Malik, coordenadora da área de gestão em saúde pública da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas de São Paulo.

melhorespraticas5_54Fonte: Hospital de Clínicas de Porto Alegre

A razão de tal status não está na tecnologia, que o dinheiro pode comprar, mas em sua aplicação integrada aos sistemas de informações desenvolvidos no Clínicas desde antes da existência de computadores. O casamento das duas inteligências gerou resultados que dificilmente seriam alcançados com um pacote pronto. A Comissão de Prontuários atua no Clínicas desde que o hospital abriu as portas, em 1972, embora a obrigatoriedade de existência dessa comissão nos hospitais só tenha vindo em 2002, por resolução do Conselho Federal de Medicina. Em seguida, o Conselho passou a aceitar que os documentos fossem guardados por 20 anos, e não para sempre, como era antes. Coincidência ou não, os critérios estabelecidos no Clínicas para compor o chamado prontuário essencial, elegendo os documentos a serem preservados e os que podem ser descartados ou arquivados, são os mesmos posteriormente adotados pelo Conselho.

Como os prontuários inativos há mais de 20 anos podem ser destruídos, 15 toneladas de papel foram embora, mas a Comissão de Prontuários garantiu que as informações necessárias à assistência, à pesquisa e ao ensino estivessem disponíveis. Cada prontuário traz o registro de todas as passagens do paciente pela instituição, de consultas no ambulatório a internações, sumários de alta, enfim, um histórico completo. Depois de organizados esses dados, foi possível pensar em informatização. Era preciso combater o excesso de papel, a falta de espaço físico (para guardar 1, 025 milhão de documentos), o volume excessivo dos prontuários (difíceis de manusear e de encontrar as informações), a falta de qualidade dos registros (letras ilegíveis, dados incompletos) e a ausência de normatização para consultas.

Após criteriosa seleção, os prontuários de interesse histórico ou científico foram digitalizados. Cerca de 1 milhão de documentos estão em CDs, que ocupam uma pequena gaveta. Duas cópias estão armazenadas em outros lugares, por questão de segurança. Além disso, muitos documentos não vão para o prontuário eletrônico, mas não podem ser destruídos. Eles são transferidos para uma área externa e constituem o "prontuário legal". Dessa forma, o arquivo, que chegou a ocupar mais de 1. 000 metros quadrados do prédio, devolveu à administração quase 200 metros quadrados. Com o dinheiro da venda do papel para reciclagem, foram construídos novos banheiros e uma copa para os funcionários do setor.

Informações à mão Do início de 1997 a julho de 2000, o Grupo de Sistemas trabalhou para ingressar na era dos microcomputadores. " Em 30 meses estávamos prontos para crescer, priorizando as demandas dos usuários da área médica", conta Sérgio Felipe Zirbes, coordenador dos 45 profissionais do grupo, que se reporta diretamente à presidência do hospital. Foi como mudar de computador de bordo em pleno vôo. "A partir dali, passamos a nos guiar por um novo norte: o prontuário eletrônico do paciente", diz. O Grupo de Sistemas e o Comitê Gestor de Acesso aos Sistemas Informatizados, composto de representantes de médicos, enfermeiros e administração, criado em 2001 para gerenciar as permissões de acesso dos usuários aos processos informatizados do hospital, tiveram importante papel nesse processo. "Decidimos levar o projeto adiante quando percebemos que a maioria dos médicos já tinha palm top", lembra Zirbes em março deste ano, com financiamento de 78 mil reais provenientes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), as primeiras enfermeiras de uma unidade de internação receberam 20 palms. "Há três anos as enfermeiras trabalham nos terminais de computadores para fazer seus registros. Muitas das suas avaliações são de grande importância e registrando- as no prontuário eletrônico elas ficam mais completas", diz a coordenadora da área, Ana Maria Müller Magalhães.

O prontuário eletrônico, repositório de informações acuradas e produzidas em tempo real, criou as condições para o desenvolvimento de um sistema gerador de indicadores de qualidade assistencial. Isso tem permitido o acompanhamento e a análise do desempenho dos processos da área clínica do hospital e de seus resultados. "O prontuário eletrônico só tem vantagens em relação ao de papel: é mais ágil, limpo, completo, legível e seguro", avalia a coordenadora da Comissão de Prontuários do HC e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Informática Médica, Mariza Klück.

melhorespraticas6_54Fonte: Hospital de Clínicas de Porto Alegre

Projetos É claro que todo esse movimento dependeu de decisão e mobilização políticas. O líder, nesse processo, é o psiquiatra e psicanalista Sérgio Pinto Machado, presidente da instituição em terceiro mandato, cuja primeira gestão teve início no final de 1996. Antes de assumir o cargo, impôs uma condição:"Assumo, desde que continue tendo alunos, residentes e pacientes". Ele mesmo justifica:"O poder e a responsabilidade provocam isolamento. Por isso continuo ensinando e clinicando: para ver como as coisas de fato estão funcionando. "Elegante, simpático, olhos e ouvidos abertos ao mundo, Machado tem outra convicção, relativa à importância de envolver os profissionais da casa nas discussões. "Sempre achei que a democratização e o compartilhamento das informações levam a um aumento do comprometimento. "

A reformulação da rede de informática foi o primeiro de seus projetos. "Antes, eu recebia laudos de autópsia, ou seja, tomava conhecimento do que acontecia quando já não havia nada a fazer. Agora, acompanhamos custos e resultados em tempo real e podemos fazer correções de rumo", conta Machado. Nos últimos anos, o investimento em tecnologia da informação e da comunicação tem sido equivalente a 4% do faturamento próprio do hospital - cerca de 100 milhões de reais em 2005. "Dos 6 milhões de reais previstos nos projetos apresentados pelo Grupo de Sistemas, 3, 5 milhões de reais serão liberados em 2006, principalmente para a renovação da rede, com aquisição de 500 novos PCs e troca de impressoras", diz o economista Fernando Torelly, vice-presidente administrativo. Mais um detalhe importante: todos os aplicativos são desenvolvidos em softwares livres de direitos autorais, conforme diretrizes do governo federal.

Além da satisfação de trabalhadores e usuários, a qualidade do trabalho do hospital é reconhecida em nível nacional e internacional
 

Comunidade O segundo projeto, a construção de uma Unidade Básica de Saúde integrada à rede municipal, foi realizado em 2004. "É o braço comunitário do hospital: atende à população e proporciona aos alunos o aprendizado da medicina preventiva. " O terceiro de seus planos, a ampliação dos investimentos, também já se materializou. O hospital conta com um centro de pesquisa básica de 4 mil metros quadrados e, dentro de dois anos, uma unidade de investigação clínica ganhará seu próprio prédio. "Tudo isso foi obtido graças à informática", garante Machado. Por que graças à informática? Em parte porque o Sistema Único de Saúde (SUS) ocupa 90% dos 751 leitos de internação e dos demais atendimentos. Ele é fonte de 80% do faturamento do Clínicas, que vem crescendo à taxa média de 57%, em valores absolutos, desde o ano 2000. O hospital tem trabalhado a todo vapor, com taxa de ocupação de quase 90%. O aperfeiçoamento dos registros de procedimentos, de cada centavo gasto em material ou exame, tornou possível a cobrança eficiente e efetiva do governo e, também, o avanço na qualidade do atendimento e no controle de segurança dos pacientes.

Ivan Gonçalves, morador da região metropolitana, há 15 anos viaja a Porto Alegre três vezes por semana para se submeter a sessões de quatro horas de hemodiálise. "Já pude escolher entre freqüentar um hospital que me oferece a condução ou continuar vindo ao Clínicas, mas continuei aqui. O Clínicas, para mim, é o melhor plano de saúde: é o SUS Plus", diz . Sua explicação sobre o SUS Plus: há anos ele não vê filas para agendamento de consultas, pois os pacientes chegam com hora marcada pela central de atendimento; e há o prontuário eletrônico. "Antes, cada vez que eu era internado subia comigo um enfermeiro puxando um carrinho com uma pilha de papéis de dois palmos de altura: era o meu prontuário. "

Em 2005 foi implantada a primeira fase da informatização da Emergência, contemplando acolhimento, check-in, triagem, escalas de gravidade, agendamento da consulta e check-out do paciente. Os que necessitam de atendimento urgente são recebidos de forma mais ágil e eficiente. " Antes, eu encaminhava um paciente para marcar uma consulta, ele precisava ir à secretaria e ficar esperando. Eu não tinha como saber se ele fora atendido ou se decidira ir embora. Agora ele não sai da sala e tenho como checar se a consulta foi feita", diz o enfermeiro Jeferson Veiga, um dos responsáveis pela triagem de risco na emergência. No último dia 17 de abril teve início a suspensão gradativa do envio de prontuários de papel aos consultórios. Num prognóstico otimista, em dois anos terá sido possível abolir o papel.

Além da satisfação de trabalhadores e usuários, o hospital tem colhido outros frutos: o reconhecimento nacional e internacional. Klück conta:"Não passa uma semana sem que recebamos uma solicitação de visita. Na semana passada, veio uma equipe de um hospital privado da Bahia e, nesta semana, ligaram-nos do Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo. "O Clínicas tem participado de inúmeros eventos científicos e distribuído seu Manual de Prontuários para diversos hospitais. Durante um congresso internacional no Rio de Janeiro, em 2003, Edward Shortliffe, um importante pesquisador da área de Informática Médica (das universidades de Stanford e Columbia, nos Estados Unidos), considerou:"O prontuário eletrônico do Hospital de Clínicas é um dos dez mais completos do mundo".

melhorespraticas7_54Mariza Klück, coordenadora da Comissão de Prontuários: 1 milhão de documentos cabem em uma gaveta

Acreditação O Hospital de Clínicas de Porto Alegre foi a primeira instituição gaúcha e brasileira de grande porte e o primeiro hospital universitário do país a receber, em 2001, o Certificado de Acreditação. É o mais importante reconhecimento de qualidade do setor, conferido pela Organização Nacional de Acreditação, ligada ao Ministério da Saúde. Em 2003, foi recertificado para o nível 2, que significa acreditação plena. "Para atingir o terceiro e último estágio, o nível ótimo, precisamos conseguir nível 3 em 44 itens avaliados. Já temos mais da metade da meta atingida", conta Klück. Para completar, o ambulatório foi um dos premiados no 10o Concurso de Projetos de Inovação da Gestão Pública, da Escola Nacional de Administração Pública (Enap). Motivo da distinção:no início de 2005, todos os seus 144 consultórios, que cobrem 70 especialidades médicas, estavam equipados com microcomputadores. "Nossa atitude não é criticar o SUS. Fazemos nossa parte para que o serviço melhore", diz Fernando Torelly, vice-presidente administrativo. Nem parece que falamos de Brasil. Mas é isso mesmo. Prova de que competência, disposição e tecnologia resolvem problemas aparentemente insolúveis. Boa fórmula para ser replicada.

 
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