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Vida boa para os idosos - Parque Municipal do Idoso oferece lazer, assistência médica e educação

2005. Ano 2 . Edição 11 - 1/6/2005

O Parque Municipal do Idoso, em Manaus, atende 1,2 mil pessoas com mais de 60 anos e oferece lazer, assistência médica, artesanato e educação. Um exemplo de como as prefeituras deveriam implementar a Política Nacional prevista em lei desde o ano passado.

Por Clarissa Furtado, de Manaus

O Brasil tem uma avançada legislação para a garantia dos direitos daqueles que já passaram dos 60 anos, mas poucas administrações implementaram políticas e práticas específicas para os idosos. A inovadora lei que trata da proteção integral desse público foi aprovada em 1994. Ela foi elaborada de modo a proporcionar saúde e bem-estar no processo de envelhecimento e construir uma rede de proteção social que contemple todas as esferas da vida dos idosos. A Política Nacional do Idoso (PNI), regulamentada no ano passado, se propõe ainda a incentivar a autonomia e a independência das pessoas dessa faixa etária. O objetivo maior, dentro de diretrizes adotadas internacionalmente durante duas assembléias mundiais sobre o envelhecimento, é construir uma sociedade mais justa para todas as idades.

Para que esses princípios se tornem realidade, as prefeituras têm de tomar uma série de iniciativas, de forma a criar ações locais voltadas especificamente para a promoção da saúde, da cidadania e da integração desse público. Um exemplo é a instalação do Conselho Municipal do Idoso, constituído por representantes do governo e pessoas com mais de 60 anos e que tem, entre suas atribuições, o papel de sugerir o estabelecimento de ações municipais de acordo com as necessidades da comunidade. Poucas cidades brasileiras avançaram na agenda prevista nessa nova política. É possível contar nos dedos das mãos quantas o fizeram. Manaus é a mais destacada delas. E mais especificamente um local, chamado Parque Municipal do Idoso, é considerado hoje um dos mais fortes exemplos de que é possível trabalhar, no âmbito da terceira idade, valores como auto-estima, cidadania, promoção de saúde, socialização e integração entre as gerações, com respeito às limitações próprias da idade, mas sem cair em clichês como os que consideram o idoso um indivíduo dependente, frágil, sem interesse próprio, abandonado.

Ataxerxes Amazonas de Oliveira, de 73 anos, é citado pelo diretor do parque, Maxmor Nunes de Souza, como um exemplo de que a vida pode ser refeita após uma tristeza grande e não é preciso ficar em casa esperando a próxima peça a ser pregada pelo destino. Oliveira estava deprimido depois da morte da esposa, com quem viveu 49 anos, mas teve uma grande melhora quando começou a freqüentar o parque, há dois anos. A agenda semanal é corrida: faz ioga, caminhada orientada e participa de um grupo que trabalha a memória. Além disso, passa por acompanhamentos periódicos das condições de saúde e, caso seja detectado algum problema iminente, é encaminhado ao serviço local público de saúde. Mas ele gosta mesmo é de dançar. Dança várias horas por dia ao som de boleros, sambas e outras canções tocadas na área em frente à lanchonete do parque, para alegria das senhoras que também freqüentam o local.

Oportunidade O parque oferece gratuitamente, apenas para quem já passou dos 60, aulas de hidroginástica, natação, vôlei, caminhada orientada, ioga, alongamento, caratê, tai chi chuan, teatro, artesanato, dança coreográfica, dança de salão, dança do ventre, aulas de alfabetização, de inglês e de espanhol. As atividades são coordenadas por 94 profissionais qualificados, treinados para atender à população idosa. Muitos têm, lá, a chance de fazer coisas que nunca tinham feito ao longo da vida, por falta de tempo, de dinheiro ou de oportunidade. "Sou filha do interior do Amazonas, fui criada na lida da juta e da castanha. Quem diria que eu, uma cabocla, um dia ia fazer aula de espanhol e de dança do ventre. Chego às 8 e meia da manhã e só saio às 5 horas da tarde. Se eu estivesse em casa, estaria quebrando a cabeça com neto, com quintal... aqui é só divertimento e curtir a vida com as amigas ", afirma Margarida Moreira da Fonseca, de 63 anos. Para o idoso Luís Marinho Batista, o parque é a melhor opção. "Estou aqui de segunda a sexta-feira. Não tenho outro lugar para ir. Se o parque não existisse, ou eu ficaria em casa no calor ou, quem sabe, na rua bebendo ", comenta.

Instalado em uma área de 11 mil metros quadrados, em um bairro de classe média alta da capital amazonense, o complexo de atendimento aos idosos foi inaugurado em 2002 e custou 4,3 milhões de reais, bancados pela prefeitura. O local tem piscina, ginásio coberto, auditório, pista de caminhada, salas de aula, dança e artesanato, lanchonete, restaurante e salão de beleza. O custo mensal para manter o parque funcionando é de 20 mil reais, segundo dados da Fundação Doutor Thomas, entidade com nível de secretaria municipal, responsável pela coordenação do parque. O conjunto faz parte da política Municipal do Idoso, aprovada em lei municipal. O objetivo do Programa Conviver, no qual se insere a iniciativa, é promover a integração das pessoas idosas e facilitar o convívio delas com a família e com a comunidade. E, obviamente, promover um envelhecimento mais saudável.

Quem visita o local percebe logo que não se trata de um discurso vazio nem meramente de preencher o horário dos beneficiários com uma série de atividades sem sentido. A iniciativa tem, realmente, o poder de alterar a vida dos freqüentadores. Tristeza, angústia ou solidão, sentimentos vividos por muitos que chegam a idades mais avançadas, não têm espaço quando as pessoas passam o dia cercadas de colegas da mesma idade, conversando, trocando experiências, se divertindo ou aprendendo. "A minha amiga ficou viúva, vivia chorando. Eu a convidei para vir para o parque e ela hoje está ótima, já até arrumou namorado ", conta Ilma Pereira, de 68 anos. "Se a gente fica em casa, fica só pensando besteira. Venho ao parque há três anos e é bom para minha saúde. Minha vida mudou, fiquei mais alegre, até meus netos percebem ", diz Maria de Lourdes Abrantes Pinto, de 78 anos.

Toda sexta-feira é oferecido um momento de integração, conhecido como "Tarde Dançante ". A música não pára e o clima é de festa. Antes disso, é feita uma palestra sobre assuntos variados, como prevenção e tratamento de doenças típicas do envelhecimento e sexualidade. Os direitos da população mais velha também são debatidos nas palestras. Em uma das salas do parque funciona o Conselho Municipal do Idoso. Além disso, um profissional do Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS) dá plantão no parque uma vez por semana, orientando os freqüentadores sobre aposentadoria e outros benefícios concedidos aos maiores de 60.

Socialização O Parque Municipal do Idoso atende a pessoas de várias classes sociais, embora prevaleça a classe média, devido à localização do espaço. Segundo levantamento realizado no local em 2003, 34% dos freqüentadores tinham renda de um salário mínimo, 39% de dois a quatro salários mínimos, 15% não tinham renda e 12% tinham renda acima de cinco salários mínimos.

Quando vão ao parque pela primeira vez, os idosos passam por uma entrevista com o médico e com as assistentes sociais para detectar doenças e limitações físicas e, a partir daí, é elaborada uma ficha que servirá para acompanhar o desenvolvimento da pessoa. O idoso com alguma restrição de saúde é orientado sobre as atividades físicas mais adequadas para as suas condições e, se for o caso, é direcionado para tratamento na rede pública de saúde. Quando há necessidade, a família é chamada pela equipe do parque para conversar e recebe orientação sobre problemas de saúde e psicológicos. Os familiares também são acionados quando a equipe do parque detecta que a saúde do idoso está piorando ao longo dos meses.

Luciane Coimbra, assistente social do parque, conta que é alto o índice de depressão, detectada logo nas entrevistas iniciais, muitas vezes relacionada a perda de filhos, companheiros, amigos, da aposentadoria, da solidão e da dificuldade em lidar com as doenças da idade. Depois de um tempo freqüentando o parque, os índices de depressão diminuem sensivelmente. "Temos depoimentos que falam que aqui é como se eles entrassem em um novo mundo, em que ninguém é feio, ninguém é ridículo, eles não precisam ter vergonha e podem se comportar à vontade. Em casa, as idosas muitas vezes não passam nem um batom, aqui é a primeira coisa que elas fazem quando chegam ", conta a assistente social. "Quando o trabalho começou, achávamos que o mais importante para o desenvolvimento do idoso seria a prática de atividades físicas. Depois, percebemos que a socialização é tão importante quanto isso. O idoso sai de casa, onde muitas vezes ele é a única pessoa de mais idade, e vai para um lugar onde pode conversar com pessoas que vivem os mesmos problemas e têm os mesmos interesses ", completa Coimbra.

Também é importante o acompanhamento psicológico, que é feito em grupos ou individualmente. Durante os encontros de terapia em grupo, as perdas que acontecem com a chegada da velhice são debatidas. "Quando eles começam a perceber que as outras pessoas vivem problemas semelhantes aos deles, passam a se aceitar melhor e a auto-estima se desenvolve muito. Aqui eles são eles mesmos, estão vivendo e se redescobrindo, não sofrem críticas ou são ridicularizados ", conta Cremilda Ramos da Silva, uma das psicólogas do parque. "É como se fosse uma reunião de psicólogos, você ouve a história de cada um e todos se apóiam ", confirma Teresinha Pampolha, de 68 anos, freqüentadora do parque.

 

Outro trabalho interessante é o das oficinas de memória. "É um instrumento fundamental de atividade, porque a memória é sempre afetada pelo envelhecimento e não existe remédio para isso. A melhor forma de evitar a perda é manter um alto nível de atividade mental ", explica o diretor do parque. Nas oficinas, os grupos de idoso fazem quebra-cabeças e palavras cruzadas, são incentivados a escrever ou desenhar sobre memórias da infância e a elaborar poemas, entre outras atividades. "Também orientamos para que eles façam exercícios como, antes de dormir, tentar se lembrar de tudo que foi feito durante o dia ", diz a psicóloga Silva. As aulas de teatro e artesanato também são importantes para exercitar técnicas de memorização.

Os freqüentadores do parque conseguem melhorar o seu posicionamento na comunidade em que vivem. Deixam, muitas vezes, de ser uma preocupação para os filhos e, ao conquistar qualidade de vida, autonomia e independência, podem conviver melhor com as outras gerações. Nos casos em que o relacionamento familiar é difícil, a equipe do parque procura a família para buscar soluções. Mas as mudanças vividas pelos idosos por causa das atividades que eles têm no parque costumam até surpreender os familiares: "Quando a gente leva para a família os amigos que fizemos aqui, eles ficam impressionados, pois não nos julgavam mais capazes ", conta Pampolha.

A integração dos idosos com as outras gerações também acontece dentro do parque. Embora as atividades sejam restritas aos maiores de 60, a comunidade local pode freqüentar o parque para fazer caminhada, em determinados horários, ou usar a lanchonete e o restaurante. Os resultados da troca de experiência são positivos para os dois lados. José Joaquim da Silva, de 69 anos, conta que, depois que começou a freqüentar o parque, mudou a maneira de se relacionar com os mais jovens. "Antes, eu agia como se fosse dono da verdade. Depois, ao conviver com os mais jovens também vi que a gente tem de aceitar que não sabe tudo e procurar aprender ", conta. Ele trabalha no parque, durante as manhãs, em atividades de apoio administrativo e participa das atividades durante a tarde. Ele entrou para a equipe do parque desde o começo, quando a administração abriu vagas para idosos que quisessem trabalhar durante meio período.

Carinho Para os menores de 60 que freqüentam o local, a convivência é proveitosa. "É gratificante trabalhar aqui. Você aprende muito com a experiência deles. Eles são carinhosos com a gente, contam histórias, conversam. Vejo que muitos não recebem carinho em casa, têm problemas com os filhos e aqui eles podem falar, desabafar e, ao ouvir as histórias de vida deles, a gente ganha muito ", afirma Jucicleide Oliveira de Castro, ajudante do salão de beleza do parque. O programa contribui para mudar a imagem dos idosos na sociedade, geralmente vistos como seres frágeis, dependentes e até infantilizados. "O parque tem uma resposta significativa na vida das pessoas e ajuda a mostrar para a sociedade que, mesmo com as limitações peculiares da idade, o idoso está ativo, corre, anda, namora ", comenta a assistente social Coimbra.

O parque torna realidade uma das diretrizes definidas na legislação nacional sobre o tema: viabilizar formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso, que proporcionem sua integração às demais gerações. Ainda é bem menos do que o necessário. Afinal, em Manaus existem 110 mil pessoas com mais de 60 anos. O governo do estado afirma que irá construir novos parques, em outras áreas, mas ainda não existe um prazo para isso. No caso do parque que já está em funcionamento, o público atendido também poderia ser maior, se fosse resolvida a dificuldade de acesso. Faltam linhas de ônibus para levar a população ao local. O parque foi projetado para atender duas mil pessoas por dia, mas recebe, atualmente, cerca de 1,2 mil idosos.

Mesmo assim, o programa adotado em Manaus é um dos poucos, talvez o único, no país, que conseguem atender a tantas dimensões da vida do idoso, com resultados positivos na prevenção de doenças e na melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. A população de Manaus não ganhou esse presente de repente. A cidade tem, há um bom tempo, uma preocupação com as pessoas dessa faixa etária. A Fundação Doutor Thomas, que hoje tem a função de Secretaria Municipal do Idoso, surgiu em 1909, funcionando como um "asilo de mendicância ", que recebia tanto idosos quanto moradores de rua ou pessoas doentes. Aos poucos, foi mudando seu perfil. Hoje, a fundação é responsável por implantar a política municipal do idoso e, para isso, tem vários programas.

 

"A grande inovação da Política Nacional do Idoso é o desenvolvimento de uma rede de proteção social aos indivíduos com mais de 60 anos. E no Brasil o único lugar que já tem esse atendimento integral é Manaus ", explica Alba Maria Abigalil, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, órgão responsável por coordenar a implantação da política no Brasil. A maior atenção às pessoas mais velhas é um processo que se desenvolve em Manaus já há algum tempo. Para a diretora da Fundação Doutor Thomas, Lúcia Ramos, a razão para isso pode ser a tradição da população de se articular em movimentos sociais. Na cidade, existem cerca de 180 grupos de idosos que se reúnem nos bairros e, além de promover atividades de lazer e sociais, tentam defender os direitos dos grupos. "Em 1988, por exemplo, esses grupos fizeram manifestação na sede do governo do estado e o resultado foi a apresentação do projeto dos Centros de Atenção Integrada da Melhor Idade (Caimi) ", conta. Os Caimi funcionam como postos de saúde especiais para o público mais velho.

No caso do parque, mais do que pressão dos grupos organizados, houve a determinação política de priorizar o atendimento a essa população, com o investimento de um valor significativo. A intenção da Fundação Doutor Thomas, no final dos anos 90, era vender parte do seu terreno de 54 mil metros quadrados para financiar uma reforma na casa que hoje funciona como moradia para idosos. O terreno está num bairro nobre da cidade e, certamente, seria alvo de interesse imobiliário. No entanto, a idéia de usar a área para construir um espaço para convivência do público idoso acabou ganhando força dentro da prefeitura. O projeto deu visibilidade à administração municipal. Mas uma das críticas que se faz é que, por causa da construção, a reforma da casa da Fundação Doutor Thomas foi adiada e só está saindo hoje.

Experiência Abigalil, do Ministério do Desenvolvimento Social, considera que para que projetos semelhantes sejam implantados em outros lugares são fundamentais a existência de vontade política e o investimento na formação de profissionais qualificados no atendimento à terceira idade.

O arquiteto autor do projeto do parque, Almir de Oliveira, lembra que a tecnologia para construção desse tipo de espaço já é conhecida: são técnicas que eliminam barreiras físicas e mobiliário adequado para a população idosa - bancos mais altos, por exemplo. "O que é preciso para replicar esse tipo de experiência é, basicamente, a vontade de fazer. E também é essencial ter um espaço grande, para que o atendimento possa ser feito em uma escala razoável ", afirma.

A população brasileira está envelhecendo. O percentual de maiores de 60 anos era de 4% em 1950 e pulou para 8% em 1996. Espera-se que, em 2020, existam 28,5 milhões de pessoas idosas. E a tendência, graças aos avanços da ciência e da medicina, é que as pessoas vivam mais tempo, e com mais saúde. É preciso, portanto, que as diretrizes traçadas na Política Nacional do Idoso se tornem realidade e que programas como o de Manaus sejam implantados em outras cidades. Assim, poderemos garantir que essa importante fase da vida seja vivida com intensidade e que a sabedoria de quem já passou por tanta coisa seja compartilhada com os mais novos.

 
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