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Achim Steiner - Em nome do planeta

2006. Ano 3 . Edição 25 - 3/8/2006

Há no mundo cerca de 1,7mil impor tantes áreas de pesca em alto-mar. Delas, 1,4 mil já estão no nível máximo de exploração ou acima dele

Por Andréa Wolffenbüttel, de São Paulo

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O economista alemão Achim Steiner é o quinto diretor-geral do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Durante os próximos quatro anos, comandará uma das mais poderosas instituições de preservação ambiental - e promete lutar com todas as forças para acabar com o mito de que crescimento econômico não rima com conservação da natureza. Nesta entrevista, concedida por telefone desde Nairóbi, Steiner explica por que é tão importante promover a sustentabilidade imediatamente e alerta: os principais prejudicados pelo mau uso dos recursos naturais são os pobres.

Desafios - Atualmente, quais são as maiores ameaças ao meio ambiente?
Steiner -
Eu considero que existem três ameaças principais. Seguramente as mudanças climáticas representam um grande problema, especialmente porque ainda não conseguimos entender por completo suas causas e, portanto,não conhecemos exatamente quais as conseqüências. Não temos respostas claras para muitas perguntas que fazemos.Então, temos de priorizar a compreensão do fenômeno e como controlá-lo.

Desafios - E as outras?
Steiner -
O segundo maior problema a ser enfrentado é a falta de sustentabilidade das fontes naturais do planeta,como florestas,áreas de pesca, uso da água. Em muitas partes do mundo atingimos um ponto em que o consumo está prestes a esgotá-las. Isso, é claro, reduz muito a possibilidade de que elas existam no futuro.

Desafios - Em que lugares as coisas já atingiram esse ponto?
Steiner -
Bem, por exemplo, na perda florestal. Em muitas partes do mundo estamos acabando com florestas num ritmo muito maior do que nossa capacidade de replantá-las. Na América Latina, na Ásia, em todos os continentes, esse é um problema muito sério.Um segundo caso gravíssimo é a pesca.No mundo, temos cerca de 1,7 mil importantes áreas de pesca em alto-mar. Dessas, 1,4 mil já estão no nível máximo de exploração ou acima dele. Isso significa que a maioria das áreas de pesca está em situação de consumo não sustentável.

Um ecologista nômade

O atual diretor-geral do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) tem nacionalidade brasileira, pois nasceu em Carazinho, no Rio Grande do Sul, há 45 anos. Mas esse é apenas um detalhe exótico em sua biografia, já que Achim Steiner deixou o país aos 10 anos de idade, nunca mais voltou à cidade natal nem se sente à vontade conversando em português. Seu pai era um experiente agrônomo alemão e veio ao Brasil a convite de produtores de cereais que queriam aprimorar a qualidade do grão fornecido às duas mais famosas cervejarias nacionais: Brahma e Antarctica. Terminado o trabalho, ele e sua família retornaram à Alemanha, onde o jovem Steiner viveu, estudou e viu nascer o interesse pela natureza. A viagem de volta para a Europa foi apenas a primeira mudança na vida do economista, que já morou em quatro continentes. Primeiro esteve na Inglaterra, onde completou seus estudos sobre desenvolvimento internacional e política ambiental na Universidade de Oxford e na Universidade de Londres.Também foi aluno do Instituto Alemão de Desenvolvimento, em Berlim e da Escola de Administração de Empresas de Harvard, nos Estados Unidos. Esteve no Sudeste Asiático como consultor técnico de um programa de manejo sustentável da bacia do rio Mekong, que cruza diversos países, entre eles Tibet, Tailândia e Vietnã. Em 1998, foi nomeado secretário-geral da Comissão Mundial de Represas (World Comission on Dams), cuja matriz fica na África do Sul e que tem a tarefa de avaliar o impacto sobre o meio ambiente provocado pela construção de barragens.Antes de ser escolhido para comandar o Pnuma, Steiner foi diretor-geral, por cinco anos, da União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN, das iniciais em inglês), sediada em Zurique, na Suíça.Ao ser aclamado, em março passado, diretor-geral do Pnuma, Steiner se mudou novamente, desta vez para Nairóbi, capital do Quênia, no coração da África, onde está instalado o seu escritório e de onde comanda uma força-tarefa cuja missão é simplesmente salvar o planeta.

Desafios - Qual é a terceira ameaça?
Steiner -
O último e maior desafio está no fato de que a política de desenvolvimento e os instrumentos econômicos não são adequados para lidar com o custo/benefício do uso ambiental. É preciso mudar a percepção da relação entre desenvolvimento econômico e natureza.A análise do custo/ benefício tem de considerar não apenas o uso das fontes,mas também o investimento em sua sustentabilidade. Se não for assim, jamais haverá sucesso nas mudanças das políticas de desenvolvimento e investimento público.

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Desafios - O senhor realmente acredita que é possível conciliar desenvolvimento econômico com proteção ambiental?
Steiner - Com certeza. Nós, como seres humanos, e tendo acesso às opções econômicas, estamos sempre em condições de mudar a forma como encaramos os recursos do planeta. Muitos já estão fazendo isso. Temos exemplos de países que criaram investimentos alternativos no meio ambiente e, com isso, oportunidades reais de crescimento. Por exemplo, muitos países transformaram o turismo numa indústria importante com a implantação de sistemas de parques nacionais. A Alemanha desenvolveu tantas fábricas no campo da tecnologia do meio ambiente que, hoje, 5% dos produtos exportados pelo país são relacionados a essa atividade. O ponto-chave é decidir se consideramos as fontes naturais como gratuitas - e, conseqüentemente, não tendo um preço a ser pago no futuro - ou se vamos internalizar o custo do gerenciamento sustentável,baseado nos benefícios a serem aproveitados em tempos vindouros.

Desafios - O último relatório publicado pelo Pnuma, a respeito da África, af irma que a correta exploração dos recursos naturais pode tirar o continente de seu estado de pobreza. Como isso funcionaria?
Steiner -
Bem, há dois pontos importantes nessa questão, que também dizem respeito ao Brasil. As comunidades pobres dependem mais diretamente dos recursos naturais do que qualquer outro grupo da sociedade. Então, para combater a pobreza, é preciso investir na produtividade do solo, da agricultura, das nascentes de água, das florestas e dos pesqueiros, entre outros. Se esses recursos entrarem em colapso, se os pobres não puderem mais contar com eles, ficarão ainda mais pobres. O segundo ponto afeta o desenvolvimento como um todo. O crescimento, no cenário microeconômico do continente africano e em diversos países em desenvolvimento, depende muito da exploração dos recursos naturais. Assim, o custo da destruição do meio ambiente pode ser superior àquele que a economia pode suportar.Há um exemplo recente. A China acaba de anunciar o investimento no combate à poluição. Serão 175 bilhões de dólares nos próximos cinco anos. É muito dinheiro, que está sendo desviado para lidar com o custo do crescimento não sustentável. Nem todas as economias conseguem arcar com valores dessa dimensão.

"A Alemanha desenvolveu tantas fábricas no campo da tecnologia do meio ambiente que, hoje, essa área já responde por 5% de toda a exportação do país"

Desafios - Mas, especif icamente, que tipo de atividades a África deveria explorar?
Steiner -
Existem diversas atividades, mas, já que você me pede uma, posso mencionar a geração de energia. A África tem grande potencial em energia hidrelétrica e solar. Com investimento sustentável nesses setores, o continente poderia se especializar e teria uma grande oportunidade de promover o crescimento econômico.Atualmente, a África produz apenas 4% da eletricidade mundial, o que é muito pouco para uma região com tantas fontes à disposição. Considere que muitas pessoas ainda não têm acesso à eletricidade na região. Então, investir em geração de energia com fontes próprias é um passo importante.

Desafios - Qual é a situação da América Latina?
Steiner -
Bem,não se deve fazer uma comparação direta com a África,mas o fenômeno de pessoas pobres dependendo da exploração de recursos naturais certamente também ocorre na América Latina.E é algo que os governos têm de levar em consideração. O principal desafio é promover o desenvolvimento por meio da intensificação da agricultura, sem colocar em risco o meio ambiente. Num país como o Brasil, essa é uma questão muito interessante, pois a agricultura moderna e de alta tecnologia convive com a produção rural de pequena escala. Diante desse quadro, o acesso à terra e à agricultura produtiva é um problema importante e complexo.Também é assim em outros países latinoamericanos. Para estabelecer condições políticas de desenvolvimento econômico, os governos terão de enfrentar a tarefa de promover o uso do solo, das terras férteis e das fontes de água de modo a priorizar o combate à pobreza. Essas escolhas aparecem também em outros setores, como no campo da energia. Em muitos países da América Lática, a eletricidade atinge preços absurdos, o que provoca perda de produtividade e pressão para exploração das fontes de energia disponíveis. O investimento em hidrelétricas tem sido fundamental, e o Brasil soube fazer dele uma de suas estratégias para a geração de energia. Outros países têm na água sua principal fonte de energia, embora não disponham dela com fartura.Nesses casos, a água poderá atingir preços semelhantes aos da gasolina. Por isso, é importante enfrentar o desafio energético imediatamente.

 

Desafios - Existe a tendência de que, no futuro, alguns países paguem para que os outros conservem o meio ambiente?
Steiner -
Essa é uma questão de importância vital. O mecanismo de desenvolvimento limpo no Protocolo de Kyoto (acordo internacional que estabeleceu o mercado de créditos de carbono) gerou uma iniciativa completamente nova (leia reportagem na pág. 54).Aumentou não apenas a força do mercado, mas também a capacidade de transferência de recursos,dos mais ricos para os menos desenvolvidos dispostos a dar prioridade à conservação do meio ambiente. Esse é um caso - e acho que no futuro veremos cada vez mais exemplos - em que o mercado internacional força as nações desenvolvidas a pagar por benefícios que extraem do meio ambiente mundial.

Desafios - Iniciativas assim podem garantir a sustentabilidade do planeta?
Steiner -
Eu acho que ajudam muito, mas temos de avançar mais.Por exemplo, os resultados da ECO-92,realizada no Rio de Janeiro, foram uma das maiores desilusões da última década. Naquela ocasião, a comunidade internacional fechou um acordo. Muitos países desenvolvidos prometeram contribuições financeiras para incentivar a proteção ambiental, tão relevante para o planeta. Mas não têm cumprido a promessa, o que é decepcionante para os países em desenvolvimento. Além do mais, o mundo industrializado não deve apenas ajudar financeiramente, mas também possibilitar maior acesso à tecnologia e oferecer oportunidades de transferência de tecnologia.Todo esse complexo compõe a solidariedade ao meio ambiente global e o esforço na busca do desenvolvimento sustentável.

"As comunidades pobres, na maioria dos países, dependem mais diretamente dos recursos naturais do que qualquer outro grupo da sociedade"

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Desafios - Apesar dessas frustrações, o senhor enxerga o futuro com otimismo?
Steiner - Com certeza. No atual contexto de alteração do meio ambiente, mudança climática, escassez de água e destruição de fontes naturais, as pessoas estão cada vez mais exigindo que seus governos, e também o setor privado, encarem os problemas e proponham soluções. A qualidade de vida de milhões de pessoas caiu muito nas duas últimas décadas em conseqüência da poluição e da degradação ambiental. As ameaças de mudanças climáticas estão começando a fazer com que não apenas o público, mas também os tomadores de decisões e os economistas, cientes do enorme custo a enfrentar nos próximos anos, mudem a forma de abordar a questão da sustentabilidade. É inevitável que, ao longo dos próximos dez ou vinte anos, todos percebam a necessidade de o desenvolvimento econômico pagar a conta das implicações ambientais das decisões públicas e privadas. E busquem maneiras para que essa compensação se dê. Creio que o mercado será obrigado a mudar a postura atual, de uso da natureza como se ela fosse infindável. Os modos de produção e de consumo deverão ser alterados, de forma a assegurar maior sustentabilidade. Sei que será um período doloroso de transição porque, infelizmente, as mudanças ambientais que estamos testemunhando em termos globais têm sido muito rápidas e nossa resposta excessivamente lenta.Hoje,muitas comunidades já pagam um preço alto pelo atraso na determinação de prioridades de desenvolvimento sustentável.Mas, como acredito que, em sua essência, a espécie humana não quer ser responsável pela própria destruição, o otimismo é plenamente justificável.

Desafios - Quais os principais objetivos que o senhor pretende alcançar à frente do Pnuma?
Steiner -
A prioridade máxima está centrada no contexto das discussões sobre a reforma da Organização das Nações Unidas (ONU), considerando seu grande poder de ação no meio ambiente. Pretendemos levar todas as unidades da organização a se unirem numa força de trabalho compacta, agindo com maior eficiência e racionalidade, de modo a facilitar a tarefa da comunidade internacional, com suas convenções e suas instituições, na preservação dos recursos naturais. Em segundo lugar, gostaria de colocar todas essas unidades na linha de frente do combate ao mito de que existe contradição entre crescimento econômico e meio ambiente, com ajuda aos governos, à sociedade civil e ao setor privado. Não podemos continuar a permitir que, em nome do progresso, seja mantida a máxima de que o investimento em meio ambiente reduz o desenvolvimento. No século XXI, uma das bases para alcançar o progresso econômico será o investimento em sustentabilidade ambiental. Eu adoraria ver isso ser tratado não como hipótese a ser contestada, mas como verdade compreendida e aceita por todos.

 
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