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Michal Gartenkraut: - Pelo ensino de qualidade

2005. Ano 2 . Edição 10 - 1/5/2005

O reitor do ITA, uma das melhores escolas de Engenharia do país, diz que sem um bom ensino básico não há democratização do conhecimento.

Por Ottoni Fernandes Jr., de São José dos Campos

O Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA), a mais bem-sucedida escola de engenharia do Brasil, nasceu do sonho do marechal do ar Casemiro Montenegro Filho. Está abrigado, desde meados do século passado, no Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA), responsável por realizar pesquisas e desenvolvimentos que sirvam de base para uma indústria aeronáutica e aeroespacial no país e, em sua implantação, contou com professores do prestigioso Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT), trazidos dos Estados Unidos pelo próprio marechal Montenegro. ITA e CTA, juntos, forneceram os talentos que permitiram construir uma poderosa indústria de alta tecnologia na região de São José dos Campos, no vale do Paraíba, interior de São Paulo. Ali brilham empresas como a Embraer, onde trabalham quatro mil engenheiros, a maioria formada pelo ITA. Nesta entrevista, Michal Gartenkraut, reitor do Instituto desde 2001, fala da qualidade do ensino superior no Brasil, de reforma universitária e de inovação tecnológica, entre outros temas.

Desafios - Qual o segredo do sucesso do ITA, formador das pessoas que ajudaram a construir a moderna indústria aeroespacial brasileira?
Gartenkraut - O ITA foi criado oficialmente em 1954, mas seu embrião estava no curso ministrado a partir de 1947 no Instituto Militar de Engenharia, da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Um de seus segredos é o modelo educacional. Há um contato estreito entre os professores e os alunos, que moram em alojamentos dentro do campus. É um relacionamento muito mais intenso do que aquele existente em outras universidades. Outro fator de sucesso é a possibilidade de selecionar talentos, atraídos pelo bom nível da escola. Já chegamos a ter nove mil candidatos disputando 130 vagas. O ITA nasceu inserido num universo de forte cooperação internacional, com muitos professores estrangeiros, incluindo os quatro primeiro reitores. E talvez o mais importante fator de êxito tenha sido o plano de organização, elaborado pelo marechal Montenegro. Ele inseriu a faculdade no conjunto de institutos de pesquisa abrigados no CTA, concebidos como os pilares de um projeto de política industrial que permitiu montar a indústria aeroespacial brasileira.

Desafios - Foi preciso um homem visionário para implantar esse processo?
Gartenkraut - Certamente, pois o projeto foi concebido quando a indústria brasileira ainda engatinhava. A meta era produzir aviões quando mal conseguíamos fabricar bicicletas. Já havia a ambição de participar, no mercado mundial, de um segmento muito sofisticado da indústria. Também foi necessária muita persistência. E é preciso considerar o mérito dos militares da Aeronáutica. Eles nunca deixaram de dar suporte ao projeto, que enfrentou muitos problemas ao longo do tempo.

Desafios - O professor do ITA também deve se envolver em pesquisa, ou sua missão é apenas ensinar?
Gartenkraut - O plano original era que os pesquisadores do CTA também dessem aula no ITA, mas isso acabou mudando. As duas instituições são formalmente separadas. Mesmo assim, alguns pesquisadores do CTA dão aula no ITA e professores participam de projetos em andamento nos institutos de pesquisa do CTA - embora o grau de cooperação seja muito baixo. Hoje, com a velocidade do progresso da ciência e da tecnologia é inimaginável um professor pronto. A atualização tem de ser permanente, e uma boa maneira de conseguir isso é a pesquisa, que em engenharia pode ser ligada a questões industriais - não precisa ser necessariamente feita num laboratório. Essa é uma maneira de manter os professores em contato com a última palavra em matéria de tecnologia. Nossa prioridade é o ensino, a transmissão de conhecimentos. Mas para os 150 professores de nossos cursos de pós-graduação é muito mais importante a interação com a pesquisa tecnológica.

Desafios - O que diferencia o ITA de outras escolas de Engenharia brasileiras?
Gartenkraut - Nossa meta é a formação completa do ser humano. Os primeiros consultores norte-americanos que ajudaram a criar o ITA detectaram que nosso sistema universitário, inspirado no modelo francês, não funcionava bem porque o ensino fundamental e o ensino médio eram fracos e não garantiam uma boa formação para quem ingressava na universidade. Na França o sistema funciona porque o aluno recebe uma boa formação básica, lê todos os clássicos, absorve conceitos filosóficos e de cidadania. Assim, optaram pela criação de um ciclo básico com duração de dois anos no ITA. E temos também um departamento de humanidades.

Desafios - Como vocês fazem para manter uma estrutura de ensino sempre alinhada com o progresso da ciência e da tecnologia?
Gartenkraut - Cada uma de nossas seis divisões de ensino, incluindo a de pós-graduação, revê os currículos e as disciplinas anualmente, e temos uma estrutura funcional que dá agilidade a esse processo, o que não ocorre em outras universidades públicas, que têm uma estrutura complexa de tomada de decisão e não conseguem manter os currículos atualizados. Nós fizemos uma reforma estrutural. Antes tínhamos divisões e departamentos e extinguimos um nível operacional. Hoje, para montar um curso, não é necessário criar uma divisão: basta um coordenador estabelecer um currículo e comprar disciplinas das diversas divisões. O curso vira uma entidade virtual. Outra novidade do ITA é uma parceria com a Fundação Getulio Vargas para oferecer disciplinas ligadas à gestão empresarial, típicas de cursos de pós-graduação, para os alunos do quinto ano.

Desafios - Diante da intensa procura pelo vestibular do ITA, vocês pretendem aumentar o número de vagas?
Gartenkraut - Nós ampliamos um pouquinho, para 130 vagas, mas não queremos ir mais longe, para manter o padrão de qualidade e também porque temos limitações físicas, como, por exemplo, de instalações para a moradia dos alunos.

Desafios - Qual a importância dos recursos não-orçamentários para sustentar o funcionamento do ITA?
Gartenkraut - Metade de nossos custos é coberta por recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e de empresas privadas. Os recursos orçamentários cobrem a folha de pagamentos.

Desafios - Que outras empresas, além da Embraer, têm parcerias com o ITA?
Gartenkraut - O pessoal do nosso departamento de Física está ajudando a Petrobras a desenvolver turbinas a gás natural de pequeno porte, pois a empresa quer incentivar o consumo desse combustível.

Desafios - O projeto de reforma universitária que o Ministério da Educação submeteu a consulta pública inclui a criação de um ciclo básico de dois anos em todas as faculdades, a exemplo do que faz o ITA. É uma boa proposta?
Gartenkraut - Como idéia geral, sim, mas eu não gosto de aplicar idéias genéricas em todos os campos do conhecimento, em todos os cantos do país. É preciso descentralizar as decisões. Pode ser que um ciclo básico de dois anos provoque distorções na área de ciências humanas ou de artes. Não dá para aplicar o mesmo modelo a todas as faculdades.

Desafios - Quais os pontos positivos da proposta de reforma universitária?
Gartenkraut - A idéia de fortalecer o ensino público universitário, pois estamos numa fase de forte privatização. Eu tenho experiência no setor privado e sou grande defensor do ensino público de qualidade. É assim na maioria dos países desenvolvidos, até mesmo nos Estados Unidos, que são os campeões da iniciativa privada. A universidade é uma reserva ética na sociedade, onde existem conflitos de interesses. Mas no Brasil vai ser necessário reduzir o custo do ensino público. Nem todas as universidades precisam ter uma forte área de pesquisa, trabalhando em todos os campos. No modelo norte-americano, só algumas universidades se dedicam à pesquisa e ao desenvolvimento. Outras, públicas ou privadas, se especializam no ensino, na formação de profissionais, muitas vezes apenas em cursos de graduação. Repito: o modelo brasileiro de universidade não pode ser centralizador. Temos de ter mais flexibilidade. A universidade pública tem de estar voltada para as realidades regionais, na formação de pessoal e nas pesquisas.

Desafios - A Lei de Inovação dará mais condições para que as pesquisas de universidades públicas resultem em produtos inovadores que alavanquem o desenvolvimento do país?
Gartenkraut - Eu acho que a lei é muito positiva. Traz vários avanços. Permite, por exemplo, que um professor e pesquisador de universidade pública se afaste temporariamente, e sem remuneração, para montar uma empresa de base tecnológica. Claro que não pode ser para montar uma sorveteria. Outro avanço é a concessão de incentivos fiscais para as empresas de base tecnológica. Isso, além da possibilidade de transferência de tecnologia gerada em universidades públicas a empresas privadas. É claro que pode aparecer um burocrata que questione a definição de empresa de base tecnológica e conteste a concessão de subvenções fiscais. Mas isso é um problema operacional.

Desafios - A mudança pode beneficiar o ITA?
Gartenkraut - Nós já usamos recursos de fundos setoriais da Finep e da Fapesp, bem como de empresas privadas. Mas tem aumentado o número de empresas que nos procuram para fazer parcerias. A Embraer investe no ITA cerca de três milhões de reais por ano. Patrocina um mestrado profissionalizante de engenharia aeronáutica e nos ajuda a renovar os laboratórios.

Desafios - O senhor acredita que é preciso mudar a legislação de compras governamentais para induzir o desenvolvimento tecnológico das indústrias instaladas no Brasil?
Gartenkraut - A lei atual impede qualquer ação consistente nessa direção, mas o potencial é imenso. Anos atrás, antes da privatização do setor elétrico, assisti a uma palestra do presidente da Siemens do Brasil. Segundo ele, o que levou a direção da multinacional a implantar centros de desenvolvimento tecnológico no país foi o interesse em conquistar contratos de equipamentos com o governo.

Desafios - A proposta de reservar vagas nas universidades públicas para alunos de escolas públicas de ensino médio é uma forma de democratização do conhecimento?
Gartenkraut - Esse é um caso complicado. Veja só a questão de reservas de cotas para pessoas da raça negra. Se a cota for pequena, haverá aumento no número de pessoas de origem negra na disputa, talvez em proporção maior do que nas vagas normais. Aqui no ITA reservamos 20 vagas anuais para quem quer seguir a carreira militar e se tornar um engenheiro do quadro da Aeronáutica. Algumas vezes há, proporcionalmente, mais candidatos na disputa por essas 20 cadeiras do que para as vagas normais.

Desafios - Mas como democratizar o acesso à universidade pública?
Gartenkraut - Somente com um ensino fundamental e médio público e de alta qualidade, o que exige mais investimentos, inclusive na formação de professores.

Desafios - Alguns pesquisadores e educadores, como o professor Jacob Palis, do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), defendem que, numa primeira fase do aprimoramento do ensino médio público, os esforços deveriam se concentrar na melhoria da qualidade nas áreas de português e de matemática. O que lhe parece?
Gartenkraut - Concordo totalmente. Não adianta um aluno ser bom em biologia se não sabe português, conhecimento básico para escrever, falar, entender. A matemática, por sua vez, não é apenas um instrumento para contar. É absolutamente essencial para o desenvolvimento da capacidade de raciocínio abstrato. Eu, na Polônia, até o quarto ano do ciclo fundamental só estudei matemática e polonês.

Desafios - O governo do Ceará fortaleceu o ensino público de matemática e estimula a participação de alunos da rede oficial nas Olimpíadas de Matemática organizadas pela Sociedade Brasileira de Matemática. Os cearenses têm ocupado grande número de vagas no ITA.
Gartenkraut - É verdade, está aumentando a presença de cearenses no ITA, mas isso não se deve apenas às iniciativas do governo estadual no ensino médio. Existem no estado, também, bons cursos de preparação para o vestibular. Aliás, os cursinhos pré-vestibulares gratuitos, como os mantidos pela Universidade de São Paulo e pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), têm desempenhado um papel fundamental para que alunos da escola pública conquistem acesso às melhores universidades do país.

 
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