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Políticas sociais- Muitos avanços em 20 anos - A Constituição de 1988 foi um marco para a área social no Brasil

2009 . Ano 6 . Edição 54 - 30/10/2009

Os estragos de uma guerra

A pior crise financeira dos últimos 80 anos deixou sequelas típicas de uma grande guerra mundial, e exigiu dos tesouros e bancos centrais um esforço de trilhões de dólares para restaurar a confiança dos investidores, o funcionamento dos mercados e o crescimento da economia

Por Andrea Vieira de Brasília

O mundo enfrentou nos últimos 24 meses a pior crise financeira desde a Grande Depressão (1929-1933). Observadores da economia global de fato comparam essa crise a uma enorme guerra. "Do ponto de vista das finanças públicas, essa crise tem a dimensão da Segunda Guerra Mundial. O impacto nos tesouros é brutal", analisa Marcos Antonio Cintra, técnico do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea).

A atual crise é considerada uma das mais devastadoras da história, porque nasceu no centro do sistema financeiro e econômico mundial e contaminou todo o sistema global. A origem está na tentativa dos mercados financeiros, desregulamentados e liberalizados, de valorizar seus recursos e ampliar riqueza, alimentado por um sistema de crédito que alavancou um processo de euforia desenfreada. Em meio ao turbilhão de otimismo, os agentes financeiros inventaram produtos sofisticados e opacos com riscos muito maiores do que podiam suportar. Foi assim que surgiram nos Estados Unidos as hipotecas subprime, crédito de altíssimo risco concedido a tomadores de empréstimos que não atendiam requisitos mínimos de garantia para arcar com um financiamento imobiliário.

As operações subprime caracterizavam-se por empréstimo de longo prazo, em geral de 30 anos, divididos em dois períodos, um com prestações muito baixas nos dois ou três primeiros anos, e o outro, muito longo, com parcelas mais pesadas. Nesse segundo período ressurgiu a inadimplência que, associada à total falta de garantia, detonou a "bolha" que fez ruir as finanças de grandes bancos, fundos de investimento, companhias seguradoras e hedge funds. Relatório do Banco de Desenvolvimento da Ásia aponta que o sistema financeiro mundial contabilizou perdas de US$ 50 trilhões somente com a depreciação de seus ativos. A desvalorização das ações dos bancos e dos imóveis foi insuportável. As ações do Citibank, por exemplo, que valiam US$ 90 antes da crise, caíram para US$1. Um preço simbólico da devastação de um banco que já foi o maior do mundo.

Tendo em vista que a crise teve origem financeira, os governos, de maneira geral, começaram a reagir com esforços vigorosos nas áreas monetária, de crédito e fiscal. A meta inicial era restabelecer a confiança dos investidores. Os bancos centrais atuaram de forma intensa, com a injeção direta de liquidez no mercado monetário e a flexibilização das normas de empréstimos (envolvendo instituições não-bancárias). Alterações nas taxas básicas de juros, recapitalização de bancos e garantia de depósitos e novos empréstimos foram as medidas mais frequentes. Houve ainda robustas intervenções diretas em corporações para evitar o aumento da desconfiança e do desemprego.

Com o agravamento da crise em setembro de 2008, muitos países passaram a adotar políticas ainda mais agressivas para proteger as economias domésticas. Os governos abriram os cofres, reduziram taxas de juros, lançaram mão de reservas e abdicaram de impostos para socorrer bancos, criar pacotes de estímulos fiscais, assegurar a oferta de crédito, salvar empresas. Nunca os tesouros gastaram tanto. Só as diversas agências americanas disponibilizaram cerca de US$ 13,7 trilhões para salvar o seu sistema financeiro, o que representa 98,57% do PIB norte-americano (US$ 14,14 trilhões no segundo trimestre de 2009). Para combater os estragos causados por um mercado desregulamentado, que inventou produtos complexos, subestimou riscos e precificou mal os ativos financeiros, o governo foi forçado a comprar títulos com pouca liquidez, injetar capital nos bancos, ofertar linhas de crédito para empresas (commercial papers), ajudar proprietários de imóveis a renegociar hipotecas, tornar-se sócio do setor automotivo, adquirindo 60% das ações da General Motors (GM). Com a redução da arrecadação - associada à própria dinâmica da crise e às reduções nos impostos - e a ampliação dos gastos públicos, o Tesouro americano deverá realizar um déficit fiscal da ordem de 13% do PIB em 2009.

Estudo do Ipea mostra quais foram as medidas de reação à crise nas principais economias mundiais: os mais influentes do G7, grupo das sete países mais ricos do mundo, e dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Embora as ações tenham sido tão amplas quanto a crise, alguns países souberam aproveitar os pacotes de socorro ao setor privado para fomentar o desenvolvimento a longo prazo. A França, por exemplo, injetou de ? 7,8 bilhões nas montadoras PSA e Renault em forma de crédito a taxas preferenciais e exigiu o compromisso futuro de fabricação de carros elétricos. A China lançou um pacote de US$ 25 bilhões em empréstimos a países do Sudeste Asiático destinados a infraestrutura, e tenta redefinir o papel da sua moeda, o iuan, no mercado financeiro mundial ou, pelo menos, no asiático. Empresas chinesas já estão autorizadas a fechar negócios com os vizinhos usando o iuan como moeda corrente. A Índia alterou regras para expandir a entrada de investimento direto na economia. Nos Estados Unidos, a recuperação da GM está condicionada a um programa de desenvolvimento tecnológico de carros mais eficientes, econômicos e limpos (com menor emissão de gases poluentes).


Retomada do crescimento

A partir de março de 2009, os indicadores econômicos passam a emitir sinais de que a crise estava perdendo força. Segundo o Ipea, essa reversão tem duas dimensões: de um lado, a chamada macroeconomia dos ativos financeiros saiu na frente. As cotações das ações, os preços das commodities agrícolas, metálicas e energéticas (petróleo) começaram a registrar valorização. A aversão ao risco reduziu, com os investidores retomando suas operações de compra e venda de ativos financeiros. Os balanços dos bancos passaram a mostrar sinais positivos , melhorando a confiança nos mercados. A partir de julho, foi ficando mais claro que também o emprego e a renda começaram a reagir.

Economias avançadas como Japão, Alemanha e França registram alta no PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre de 2009. Países em desenvolvimento, como Brasil e Índia, acompanharam a recuperação do crescimento da soma de suas riquezas. Parece ser o fim da recessão mundial, embora o maior e mais importante mercado do mundo, os Estados Unidos, epicentro da crise, continue com resultado negativo, assim como o Reino Unido. A China, que manteve a expansão de sua economia mesmo nos momentos mais críticos, embora em patamares menores, recuperou o vigor no crescimento.

O Ipea avalia que, com a agressividade da intervenção pública - por meio das políticas fiscal e monetária - e da atuação dos bancos centrais na recapitalização das instituições financeiras, é praticamente impossível a economia mundial não se recuperar.

A grande questão é o ritmo desta retomada. Nesse sentido, Marcos Cintra observa que o crescimento registrado de maio a junho é positivo em relação ao período imediatamente anterior (janeiro e março de 2009), momento ainda crítico, mas bastante negativo em relação ao mesmo período de 2008. "O ritmo da recuperação tem sido muito lento, na margem, mas positivo,", analisa. Alguns indicadores analisados pelo Ipea continuam apontando resultados negativos para desempenho da economia global em 2009, tais como as elevadas taxas de desemprego e dificuldades para a expansão do crédito corporativo.

Dessa forma, o ritmo de recuperação da economia global permanece incerto. Para os técnicos do Ipea, qualquer previsão sobre o comportamento da retomada do crescimento - se será contínua ou haverá oscilações -, é mero chute. "Ninguém tem essa resposta", garante Marcos Cintra. Para ele, a velocidade e a forma dessa recuperação ainda não estão claras. "Do ponto de vista lógico, considerando a dimensão da intervenção, a economia global vai se recuperar. Agora, como a crise de confiança foi muito grande e a contração do crédito foi muito acentuada, as apostas são de que a recuperação será lenta e com taxas de crescimento pequenas. O emprego deve demorar a reagir, sobretudo porque as empresas realizam mudanças de processos que resultam em ganhos de produtividade. Outro fator que limita o ritmo da retomada é a existência de elevada capacidade ociosa instalada: as empresas podem ampliar a produção sem novos investimentos. É só o que dá para dizer", afirma o técnico do Ipea.

Embora os empresários brasileiros reclamem da falta de uma política mais efetiva de estímulo às exportações, a visão geral do setor produtivo é de um horizonte melhor. Mas nem tanto. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) concorda que a fase aguda da crise está superada, porém desconfia das análises que apontam o seu fim. Para Flávio Castelo Branco, gerente executivo de política econômica da CNI, ainda é preciso criar um ambiente saudável de retomada do crescimento. "É prematuro supor que a crise foi vencida porque ainda há muitos problemas a serem equacionados, como a tendência de desvalorização do dólar, atitudes protecionistas e a desregulamentação do mercado financeiro", avalia o economista.

O setor industrial brasileiro foi bastante afetado pela crise em função da escassez de crédito e da retração do comércio mundial. As empresas de bens de capital e as exportadoras foram as que mais sofreram seus efeitos. Já as que atendem as demandas domésticas básicas sentiram menos. Segundo a CNI, a queda nas exportações é a maior preocupação no momento, principalmente pela dificuldade de recuperação das vendas externas em uma economia encolhida, em que a competição será ainda mais acirrada. "A crise foi muito profunda. Despencamos do 18º andar para o 13º e agora vamos começar a subir", avalia Castelo Branco. Essa subida provavelmente será pelas escadas, pois a crise deixou sequelas graves, como um sistema financeiro muito desorganizado, problemas regulatórios, famílias com forte perda de renda. A boa notícia é que pelo menos o mercado de trabalho na indústria chegou a um nível de acomodação.


Lições da crise

Estudo do Fundo Monetário Internacional mostra que entre 1970 e 2007 o mundo contabilizou 124 crises bancárias sistêmicas, 208 crises cambiais e 63 episódios de não pagamento da dívida soberana, o que resulta numa média de três crises bancárias, cinco crises cambiais e quase duas moratórias por ano. As crises financeiras que recorrentemente afetam a economia mundial têm características comuns, explica Luciana Acioly.

Depois do estrago causado, a necessidade de disciplina e fiscalização fica mais que evidente. Até mesmo na percepção do governo e de algumas instituições americanas. Timothy Geithner, secretário do Tesouro americano, enviou ao Congresso em junho de 2009 uma proposta em que sinaliza algumas medidas de regulamentação. Resumidamente, a ideia é levar para a órbita das agências de regulação, sobretudo para o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, todas as instituições e todos os ativos financeiros sistemicamente importantes. Tanto os instrumentos como as instituições financeiras ficariam subordinados a alguma instituição governamental de supervisão e regulação. O poder de regulação e supervisão do Fed seria ampliado para monitorar quaisquer ameaças que coloquem o sistema em risco.

Outro alvo de mudanças seria o obscuro mundo dos mercados de balcão, contratos bilaterais diretos entre as instituições financeiras e os clientes, onde são negociados muitos dos novos instrumentos financeiros de altíssimo risco. Esse modelo de negócio dificulta a formação de preços, a percepção dos riscos envolvidos e até mesmo a contabilização das operações realizadas e efetivamente abertas, isto é, que envolvem riscos para o sistema. "Com os opacos mercados de balcão, no fundo, ninguém sabia o que estava com quem e em que volume", afirma Marcos Cintra. A proposta americana de Geithner é trazer esses ativos que são negociados entre banco e cliente para alguma câmara de compensação e liquidação, mesmo que seja uma câmara privada. Assim, a câmara se responsabiliza pela transação. "Isso diminuiria o risco implícito no sistema financeiro porque você passaria a ter uma visão melhor do mercado, quem está em que ponta e com que volume e, assim, o Fed (e/ou outros supervisores) pode dimensionar os riscos envolvidos", acredita o técnico do Ipea. Esse modelo poderia ter contido a euforia irracional e a contaminação dos riscos por todo o sistema financeiro global na primeira década do século XXI.

Ainda há muita resistência às alterações na regulação e supervisão do mercado financeiro na maior e mais liberal economia do mundo. Mas alguns grandes bancos já sinalizaram o apoio a essas câmaras, porque eles perceberam o elevado nível de risco implícito no sistema de balcão. O Ipea acredita que, se esse tipo de regulamentação passar nos EUA, dado o papel que desempenham no sistema financeiro global, provavelmente outros mercados fariam o mesmo, o que seria um avanço importante, uma forma de aperfeiçoar o sistema e evitar um novo colapso no futuro imediato.


América Latina

Diferentemente de outras crises, desta vez as potências econômicas sofreram impactos muito maiores do que os países emergentes. "O sistema financeiro dos países em desenvolvimento não estava carregando ativos subprimes como os bancos dos países desenvolvidos", explica Marcos Cintra. Segundo ele, os bancos no Brasil e na América do Sul de modo geral, não tinham esses ativos e, por isso, não foram tão afetados. Nesses países, a crise atingiu com mais força quem apostou em derivativos cambiais. "A estimativa é a de que 200 empresas brasileiras, de alguma forma, sofreram com o impacto da abrupta desvalorização da taxa de câmbio desencadeada pela falência do Lehman Brothers, porque estavam comprometidas com operações de derivativos cambiais muito arriscadas", entende Cintra.

De qualquer forma, é sempre bom lembrar que numa economia global, onde o mundo está completamente interligado no fluxo de comércio e de capitais, ninguém fica imune. "Os EUA, quer queira quer não, são o centro desse sistema. Uma vez que eles entraram em crise, vão arrastar todo mundo. E eles, saindo da crise, vão puxar todo mundo. Eles foram os primeiros a entrar e devem ser os primeiros do mundo desenvolvido a sair", aposta Marcos Cintra. Essa leitura é compartilhada por Paul Krugman, prêmio Nobel de economia. Para o economista, não existe aproximação entre a origem da crise e a América Latina, que acabou sendo afetada pela redução do comércio mundial e das exportações. "O que vai recuperar a economia mundial é a recuperação dos grandes países definitivamente", conclui Krugman.

Dentre os latino-americanos, o México é o mais encrencado. Sua estrutura econômica muito atrelada à América do Norte, via NAFTA (North-America Free Trade Agreement), o declínio no preço e nas vendas de petróleo e ainda a epidemia de gripe A, fizeram com que a economia mexicana fosse afetada muito intensamente. O baque realmente foi enorme. O PIB mexicano encolheu 10,3% entre abril e junho de 2009, comparado ao mesmo período do ano passado. Os outros países adotaram medidas de combate à crise dentro dos limites permitidos pelos seus cofres e a tendência também é de recuperação.

 
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