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Dólar - Liderança continua - Iniciativas em busca de nova moeda internacional ainda são tímidas

 

2009 . Ano 6 . Edição 53 - 3/08/2009

 

Queda ou trauma passageiro?

Por Pedro Barreto, de Brasília


Expectativa é que negócios em moeda local deem maior dinamismo ao comércio internacional. Brasil e Argentina já utilizam real e peso em lugar do dólar. Assunto está em discussão com outros países


Após o estouro da crise que balançou as economias do globo no fim do último ano, o Brasil vem discutindo alternativas para pegar carona no enfraquecimento do dólar e substituir a moeda americana nas relações comerciais bilaterais. A ideia ganhou força após a consolidação de um mecanismo implementado com um de nossos mais importantes parceiros, a Argentina.

Desde outubro do ano passado, os dois países adotaram o Sistema de Pagamentos em Moedas Locais (SML). O mecanismo prevê o uso do real e do peso argentino nas operações de comércio exterior de bens e serviços, sem a necessidade de swap para o dólar americano. Importadores e exportadores diminuem custos e se protegem melhor dos riscos de variação cambial.

A migração para o sistema ainda é incipiente, mas vem crescendo. Quando ele foi lançado, do total do comércio entre Brasil e Argentina, apenas 0,0047% era pela linha SML. No último mês de junho, ficou em 1,56%. Do total de nossas exportações para o país vizinho, 2,1% já são pelo novo sistema. 119 empresas brasileiras já usaram o mecanismo para seus negócios com a Argentina.

"O objetivo é ampliar a base de exportadores e abrir perspectivas para micro, pequenos e médios empresários que não se aventuravam no mercado externo. A avaliação é positiva, rumo ao aumento do dinamismo do comércio exterior brasileiro", afi rma a diretora de Assuntos Internacionais do Banco Central, Maria Celina Arraes. Por terem um padrão e estrutura já estabelecidos, grandes empresas continuam trabalhando com o dólar. Em 2008, o volume total de exportações do Brasil para a Argentina foi de US$ 18 bilhões. Neste ano, já são US$ 13 bilhões.

Milko Matijascic, chefe da Assessoria Técnica da Presidência do Ipea, explica as vantagens do SML para os países envolvidos. "As transações ficam simplificadas. Se a moeda usada é a sua, é possível controlar despesas e restrições, sentar e resolver problemas com mais facilidade, algo que não se faz com uma terceira moeda em ação. É um bom estímulo para que os negócios sejam expandidos".

Novo idioma - O horizonte comercial sem a "vigilância" da moeda norte-americana tem sido repetidamente lembrado pelo governo brasileiro. A declaração final da reunião de cúpula dos Bric - Brasil, Rússia, China e Índia, em junho, não faz referência direta ao tema, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem batido nesta tecla.

Ele afirmou a uma revista chinesa, em maio, que "é um absurdo duas nações comerciais importantes continuarem a fazer comércio na moeda de um terceiro país". Em março, durante o Seminário Internacional Sobre Desenvolvimento, em Brasília, organizado pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), já havia dado voz a um "novo idioma político", segundo ele, necessário após a crise atual. "Por que o dólar tem que ser a moeda de troca com a Bolívia, com o Paraguai, com a China? Por que não podemos trocar nas moedas dos nossos países?", afirmou.

Em entrevistas, Mangabeira Unger, exministro de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, chegou a defender a criação de uma espécie de cesta com as principais moedas do mundo. Por meio de uma média ponderada para cada uma delas, seria estabelecida uma moeda internacional, que se constituiria na referência para transações e acordos comerciais.

Em abril de 2009, na última reunião do G20, em Londres, Inglaterra, houve discussões sobre uma nova moeda universal. Mas nada de concreto foi apresentado. Já no âmbito do Mercosul, a expectativa é que o SML seja ampliado. O Brasil já está em fase avançada para implementar o programa com o Uruguai e o Paraguai. De acordo com o Itamaraty, conversas foram iniciadas com China e Índia para que sistema semelhante seja adotado. Os países se mostraram interessados e solicitaram detalhes sobre o funcionamento do sistema.

Mais que uma alternativa comercial entre parceiros, o princípio do SML pode significar um passo importante para uma nova organização econômica no mundo. Tendo ao lado a consolidação do euro e a crescente força do yuan, da China, fica a pergunta: qual a real possibilidade de o dólar abandonar o posto de principal moeda do planeta? Para Fernando Ribeiro, economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), ainda que leve décadas, essa chance existe.

"O SML é interessante, porque reforça os laços entre os países e demonstra que o dólar pode não ser a grande moeda do capitalismo no futuro". Segundo ele, essa é uma tendência que deve crescer lentamente, mas é algo que está na mira dos países. "O baixo crescimento econômico e o aumento do déficit público dos Estados Unidos colocam essa queda de valor do dólar em evidência", diz.

Fernando Ferrari Filho, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tem opinião semelhante. "O enfraquecimento do dólar como moeda de conversibilidade é uma das consequências dessa crise. Experiências como o SML protegem as reservas cambiais dos países de se desestabilizarem e podem fazer com que o processo de integração econômica vá adiante. Se essa tendência se generalizar, abre caminho para uma grande reestruturação que coloca em xeque o dólar como a grande moeda do globo".

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O Sistema de Pagamentos em Moedas Locais (SML) saiu do papel em outubro de 2008 entre Brasil e Argentina. Quando se discutia sua implementação, o objetivo era ter o mecanismo à disposição de todo o Mercosul. É um sistema original, concebido pelo Banco Central brasileiro, que utilizou para pesquisa diversas experiências internacionais na área de sistemas de pagamentos, especialmente aquelas ligadas aos primórdios do comércio intrarregional na Europa. Os responsáveis pela execução são os bancos centrais do Brasil e da Argentina e as instituições financeiras participantes.

Todas as pessoas físicas e jurídicas estão aptas a participar do SML, em operações relativas ao comércio de bens e serviços, como frete e seguro, cuja importação seja em pesos argentinos ou exportação em reais. Diariamente, o Banco Central divulga a taxa SML, calculada a partir das taxas médias de mercado do real e do peso argentino frente ao dólar americano.

Segundo Maria Celina Arraes, o Brasil vem desenvolvendo estudos sobre a viabilidade de mecanismos semelhantes com outros países. "Não é possível estabelecer prazos para esse tipo de atividade que depende, primeiramente, da consolidação de acordos entre as partes. Tecnologicamente, não há restrições para que esses acordos sejam operacionalizados".

Para o economista-chefe da Funcex, ainda que haja o interesse de países de fora do Mercosul em adotar o sistema com o Brasil, o processo não deve ser rápido e pode encontrar resistência das economias que se sentirem prejudicadas. Segundo Fernando Ribeiro, trata-se de uma questão não só econômica, mas também geopolítica.

"Os sistemas financeiros devem estar preparados, os bancos também. O programa signifi ca expandir a área de influência do real, principalmente na América Latina, e isso pode não ser um processo fácil. Contudo, o crescimento do continente e as condições da economia brasileira indicam que, se o Brasil conseguir fortalecer os laços com outros países, pode ser bem sucedido nessa empreitada", diz.  


Moedas regionais - Apesar desse panorama, economistas acham pouco provável que a hegemonia da moeda norte-americana seja substituída por alguma outra de um único país. O que se presume é que o dólar passe a compartilhar com outras moedas, como o euro e o yuan, a dianteira do arranjo monetário internacional.

"Não acho utópica essa nova arquitetura, me parece que estamos caminhando para isso. Nenhuma outra moeda tomará o lugar do dólar, que deve sim manter sua influência nas transações entre blocos", acredita Milko Matijascic. "Mas no comércio intrablocos, outras moedas deverão ganhar força, puxando para baixo a supremacia da moeda norte-americana".

Segundo Fernando Ribeiro, a tendência é que a economia mundial tenha espécies de "moedas regionais", cada qual exercendo sua influência em um grupo de países vizinhos. "Todo esse quadro vai depender do próprio desempenho da economia norte-americana, mas acredito que haverá uma elevação da importância de várias moedas, como o euro e o yuan, e mesmo o real brasileiro, que reúne condições para lidar com possíveis volatilidades de um novo quadro monetário".

Ao ver sua moeda perdendo espaço no comércio entre os países, os Estados Unidos poderão ter que enfrentar um cenário imaginado por poucos décadas atrás. "Terão que ter uma maior austeridade monetária e em sua balança comercial, maior disciplina. Mas, acima de tudo, perdem a capacidade de dar as cartas em uma situação de desequilíbrio financeiro global", afirma Fernando Ferrari Filho.

Milko Matijascic também aponta os possíveis prejuízos para a economia norteamericana. "O país estará sujeito a maiores restrições quanto a sua política monetária, não poderá elevar suas dívidas irrestritamente e promover um expansionismo econômico sem regras. É um grau de liberdade menor, com taxas de juros maiores, o que significa níveis de consumo mais contidos. Em todos os âmbitos, um maior controle da economia".

Ele ressalta, no entanto, que qualquer análise sobre o futuro do dólar deve ser feita com cautela. "A moeda tem perdido seu peso, isso é indiscutível. Hoje, já há contratos importantes, como os de gás e petróleo da União Europeia com a Rússia, por exemplo, feitos em euro. O Brasil também já tem transações diversas na moeda europeia. Mas estamos falando da principal economia do globo: tem todas as condições de reverter qualquer situação desfavorável".

Dólar ainda é o preferido

Outro mecanismo trabalhado pelo Brasil e parceiros do continente que tem dado sua contribuição para tirar o dólar de evidência é o Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR). Ele existe no âmbito da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) há mais de duas décadas, e no ano passado recebeu ações de modernização em tecnologia da informação, que devem reduzir os riscos operacionais do programa.

O CCR foi implantado com o objetivo de reduzir as transferências internacionais no cenário de escassez de divisas que marcou a década de 1980. Tem um funcionamento simples: os bancos centrais dos países fazem a compensação das transações comerciais de quatro em quatro meses, e não ao fim de cada mês. "Teoricamente gera-se menos fluxo de dólares no mercado e há uma menor movimentação de reservas. Significa, sim, mais uma válvula para a diminuição do peso da moeda", atesta Fernando Ribeiro.

Mesmo com o dólar dando sinais de fraqueza após a crise econômica atual, investidores de maior ou menor porte não fogem à regra de correr atrás de ativos norte-americanos na hora de aplicar. Não deveria ser o contrário? Quem explica o "fenômeno" é o economista-chefe da Funcex. "É o chamado flight quality: investidores buscam ativos dos EUA, principalmente do governo, porque eles ainda são vistos como a opção mais segura, com mais garantias".

O professor Fernando Ferrari Filho acredita que essa tendência não será alterada em um curto período de tempo. "Com a crise ainda tendo seus reflexos, é de esperar que os investimentos não tomem outro rumo. Enquanto não houver confi ança e consenso sobre qualquer outra moeda que lastreie as transações, o dólar será o pouso seguro".

 

 
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