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Crédito - Crédito A locomotiva do mercado interno

2008 . Ano 5 . Edição 40 - 11/02/2008

Por Yolanda Stein, do Rio de Janeiro

O apelo é grande e está por toda parte: "empréstimos rápidos, livres de burocracia; transforme seus sonhos em realidade". Adquirir um aparelho de DVD, uma TV de plasma, uma geladeira nova, um computador, ou mesmo um automóvel, com juros convidativos e prazos a perder de vista, é um atrativo difícil de ignorar. E os brasileiros, hoje menos ameaçados pelo desemprego e estimulados por um poder aquisitivo maior, foram às compras, aproveitando-se da forte e variada oferta de crédito, que se transformou na locomotiva da economia.

Agora, um fantasma começa a ameaçar esses bons resultados.A pergunta é se a crise nos Estados Unidos será capaz de frear a locomotiva, ou, na pior das hipóteses, fazê-la descarrilar. As atenções e preocupações se voltam para a turbulência nos mercados internacionais, na expectativa do que pode acontecer daqui para frente. Se não há motivo para pânico, o certo é que a realidade dificilmente continuará a mesma. Tanto que o governo e o sistema financeiro do país já começam a tomar suas precauções.

O ex-presidente do Banco Central (BC) Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria Integrada, avalia que a crise americana não afetará muito o Brasil, que tem crescido em função da dinâmica do mercado interno e apresenta uma situação macroeconômica confortável, de menor risco. "Dependendo do tamanho da crise, poderá haver uma redução na velocidade com que o crédito cresce no país. Mas a trajetória não será interrompida", diz.

EXPANSÃO No terceiro trimestre de 2007, o consumo das famílias apresentou o melhor resultado em dez anos, impulsionado, em grande parte, pela expansão do volume de crédito, constata o presidente da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ),Orlando Diniz. Ele diz que os indicadores de emprego, renda, investimento e atividade demonstram um crescimento econômico ancorado no mercado interno, ainda longe de seu ponto de saturação, o que torna o Brasil menos vulnerável às incertezas do cenário internacional.

A relação entre crédito e Produto Interno Bruto (PIB) é considerada, a nível técnico,muito baixa no país, apesar de ter atingido 34,7% no ano passado, o maior nível desde 1995, no auge do Plano Real, quando havia alcançado 35,1%. Por isso, ainda há espaço para um crescimento muito maior. "Nesse quesito, ainda estamos atrás de alguns países emergentes e isso representa um entrave à competitividade de nossas empresas frente a uma economia cada vez mais globalizada. O crédito no Brasil encontra-se aquém do seu potencial e a evolução prevista para os próximos anos deve combinar, além de maior volume, normas que permitam um mercado mais transparente, com taxas mais acessíveis", observa Diniz.

O economista Nelson Chalfun Homsy, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que o mercado de crédito privado (pessoas físicas e pessoas jurídicas) é pequeno em ambas as pontas (oferta e procura). Ele acrescenta que, "enquanto a taxa de juros do financiamento da dívida mobiliária federal se mantiver nos patamares historicamente observados, será impossível a existência de um mercado de crédito do tamanho desejado, ou comparável aos dos países ricos. O segmento mais viável de apresentar crescimento, principalmente em função do baixo risco envolvido, é o de financiamento de curto prazo ao consumo, desconto de títulos e o crédito consignado".

Mesmo assim, os números não são nada desprezíveis: o volume de crédito já beira R$ 1 trilhão, a ser alcançado em 2008, segundo estimativas de especialistas. No ano passado, a oferta total de crédito na economia alcançou R$ 932,8 bilhões, segundo o BC, um avanço de 27,3% em um ano.A estrela foi o crédito a pessoas físicas, que chegou a R$ 316,8 bilhões, com alta de 33%.

SALÁRIO E EMPREGO Confiança na economia, crescimento do emprego,melhores salários, alongamento dos prazos de pagamento e taxas de juros decrescentes são explicações recorrentes para a disparada do crédito. Os números confirmam. O reajuste real do salário mínimo, remuneração de cerca de um terço dos trabalhadores, elevou a massa salarial em cerca de 30% no triênio 2005/2007, diz Chalfun.

Ele cita a pesquisa mensal de emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em dezembro de 2007, na qual a massa salarial registra crescimento real próximo de 5%, mantendo a média do período 2003/2006. O aumento do número de postos de trabalho com carteira assinada foi superior ao do número de empregos sem carteira, assim como subiu o percentual de profissionais que permanecem na mesma empresa por mais de dois anos.

Esses fatores, aliados ao aumento continuado do crédito oferecido diretamente pelos varejistas com descontos e parcelamentos, além da possibilidade de, em 2007, os correntistas endividados trocarem o banco gestor de seus débitos em busca de taxas mais vantajosas em outras instituições, deram mais combustível à locomotiva. "Houve uma pulverização dos canais de crédito, o que provocou a redução do risco individual de cada emprestador", explica o professor da UFRJ.

COMÉRCIO O presidente da Fecomércio-RJ também considera que o desenvolvimento do mercado de crédito observado nos últimos anos tem sido fundamental para alimentar um círculo de aquecimento da demanda e ampliação dos investimentos. "O crédito mais acessível, conjugado à evolução do emprego e aos ganhos reais no rendimento do trabalhador, incorporou parte da sociedade que vivia à margem do mercado e incentivou as compras de produtos de maior valor agregado, especialmente computadores, imóveis e veículos", afirma.

Com isso, segundo o IBGE, de janeiro a outubro de 2007, o comércio expandiu 9,6%, puxado pelos setores de veículos e autopeças (23,8%), materiais de construção (10,4%), móveis e eletrodomésticos (16%) e equipamentos de informática (27,1%). Estes itens são geralmente comprados a prazo, o que ajuda a explicar o crescimento do crédito ao consumo.

Dados do BC indicam que o crédito pessoal e financiamentos para a aquisição de veículos respondem por 75,3% da carteira total destinada às pessoas físicas. Os empréstimos para compra de veículos cresceram 26,8% em doze meses, totalizando um saldo de R$ 79,5 bilhões em novembro de 2007.

O crédito imobiliário atingiu R$ 18,3 bilhões no ano passado, 96% acima de 2006 (R$ 9,3 bilhões), com aumento de 72% no número de unidades financiadas (195.981), segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

HABITAÇÃO Mas, enquanto o crédito ao consumo situa-se no padrão de outros países emergentes, o imobiliário ainda é tido como o "patinho feio" do crédito no país. "Quando se compara o crédito no Brasil com a situação em outros países, não se verifica um aumento significativo, especialmente por conta do crédito imobiliário, ainda muito incipiente, apesar de os juros situarem-se abaixo de 2% ao mês", pondera Armando Castelar, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Chile e México são exemplos, com 13% e 9% de participação no PIB, respectivamente. Nos Estados Unidos, essa relação é de 65%,enquanto no Brasil gira em torno de 2% a 3%.

Segundo ele, a grande fronteira para a expansão do crédito situa-se no setor imobiliário, embora este envolva um comprometimento maior da renda familiar. Nos últimos anos, o foco tem se dirigido para as famílias das classes A e B,que representam uma parcela pequena do déficit habitacional. Um avanço nessa modalidade de crédito, explica Castelar, esbarra no fato de o déficit corresponder principalmente às famílias de mais baixa renda, as que ganham menos de cinco salários mínimos,nas quais praticamente não há garantia imobiliária.

"Não há convicção, no Brasil,de que a Justiça vá executar uma garantia e retomar a moradia de uma família de baixa renda, apesar do maior uso, hoje em dia, do mecanismo de alienação fiduciária no financiamento de imóveis,nos moldes do praticado com veículos. Experiências como as realizadas no México e no Chile mostram que para esse segmento da população é preciso haver algum tipo de subsídio por parte do governo. Os dois países servem de paradigma, pois conseguiram fazer uma grande revolução na área habitacional por meio de políticas voltadas para a habitação de caráter social", aponta o pesquisador.

REPERCUSSÕES Com relação à crise nos EUA, o economista Paulo Rabello de Castro, presidente da RC Consultores e chairman da SR Rating, considera tênues os vínculos do crédito pessoal no Brasil em relação às fontes internacionais, o que caracteriza um baixo nível de repercussão da turbulência externa.

"Os vínculos ocorrem pelo custo do financiamento das empresas que dependem de fontes nacionais ou internacionais. E estas estarão com as portas meio fechadas durante alguns meses, com repercussões no crédito direto ao consumidor. Mas a economia brasileira em termos de demanda é relativamente pouco exposta a uma perturbação mais direta dos mercados internacionais e só haverá desaquecimento se o BC, por antecipação, elevar a taxa de juros", avalia Rabello de Castro.

Ele diz que indiretamente isso já ocorre, uma vez que a decisão de não mexer nos juros significa uma pequena elevação em termos reais, mas não o suficiente para caracterizar um quadro de desaceleração na economia brasileira. "O Brasil não vai engasgar com o crédito. Mas perdeu o passeio. Entrou muito tarde nessa festa que agora se transformou em pancadaria. Não teve tempo de bater nem de apanhar", ironiza o economista.

Ao contrário dos que comemoram o crescimento, ele não vê aumento suficiente do crédito, que ainda está muito atrás de outros países. E é incisivo em sua avaliação: "Devido aos maus fundamentos da economia brasileira, nunca conseguimos tomar um porre de crédito. Nem poderíamos, porque as taxas de juros são exorbitantes, inclusive dos empréstimos consignados. O cidadão brasileiro é uma vítima. O pouco que ele pega emprestado significa muito, e muitas vezes não consegue administrar o orçamento doméstico. Aqui não vai acontecer nada, porque aqui ainda não aconteceu", radicaliza.

Já Gustavo Loyola afirma que graças à estabilidade da economia e às reformas microeconômicas, com algumas mudanças na legislação,o crédito tornou-se mais seguro, possibilitando a redução dos spreads bancários. Este é o caso do empréstimo consignado, mais barato e mais seguro para os bancos, o que explica, segundo ele, a grande expansão do crédito no país, que já está no nível dos emergentes. E só não é maior por causa do crédito imobiliário.

"O crédito imobiliário no Brasil está crescendo, só que vem de uma base muito baixa. E é importante que cresça com segurança", opina. "O Brasil não passará incólume pela crise, provavelmente irá crescer menos. Isso vai depender se as taxas de juros se mantiverem baixas ou se houver algum motivo para alta", completa o ex-presidente do BC.

VÔO DE GALINHA Nelson Chalfun afirma que não se deve continuar apostando na manutenção das atuais taxas de crescimento apenas baseando-se em aspectos relacionados ao ambiente externo. Segundo ele, a crise internacional tende a afetar o setor de crédito voltado para o financiamento de mais longo prazo, operações estruturadas envolvendo consórcios formados por grandes bancos que se expuseram em operações muito arriscadas no período de excessiva liquidez observado a partir de 2000.

"Já no crédito ao consumidor, a estrutura montada se mostra pulverizada e com expertise para lidar com volume grande de operações de pequeno valor, caracteristicamente de custo operacional mais elevado.Portanto, é de esperar que o padrão de consumo das classes D e E se mantenha firme", prevê.

Chalfun considera temerário dizer que o momento de bonança ora vivenciado se sustentará nos próximos anos. "Há termos comumente usados por economistas para definir os soluços do crescimento brasileiro (vôo de galinha, vôo de pipa, etc.), que só serão substituídos por outros menos pejorativos se forem tomadas medidas voltadas para o fortalecimento institucional do Estado (reformas política, federativa, tributária, etc.) e continuadas aquelas para a redução da vulnerabilidade externa", analisa o professor da UFRJ.

MENOR CONFIANÇA Castelar acredita que, no caso de a crise externa ser muito forte, haverá repercussões no país, embora hoje em dia tudo seja muito mais sólido do que em crises anteriores."Os bancos têm mais poder de avaliação de risco,acesso à informação. Mas já estão segurando,reduzindo o número de prestações nas vendas de veículos, à espera de uma definição do quadro de crise. Se houver uma reversão, a inadimplência sobe, o crédito fica mais caro e sua expansão dificilmente se situará nos níveis atuais", completa.

O BC admite que a expansão do crédito será menor neste ano, situando-se entre 20% e 25%, abaixo dos 27,3% registrados em 2007. O chefe do Departamento Econômico do BC,Altamir Lopes, atribuiu a provável desaceleração à interrupção na trajetória de queda dos juros. Isso porque, segundo afirma, há menos espaço para diminuição do spread, principalmente nas linhas para as pessoas físicas (em 2007, a redução foi de 4,8 pontos), em função da subida do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). E também porque os bancos enfrentam aumento nos custos de captação, em decorrência da turbulência dos mercados internacionais.

Numa medida destinada a desacelerar o crédito, no último dia de janeiro o BC anunciou um recolhimento compulsório progressivo de até 25% sobre depósitos bancários de empresas de leasing, a partir de maio. Segundo a nota oficial, o objetivo é dar tratamento igualitário à captação de recursos dos bancos, uma vez que para os depósitos à vista e a prazo já há recolhimento obrigatório. Em janeiro de 2009, quando chegar ao limite de 25%, deverão ser retirados do mercado cerca de R$ 40 bilhões, reduzindo a quantidade de dinheiro disponível para empréstimos no sistema financeiro.

Os depósitos de empresas de leasing tiveram grande avanço, registrando R$ 160 bilhões em novembro do ano passado, pois os bancos se valem dessas operações para escapar dos recolhimentos compulsórios sobre os demais depósitos. Esse tipo de crédito é muito usado na aquisição de veículos e, em parte, para compra de bens de capital.

 
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