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Inovação - A inevitável disputa entre Brasil e Argentina

2007 . Ano 4 . Edição 36 - 10/10/2007

Por Sérgio Garschagen, de Brasília

Há mais similaridades produtivas do que diferenças entre os parques industriais do Brasil e da Argentina. Essas similaridades é que tornam as duas economias competidoras no mercado internacional, segundo conclusão do pesquisador Bruno César Araújo, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea).

Ele é um dos 21 pesquisadores - 13 brasileiros e oito argentinos - que analisaram as inovações tecnológicas e o potencial exportador dos dois países. Uma das observações dos pesquisadores é a de que há no Brasil muitas empresas de médio porte que têm todas as condições para exportar, mas esbarram no fato de os argentinos já terem conquistado o nicho de mercado que elas almejam. "A recíproca também é verdadeira. Os argentinos encontram dificuldades de exportar porque empresas do Brasil já dominam o mercado", diz.

As coincidências têm bases históricas. Os dois países, que basicamente exportavam produtos agrícolas até os anos 1930, investiram em políticas de substituição de importações no pós-guerra, praticamente nos mesmos setores - metalurgia, mineração e bens de capital -, sofreram restrições macroeconômicas nos anos 1980 e abriram as economias na década de 1990.

O trabalho dos 21 pesquisadores resultou no livro "Technological Innovation in Brazilian and Argentine Firms", editado pelo Ipea e ainda inédito. A obra é parte de projeto desenvolvido pelo Ipea para produzir estudos que tenham como foco as estratégias de negócios entre os dois países, com o objetivo de facilitar a formatação de políticas públicas.

FOCO  Segundo os pesquisadores do Ipea João Alberto de Negri e Lenita Turchi, que coordenaram o trabalho, diversos testes estatísticos, com diferentes indicadores e critérios, foram utilizados, adotando-se um esquema de classificação que foi considerado como o mais adequado: empresas dos dois países que inovam e diferenciam os seus produtos; empresas que exportam mas não inovam e nem diferenciam os seus bens; e, finalmente, empresas que nem diferenciam e têm baixa produtividade.

O número de grandes empresas brasileiras que inovam e diferenciam produtos é maior que o de empresas argentinas, segundo a pesquisa, mas, em termos percentuais, 18% das firmas da Argentina investem em pesquisa e desenvolvimento (P&D), ante apenas 7% no Brasil. Apesar disso, os investimentos das empresas brasileiras somaram US$ 2 bilhões no ano 2000, dez vezes acima dos US$ 186 milhões investidos por parte das empresas argentinas.

A assessora do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) Fernanda De Negri, em tese de doutorado que acaba de ser defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre as relações entre o Brasil e a Argentina, analisou os investimentos dos dois países em pesquisa e desenvolvimento e concluiu que o Brasil compromete uma parcela superior do faturamento da sua indústria em pesquisa quando comparado com a Argentina.

Para barrar o crescimento das exportações do Brasil, a Argentina provocou a criação do Mecanismo de Adaptação Competitiva (MAC), destinado a impedir que setores econômicos do país fossem imobilizados pelo maior poder do outro lado. O sistema, que possibilita a adoção de salvaguardas, impediu que eletrodomésticos, sapatos e têxteis brasileiros ampliassem demais sua participação no mercado vizinho.

As dificuldades comerciais entre Brasil e Argentina acabam por diminuir a importância do Mercosul como mecanismo de incentivo ao comércio entre os países do subcontinente americano. Não é segredo que os dois países têm peso decisivo na região: economicamente falando, somam 36,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e 41% das populações dos países da América do Sul.

Reação no mesmo sentido decorreu dos investimentos brasileiros na indústria argentina, depois da desvalorização do peso. Em 2002, a AmBev assumiu a cervejaria Quilmes, a maior do país, a Petrobras adquiriu a empresa Perez Companc e a Construtora Camargo Correa comprou a empresa argentina Loma Negra. Setores industriais argentinos argumentam que a política de crédito brasileira favorece a ampliação das companhias além-fronteiras.

COMPARAÇÕES  O pesquisador Fernando Peirano, do Centro de Estudios sobre Ciencia, Desarrollo y Educación Superior (Redes), da Argentina, analisou o ganho financeiro que as inovações tecnológicas embutem no retorno financeiro das indústrias.Ele selecionou oito países - Alemanha, Itália, Brasil, Espanha, Holanda, Bélgica, Portugal e Argentina - e comparou os respectivos investimentos em inovação, utilizando bases de dados do Ipea, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de instituições semelhantes da Argentina e da União Européia.

A Argentina ficou em última posição no que diz respeito ao retorno financeiro industrial. O Brasil ocupou surpreendentemente o terceiro lugar entre as nações selecionadas, embora ele ressalve que, se analisados outros parâmetros da composição dos gastos desses países em P&D, a posição do Brasil poderia vir a ser reconsiderada.

Uma das explicações para essa situação única do Brasil entre as nações em desenvolvimento deve-se ao fato de o país não ter perseguido uma integração da sua economia à dinâmica do mercado internacional, mas ter dirigido a sua política industrial ao mercado interno, o que acarretou uma das maiores diversificações da indústria entre economias latino-americanas, incluindo Argentina e México.

O Brasil, de modo atípico, se diferenciou em relação às demais economias em desenvolvimento, que se caracterizam pelo fornecimento de mão-de-obra mais barata e de recursos naturais. No caso brasileiro, isso em parte é real - os salários são mais baixos e as matérias-primas são abundantes -, mas os investimentos em pesquisa e desenvolvimento são maiores. Embora não tenha alcançado o padrão econômico dos países menos desenvolvidos da Europa, o país se afasta bastante em relação à maioria dos vizinhos da América Latina.

OPORTUNIDADE  O professor Wilson Suzigan, da Unicamp, o coordenador do livro, João Alberto De Negri, e o pesquisador do Ipea Alexandre Messa Silva, num texto que ocupa o capítulo 1 do trabalho, fazem referência a que, no caso do Brasil, essa diversificação industrial, decorrente do grande mercado interno, permitiu o surgimento de empresas de médio porte exportadoras de produtos com pequena e média agregação tecnológica. Essas empresas já geram 25% da renda industrial nacional.

Segundo os pesquisadores, após a política de substituição das importações e a partir dos anos 1970, houve uma oportunidade de transição para a indústria brasileira, que poderia ter corrigido o seu curso e reduzido o protecionismo, agregando novas tecnologias e se integrando à dinâmica do mercado, mas a oportunidade não foi aproveitada. Em decorrência da crise macroeconômica e da instabilidade decorrente, o setor estagnou no decorrer da década de 1980, interrompendo o processo de industrialização.

A abertura da economia nos anos 1990, especialmente a liberalização do comércio, colocou a indústria nacional frente a dois desafios: competir no mercado doméstico e também no internacional ao mesmo tempo. Em um cenário de economia adversa, a única resposta possível foi reduzir custos e aumentar a eficiência. O

O pesquisador João De Negri comprova esse fato com dados: o Brasil possuía, em 2000, cerca de 72 mil empresas com dez ou mais empregados, ante 11 mil na Argentina em 2001. Além disso, 971 firmas brasileiras e 413 argentinas se enquadravam na categoria das que investem em inovação e diferenciação de produtos. Enquanto o retorno das empresas brasileiras nessa categoria atingia R$ 80,6 milhões, a contrapartida argentina era de US$ 26,8 milhões.

No ano 2000, cerca de 67 mil trabalhadores brasileiros estavam engajados em algum tipo de pesquisa, enquanto na Argentina esse número era de 14 mil em 2001.Entre o grupo de firmas que inovam e diferenciam seus produtos, o número médio de trabalhadores em P&D era de 23,8 no Brasil e de 6,03 na Argentina.

MULTINACIONAIS  "Estamos analisando mecanismos que possam elevar de 0,6% para 1,5% os investimentos em inovações por parte das empresas brasileiras", destaca De Negri,"de modo a elevar o faturamento das firmas nacionais dos atuais R$ 5,1 bilhões para R$ 13 bilhões ao ano, além de dobrar o número de graduados e pós-graduados em pesquisa e desenvolvimento".

Para o pesquisador, isso é possível pelo fato de o Brasil ter esse diferencial, que é o seu parque produtivo diversificado e com escala de produção capaz de inovar. Essa pode ser a explicação para o fato de as multinacionais estarem mais inclinadas a investir em processos de inovação no Brasil que na Argentina. Além disso, ele acredita que para o país alçar de vez o grupo dos países desenvolvidos deve investir mais em inovações tecnológicas nos próximos anos.

Como ressalta o economista Renato Baumann, diretor do escritório no Brasil da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), cada ponto percentual de aumento nas aplicações em pesquisa e desenvolvimento garante um retorno médio de 3% nas exportações, pela agregação de valor.

Outro dado que comprova a liderança brasileira em P&D é o número de pessoas envolvidas nos dois países: 20 mil no Brasil e 2 mil na Argentina.

Sobre esse aspecto, a pesquisadora Fernanda De Negri, do Mdic, ressalta que os investimentos das empresas multinacionais podem ser motivados pela existência de pessoal qualificado e custos mais baixos que nos países desenvolvidos.

Para os pesquisadores Eduardo Gonçalves, Mauro Borges Lemos e João Alberto De Negri, as corporações transnacionais estariam mais inclinadas a investir no Brasil do que na Argentina. O retorno financeiro no Brasil é cerca de quatro vezes maior, apesar de o pesquisador Bruno Araújo ter comprovado que o coeficiente de exportação das firmas argentinas é superior ao das empresas brasileiras.

MÃO-DE-OBRA  A falta de mão-de-obra qualificada preocupa mais as empresas argentinas do que as brasileiras, segundo as firmas inovadoras que afirmam ser este um obstáculo para o desenvolvimento de pesquisas. Conforme a pesquisadora Fernanda De Negri, 38% das multinacionais investem em inovação no Brasil, em comparação a 28% nas subsidiárias argentinas. "O Brasil, em decorrência do tamanho das subsidiárias, proporciona escalas de operação superiores às empresas estrangeiras, o que favorece a realização de atividades tecnológicas", conclui a pesquisadora.

A política brasileira nesse segmento é ainda tímida. O percentual de firmas inovadoras que receberam financiamentos públicos para inovação no Brasil é de apenas 10%, ante 52% na Áustria, 51% na Finlândia, 37% em Portugal, 30% na França e 19% na Suécia. Segundo a pesquisadora, o Brasil tem um mecanismo de financiamento que alcançou nível de excelência - o sistema adotado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar bens de capital -, que deveria ser utilizado como modelo para o financiamento à inovação.

CRISE  O livro analisa ainda a crise argentina recente. Os pesquisadores Bernardo Kosacoff, diretor do escritório da Cepal na Argentina, e Adrian Ramos, também economista da Cepal, dizem que a volatilidade econômica do país cobrou um preço muito alto em termos sociais (aumento dos índices de pobreza) e, mais ainda, em relação à performance da economia industrial, o que afeta o processo de tomada de decisões quanto a investimentos e progresso tecnológico.

As empresas que não são encorajadas a adotar estratégias de crescimento permanecem em posição defensiva, o que afeta o seu desenvolvimento econômico, no longo prazo, dizem os dois pesquisadores.

Para outros dois analistas argentinos, Gustavo Lugones e Diana Suárez, que analisaram os sistemas de inovação dos dois países, a Argentina deveria aumentar os seus investimentos em P&D, enquanto o Brasil deveria dar prioridade ao aumento do número de pesquisadores em todos os setores do seu parque industrial.

 
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