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Uso racional do automóvel

2010 . Ano 7 . Edição 58 - 26/02/2010

Claudio Oliveira da Silva

É comum encontrar defensores da melhoria do transporte público como solução única para os problemas da mobilidade urbana. Vale lembrar que ele é apenas um dos ingredientes e que diversas cidades ao redor do mundo com bons sistemas de transporte público também tem problemas da natureza da mobilidade.

Curitiba é exemplo brasileiro de cidade com boa solução de transporte público que alia rapidez, facilidade de acesso e conforto aos usuários. Apesar disso, o município tem uma relação de 0,48 automóvel por habitante, segunda maior do País, que certamente condiciona a seu uso e contribui para o inchaço do sistema viário. De Bogotá, Colômbia, o sistema de ônibus, TransMilênio, é considerado ao redor do mundo como boa solução em transportes urbanos. No entanto, os resultados positivos desse exemplo não seriam possíveis se medidas de estímulo à cultura cidadã, implantação de ciclorutas e restrição ao uso do automóvel não tivessem sido implementadas ao mesmo tempo.

Londres e Paris têm no metrô um serviço de alta acessibilidade e, ainda assim, são exemplos de cidades erodidas pelos automóveis. Em Paris, estudo da União Internacional de Transportes Públicos, de 2003, estimou uma perda anual de 600 milhões de horas em congestionamentos. Ambas implementaram medidas integradas de mobilidade não restritas ao transporte público. Em Londres o Congestion Charging promoveu a redução dos níveis de congestionamento em 30% e em Paris o Vélib disponibiliza bicicletas em pontos que distam menos de 300 metros um do outro.

No Brasil está sendo implementada a Política Nacional de Mobilidade Urbana que tem como princípio de efetivação o estímulo ao uso racional do automóvel. O foco é priorizar os espaços de circulação para as pessoas e os meios de transporte coletivo. Não por acaso, a Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade adere, desde 2004, ao Dia Mundial sem Carro que acontece nos dias 22 de setembro em diversas partes do mundo com objetivo de repensar o uso do espaço público e novas formas de deslocamento e de organização das cidades.

Apesar das mobilizações do Dia Mundial sem Carro, parece que os resultados não são ainda motivo de comemoração. No Rio de Janeiro, enquete feita pelo jornal O Globo concluiu que 67.6% das pessoas entrevistadas não pretendiam deixar o carro em casa no dia 22 de setembro, objetivo primeiro da mobilização mundial. Em 2009, 26 cidades aderiram ao movimento e promoveram os mais diversos tipos de atividades e manifestações que marcaram a nona participação consecutiva brasileira. Mas, apesar da grande e não tão recente mobilização, a tendência é aumentar o número de automóveis em circulação.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores - ANFAVEA - mostrou que a produção de automóveis montados no Brasil cresceu 3,3% e o licenciamento de automóveis novos cresceu 12,8%, sendo que o licenciamento total de autoveículos (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus) foi o maior da história: 11,4% maior que 2008. Ainda, segundo a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores - FENABRAVE - a venda de automóveis no varejo cresceu 10,32% entre 2008 e 2009 (valores acumulados até novembro de cada ano).

Há quem diga que o futuro do automóvel nas cidades será "sustentável" devido à superação da emissão de poluentes. De fato, a tecnologia dos híbridos é muito difundida no Brasil e promove a utilização do etanol que é menos poluente que a gasolina. Ao redor do mundo surge com mais ênfase a utilização dos elétricos. Protótipos há aos montes, desde aqueles movidos a hidrogênio aos movidos a ar. Ainda, novos modelos são apresentados com designs de tamanho reduzido que, teoricamente, resultariam em menor ocupação de espaço no sistema viário.

Ficam duas perguntas para reflexão: será que os maiores problemas relacionados ao uso do automóvel são a emissão de poluentes e ocupação do viário? E o que dizer da desumanização das relações nas ruas de nossas cidades?

Pode haver outro aspecto negativo associado ao uso do automóvel. O desenvolvimento de tecnologias mais limpas e modelos de menores tamanhos não reverterão o processo de ocupação da rua com finalidade única de passagem e os adeptos do automóvel continuarão circulando sozinhos sem interagir com aqueles do lado de fora e com a própria cidade.

Tudo indica que o problema da mobilidade urbana é mais complexo e que a solução não está, isoladamente, na melhoria do transporte público. É preciso sim estimulá-la em conjunto com ações de integração com os meios não motorizados e combate à erosão das cidades pelo automóvel. Fundamentalmente é preciso uma nova estruturação urbana e novos comportamentos por parte de cada um de nós. Num futuro próximo, caso venha a melhoria do transporte público, o exercício da circulação pode ser uma questão de escolha. De nada adiantará se não fizermos desde já o uso racional do automóvel.


Claudio Oliveira da Silva é mestre em arquitetura e urbanismo e arquiteto do Ministério das Cidades

 
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