2009 . Ano 6 . Edição 49 - 06/04/2009
Sérgio Ulisses Jatobá
A mais recente versão do estudo "Regiões de Influência das Cidades" do IBGE - REGIC 2007, publicada em 2008, alçou Brasília à condição de metrópole nacional, equiparada somente à São Paulo, destacada como grande metrópole nacional, e a Rio de Janeiro, a outra metrópole nacional. A área que compõe a região de influência de Brasília abrange 298 municípios, uma superfície total de 1.760.734 Km2 e uma população de 9.680.621 habitantes, que a coloca a frente de outras nove metrópoles no país, as quais compõem, junto com São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília o conjunto dos 12 centros urbanos mais influentes do país.
A quarta versão da REGIC confirma o que já vinha sendo apontado em outros estudos, que a influência urbana de Brasília, cuja área metropolitana entendida pelo IBGE abrange todo o Distrito Federal - DF e mais os municípios do seu entorno imediato, estende-se bem mais além. A rede de influência de Brasília abrange municípios situados em Goiás, noroeste de Minas e oeste da Bahia e comanda, em conjunto com São Paulo, as redes de Cuiabá e Porto Velho, o que amplia em muito a sua área, que assim atinge Mato Grosso, Rondônia, Acre e pequena parcela do Amazonas.
O Estudo do IBGE ressalta que, apesar de estar situada na terceira posição de importância no país, a rede de Brasília ainda é pequena em relação à de São Paulo e à do Rio de Janeiro, representando 5,26% da população do País e 6,6% do PIB nacional em 2005. Entretanto tem algumas características que se destacam: tem o mais alto PIB per capita entre todas as redes (R$ 15.683,00 em 2006) e concentra 33,7% da população e 57,3% do seu PIB no seu núcleo, que inclui Brasília e mais nove municípios do entorno do DF, sendo que só Brasília possui o segundo maior PIB per capita no país (R$ 37.600, em 2006).Brasília também detém, junto com São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba 25% do PIB nacional. Estes dados evidenciam o papel concentrador de renda e de população que Brasília exerce na sua região de influência. Se por um lado isto se deve a presença do governo federal e do peso das ligações empresariais de todo o país com a capital, cada vez mais a economia local se fortalece com o crescimento do setor empresarial, basicamente terciário. No entanto, é inegável que são os recursos do setor público que turbinam o dinamismo econômico da capital. O peso da Administração Pública na economia de Brasília passou de 48,3% em 2002 para 49% em 2006, indicando um crescimento da sua importância na economia brasiliense.
Outra pesquisa do IBGE divulgada recentemente confirma, com base em dados de 2006, que os servidores públicos detêm 65% da massa salarial no DF (este percentual era de 60% em 1996), embora representem atualmente só 40% do total dos empregados. A pesquisa do Cadastro Central de Empresas - Cempre informa que em 2006 foram pagos R$ 28,7 bilhões em salários no DF, o que equivale a 5,7% do volume total do país e representa mais do que a soma de todos os outros estados da Região Centro-Oeste. A média salarial do trabalhador brasiliense é de R$ 2.440,00, mais do que o dobro da média nacional que é de R$ 1.208,64. A alta renda dos brasilienses aliada aos serviços contratados e às compras efetuadas pela administração pública federal e do DF às empresas daqui faz com que um considerável volume de recursos circule na economia local, criando um círculo virtuoso que tem tornado o DF um dos mais dinâmicos e atraentes polos de crescimento econômico no país.
A crescente influência urbana de Brasília no cenário nacional a consolida como o principal centro polarizador do desenvolvimento territorial no interior do país, um projeto geopolítico traçado 200 anos antes da sua inauguração. A região na qual Brasília se insere é a que mais rápido se desenvolve no país, mas ainda é marcada por uma ocupação desigual e fortemente polarizada por três grandes centros apenas: Brasília, Goiânia e Uberlândia, segundo o Estudo da Dimensão Territorial para o Planejamento, recentemente publicado pelo MPO e CGEE. Brasília já é a quarta cidade em população no país e em pouco tempo será a terceira, segundo estimativas do próprio IBGE. E enquanto São Paulo e Rio de Janeiro tendem a ter redução na sua população no futuro, Brasília ainda possui muito espaço físico para crescer. Todas estas caraterísticas da capital federal e a proximidade do poder têm atraído grandes grupos empresariais para a cidade, desde gigantes da indústria farmacêutica até as maiores empreiteiras do país.
A favorável posição estratégica de Brasília aponta para um cenário de prosperidade econômica crescente, mas também de acentuação das desigualdades sociais e territoriais. A segregação socioespacial, que caracteriza o Distrito Federal desde a sua origem, agora também ocorre na relação do DF com seu entorno e deste com as cidades pobres da sua região de influência. No interior do DF a preocupação é com o rápido crescimento urbano e seus impactos no meio ambiente e com a redução progressiva da qualidade de vida da cidade. Quase 50 anos depois do deslocamento da capital para interior do país evidencia-se que a ação do Estado foi eficaz na criação de um polo de desenvolvimento descentralizado. A questão é saber se o círculo virtuoso do dinamismo econômico proporcionado pela maior densidade urbana e demográfica em Brasília irradiará os frutos da sua prosperidade para o seu entorno e região de influência ou se produzirá maior desigualdade sócio-territorial, sobrecarga sobre as infraestruturas e degradação ambiental.
Sérgio Ulisses Jatobá é pesquisador visitante do Ipea, doutor em Desenvolvimento Sustentável
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