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Superavit primário no primeiro quadrimestre de 2021

Por Paulo M. Levy, Sérgio F. Ferreira e Felipe dos S. Martins

A situação fiscal apresentou melhora importante nos últimos meses, com o setor público consolidado (SPC) registrando superavit de R$ 24,3 bilhões em abril. Com isso, o resultado acumulado em doze meses, como proporção do PIB, caiu de um deficit de 9,4% no final de 2020 para 7,1% em abril. A tendência é de que o resultado primário em doze meses como proporção do PIB continue declinando à medida que os deficit do ano passado – elevados por conta da perda de receitas e dos gastos extraordinários para mitigar os efeitos da pande- mia – sejam substituídos por valores menores em 2021.

As reduções do deficit primário e da carga de juros levaram a uma queda forte do deficit nominal, de 13,6% do PIB em dezembro de 2020 para 10,8% em abril, sempre considerando o acumulado em 12 meses. A previsão da Focus é de um deficit primário do SPC de 2,5% do PIB em 2021, enquanto o deficit nominal ficaria em 6,8% do PIB.

A dívida líquida do setor público consolidado atingiu 60,5% do PIB em abril, ante 62,7% em dezembro de 2020. A dívida bruta do governo geral (DBGG) também caiu, de 88,8% para 86,7% do PIB. A dinâmica de ambas as relações vem sendo fortemente influenciada pelo crescimento do PIB nominal. No caso da dívida bruta, a virtual estabilidade entre dezembro do ano passado e março deste ano (aumento de 0,06 p.p. do PIB) foi garantida pelo aumento do PIB nominal, que contribuiu com -2,4 p.p. para aquela variação, o que significa que os outros determinantes da relação DBGG/PIB teriam contribuído com 2,5 pontos percentuais (p.p.) do PIB para seu crescimento. Dado o crescimento do PIB em volume de apenas 0,6% na comparação dos doze meses até março de 2021 com os doze meses encerrados em dezembro de 2020, a contribuição negativa do PIB nominal resultou quase inteiramente da inflação do deflator do PIB, fenômeno que tende a se acentuar à medida que o nível de preços mais elevado influenciar o PIB em quatro trimestres.

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Visão Geral da Conjuntura

Por José Ronaldo de C. Souza Júnior, Paulo Mansur Levy, Francisco Eduardo de L. A. Santos e Leonardo Mello de Carvalho

Esta seção analisa as seguintes questões: o desempenho recente da economia brasileira; algumas razões para o baixo crescimento; simulações de espaço fiscal com o teto dos gastos públicos (com destaque para os gastos com saúde e educação e para os efeitos da Reforma da Previdência); e projeções macroeconômicas 2019/2020 (com destaque para as estimativas de hiato do produto).

Quando se diz que a demanda está fraca, normalmente pensa-se no consumo em primeiro lugar: esse, de fato, desacelerou-se em relação às taxas de crescimento observadas em meados de 2017, quando a recuperação ganhava corpo, mas o crescimento recente tem se mantido positivo, e pode mesmo acelerar com a perspectiva de redução dos preços de alimentos – cuja alta nos primeiros meses de 2019 pode ter “roubado espaço” dos demais bens e serviços nos orçamentos das famílias, especialmente as de renda mais baixa. Argumenta-se também que o consumo está fraco devido ao elevado desemprego, o que é verdade, mas não ajuda muito a compreender a dinâmica da economia na medida em que a taxa de desemprego, assim como o consumo, são variáveis endógenas. Medidas localizadas, como a liberação parcial dos saldos de contas do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS), podem estimular o consumo – e tiveram papel no segundo trimestre de 2017 nesse sentido –, mas o choque que pode tirar a economia do ciclo vicioso em que se encontra deve vir das expectativas, isto é, do aumento da confiança, começando pelo equacionamento do problema fiscal.

Nesse contexto, o aumento da confiança é justamente a base de nossos modelos de previsão, que apontam para uma aceleração do crescimento, em 2020, para 2,5%. Além disso, assumimos que a taxa de juros básica será reduzida a partir do segundo semestre de 2019 e que, em conjunto com a melhora nos índices de confiança, contribuirá para um ambiente econômico que induza mais investimentos e consumo. Segundo os mesmos modelos, o crescimento em 2019 será de 0,8%. Para o segundo trimestre de 2019, estimamos um crescimento de 0,5% em relação ao trimestre anterior.

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Política Fiscal

Carta de Conjuntura Nº 38

Por Paulo Mansur Levy

O resultado primário de 2017 veio bem mais favorável que em 2016, assim como em relação ao esperado para o ano. Em relação a 2016, o deficit primário caiu 0,8 ponto percentual (p.p.) do PIB, de 2,5% para 1,7% do PIB. Apesar da queda, é um valor ainda elevado, o que levou a novo aumento da dívida bruta do governo geral, de 69,9% para 74,0% do PIB. Os dados de receitas e despesas do governo central mostram que a melhora – queda do deficit primário de R$ 167,4 bilhões para R$ 126,0 bilhões, a preços constantes de dezembro de 2017 – foi consequência tanto do aumento real de 2,5% na receita líquida quanto da queda real de 1% nos gastos primários.

Para este ano, a previsão mediana do Prisma Fiscal, divulgado pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda (SPE/MF) em fevereiro, é de que o deficit primário do governo central cresça para R$ 149 bilhões (quase R$ 5 bilhões a menos que se previa há um mês). Porém, o orçamento de 2018 prevê como meta um deficit de R$ 159 bilhões, o que representa um significativo aumento em relação ao realizado em 2017 (2,2% e 1,9% do PIB, respectivamente). Em fevereiro, o governo apresentou a programação financeira para o ano, ajustando-a a mudanças nos parâmetros macroeconômicos e a não materialização de receitas e de redução de gastos previstos. Como o gasto realizado em 2017 ficou bem abaixo do teto, abriu-se um espaço para aumento de R$ 89 bilhões nas despesas; por outro lado, incertezas quanto à realização da receita oriunda da possível privatização da Eletrobras e a necessidade de readequar o orçamento para atender o teto dos gastos levaram à formação de uma “reserva de contingência” de R$ 16,2 bilhões.

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Simulações da trajetória da dívida bruta do governo geral (2017 a 2037)

Por José Ronaldo de Castro Souza Júnior e Francisco Santos

O Texto para Discussão 2303 atualiza e amplia a análise sobre as simulações da trajetória de dívida bruta do governo geral – feitas originalmente numa nota técnica da Carta de Conjuntura nº 33, do quarto trimestre de 2017. O novo texto também analisa as incertezas sobre as hipóteses e seus possíveis impactos sobre os resultados das simulações.

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Finanças Públicas

Carta de Conjuntura nº 33

 Por Marco Aurélio Alves de Mendonça

As contas públicas brasileiras conservam quadro preocupante que reflete o panorama recessivo da atividade econômica nacional. Os indicadores fiscais ilustram situação ainda difícil, ao final de outubro, embora a repatriação de recursos de residentes no exterior tenha gerado receita adicional ao governo. Mesmo assim, desempenho fiscal permanece afetado pela queda generalizada na arrecadação e pelo incremento dos gastos previdenciários.

O resultado primário acumulado até outubro totalizou deficit de R$ 45,9 bilhões, e, no acumulado em 12 meses, registrou-se saldo primário negativo de R$137,2 bilhões (2,33% do Produto Interno Bruto – PIB).

Entretanto, entende-se que há pontos positivos a serem levados em conta. A aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) que institui um teto para os gastos públicos ocorreu sem muito desgaste em dois turnos na Câmara e no Senado Federal. Com a promulgação, efetivada em 15 de dezembro, foi concluída a primeira reforma efetiva e necessária ao controle dos gastos públicos.

A segunda medida, não menos importante, foi protocolada pelo governo no último dia cinco de dezembro e diz respeito à reforma da Previdência. Ainda não é possível prever quais mudanças serão efetivamente aprovadas pelo Congresso, mas seus efeitos configuram pauta crucial para o governo, que espera aprová-la no primeiro semestre de 2017.

Uma vez que a reforma seja aprovada, as prioridades provavelmente serão as discussões acerca de alternativas para aperfeiçoamentos microeconômicos da economia nacional que incluem inclusive uma reforma trabalhista a fim de flexibilizar o mercado de trabalho, a fim de promover o crescimento econômico.

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Simulações da trajetória da dívida bruta do governo geral – 2017 a 2037

Carta de Conjuntura nº 33

Por José Ronaldo de Castro Souza Júnior e Francisco Santos

Os resultados apresentados nesta nota técnica mostram que, ao frear o crescimento das despesas primárias, a PEC 55 tem o potencial de estabilizar e reduzir a dívida pública garantindo, assim, a sustentabilidade da dívida pública brasileira. Os efeitos positivos da maior credibilidade da política fiscal podem extrapolar a questão puramente fiscal e se espalharem para a economia real por meio de um aumento da segurança para consumidores e investidores quanto ao futuro da economia brasileira.

O novo regime fiscal é claramente uma estratégia gradualista para lidar com o grave problema atual das contas públicas brasileiras. O prazo de 20 anos com a possibilidade de alteração na metade do período também parece ser adequado. Dependendo do desempenho da economia nos próximos dez anos, pode ser possível adotar uma regra mais branda a partir de 2027. Contudo, o horizonte de duas décadas é indicado para dar mais credibilidade a esse tipo de estratégia porque, caso o crescimento do PIB seja menor, o ajuste fiscal seria ainda mais gradual.

Feitas as ressalvas quanto à rapidez de convergência da dívida e quanto à flexibilização condicional  do indexador de despesas, a discussão sobre o limite de gastos é meritória e urgente, uma vez que, salvo a ocorrência de crescimento proporcional das receitas que não se vislumbra no horizonte de curto prazo, a opção de manter o atual percentual de despesas primárias em relação ao PIB implicará em aumento ininterrupto da DBGG cujas consequências para a economia real podem ser bastante graves.

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Finanças Públicas

Carta de Conjuntura nº 32

 Por Marco Aurélio Alves de Mendonça

As finanças públicas brasileiras permanecem refletindo o panorama recessivo da atividade econômica nacional. O quadro fiscal conserva-se muito difícil, ao final dos sete primeiros meses do ano, com desempenho intensamente afetado pela queda generalizada na arrecadação e pelo aumento dos gastos com benefícios previdenciários. Até o fechamento de julho, o resultado primário acumulou deficit de R$ 36,2 bilhões, e, no acumulado em 12 meses, registrou-se saldo primário negativo de R$154 bilhões – 2,54% do PIB (Produto Interno Bruto).

A situação também se reproduziu em âmbito subnacional. Segundo dados reunidos nos relatórios resumidos de execução orçamentária consolidados pelo Ipea, os estados fecharam o primeiro semestre do ano com queda de 6,5% nas receitas primárias totais, devido à redução acentuada na arrecadação (-6,3%) do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), e das transferências correntes (-9,6%). As despesas primárias, por sua vez, sofreram queda de 5,4%, impulsionada por redução drástica nos investimentos (-19,20%).

Segundo os portais de transparência estaduais, houve redução nos gastos com pessoal dos estados (-3,5%), mas o pagamento de benefícios previdenciários elevou-se em 2,6%.

Com a aprovação da Desvinculação das Receitas da União (DRU), o governo conseguiu liberar 30% das receitas de vinculações legais, mas os principais pontos do ajuste ainda não foram efetivados.

As negociações no Congresso Nacional para a aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) que institui um teto para os gastos públicos permanecem em curso. Da mesma forma, o governo sinalizou a intenção de realizar nova reforma da Previdência, mas o projeto ainda não foi enviado ao Congresso. Há ainda discussões acerca de uma reforma trabalhista, que visa flexibilizar o mercado de trabalho, para alavancar a economia.

A aprovação da PEC do teto dos gastos parece ser o elemento mais decisivo para curto e médio prazos, com o objetivo de melhorar o perfil das contas e reduzir o quociente entre dívida pública e PIB. Os cortes previstos no orçamento concentram-se nas chamadas despesas discricionárias, daí a importância de aprovar as reformas propostas em tempo mais curto possível.

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Visão Geral da Conjuntura

Carta de Conjuntura nº 31

Por José Ronaldo de Castro Souza Júnior

A economia brasileira apresenta alguns sinais de que o atual período recessivo poderia estar chegando ao fim, apesar de os indicadores coincidentes sugerirem que o PIB continou a cair no segundo trimestre – após acumular uma queda de 7,1% de meados de 2014 até o primeiro trimestre de 2016. Após quedas tão expressivas da produção e da renda, que resultaram na abertura de um grande hiato entre o PIB e o produto potencial (estimado em 6,4%), a grande questão que se coloca agora é o que fazer para restaurar a confiança dos agentes econômicos. A realização de reformas que levem as contas públicas para uma trajetória sustentável no médio prazo seria um passo importante nesta direção e poderia, até mesmo, viabilizar o afrouxamento da política monetária. Neste ano, porém, o governo prevê que terá um elevado deficit primário de R$170 bilhões. A reversão desse resultado negativo não ocorrerá da noite para o dia e dependerá, no médio prazo, de mudanças constitucionais e de regras infraconstitucionais que visem dar maior flexibilidade aos gastos públicos, aumentar a eficiência destes gastos e que levem em consideração os efeitos fiscais da rápida transição demográfica pela qual o país está passando.

O DESAFIO FISCAL

A Constituição Federal de 1988 incorporou uma série de direitos que se propunham a promover o estado de bem-estar social no Brasil. Importantes passivos sociais como a extrema pobreza, a elevada desigualdade de renda e a falta de acesso universal a serviços públicos essenciais de saúde e educação foram atenuados por meio de aumentos de gastos e de transferências do setor público feitos a partir de então. Como resultado – detalhado na Tabela A.1, no Apêndice A –, os gastos primários do Governo Central aumentaram 8,6 p.p. do PIB entre 1991 e 2015. O aumento dos gastos com transferências de renda somadas às despesas de custeio em saúde e educação representaram 70% desse crescimento. Esses aumentos de despesas e de transferências de renda foram parcialmente financiados por aumentos das receitas tributárias e, em alguns casos, por endividamento público. Ou seja, a sociedade escolheu, no período de pós-redemocratização, que o Estado brasileiro deveria promover o bem-estar social e aceitou pagar, em parte, por essa escolha via aumentos de impostos.

A contração da economia a partir do segundo trimestre de 2014 combinada com a continuidade dos aumentos reais das despesas primárias complicaram bastante o quadro fiscal, entretanto. O fato é que o país encontra-se hoje numa situação de forte desequilíbrio nas contas públicas, que, para ser resolvida exigirá um rígido controle de gastos públicos e/ou aumentos significativos de impostos nos próximos anos.

A estratégia principal anunciada pelo governo para lidar com a atual crise fiscal é o controle dos gastos via congelamento do valor real das despesas primárias, o que implicaria uma forte reversão na tendência de crescimento das referidas despesas verificada nas últimas décadas (gráfico 1). No cenário mais provável, esta medida implicará que a dívida pública continuará a crescer nos próximos anos – em função do quadro recessivo atual e dos desequilíbrios já acumulados –, mas eventualmente, com a recuperação do crescimento econômico e da receita tributária, passaria a cair em relação ao PIB.  Naturalmente, quanto maior for o déficit deste ano, mais lenta será a obtenção de resultados fiscais suficientes para reduzir a dívida pública. Além disso, quanto maior for o pico da dívida pública atingido nos próximos anos, maiores terão de ser os superávits primários necessários para reduzir a dívida.

Estimativas preliminares foram feitas considerando diferentes cenários para o crescimento econômico, a elasticidade da arrecadação tributária em relação ao PIB, a taxa de juros e a taxa de inflação. Os resultados indicam que a reversão do crescimento da dívida bruta do Governo Geral, mesmo com a contenção das despesas primárias no nível real previsto para este ano, só deverá se iniciar por volta do ano de 2022. É bom lembrar que, para uma avaliação mais criteriosa da dinâmica da dívida, seria preciso levar em consideração a inter-relação entre as variáveis consideradas e quantificar de forma mais adequada os riscos relacionados à volatilidade dessas mesmas variáveis.

Com relação aos governos estaduais, que representam parcela importante dos gastos públicos no Brasil, a estratégia de contenção das despesas será similar. O governo federal chegou a um acordo que dará um alívio de médio prazo para o pagamento das dívidas dos estados – situação imposta pela grave crise  fiscal pela qual passam diversas unidades da federação –, mas obteve, como contrapartida, a adesão dos estados ao congelamento de gastos reais. Esse acordo gera uma redução na receita do governo federal no curto prazo, porém contribui para a sustentabilidade das contas públicas do governo geral no longo prazo.

Para que essa estratégia de contenção dos gastos seja bem sucedida, é fundamental que se alterem as regras previdenciárias e que se tornem os gastos públicos mais flexíveis. A combinação ótima de políticas públicas não é estática; ao contrário, elas têm de acompanhar as mudanças das escolhas sociais e têm de responder aos desafios impostos pela dinâmica demográfica. O gráfico 2 sintetiza bem o tamanho do desafio para o país nas próximas décadas. O percentual de crianças e jovens na população brasileira vai diminuir de forma muito expressiva, enquanto o percentual de idosos deve avançar rapidamente. A combinação de políticas sociais terá de acompanhar essa dinâmica demográfica e, por isso, o engessamento dos gastos públicos tende a ser disfuncional no longo prazo. Os gastos com saúde e previdência, por exemplo, tenderão a aumentar com o envelhecimento da população. Por outro lado, a rápida redução da quantidade de alunos nas escolas públicas prevista para os próximos anos certamente abrirá espaços para a redução dos gastos em educação pública, a despeito do gasto por aluno da educação básica nas escolas brasileiras ser ainda baixo quando comparado ao de países desenvolvidos. A proporção de gastos com previdência, por sua vez, é similar à de países desenvolvidos com população já muito mais envelhecida.

Nesse cenário de crescente demanda por serviços públicos e de restrição orçamentária, será muito importante ir além da discussão sobre os valores dispendidos. Há claras evidências de que os ganhos de produtividade passíveis de serem obtidos nas principais políticas públicas brasileiros são ainda bastante significativos. Se alcançados, tais ganhos permitiriam avanços na oferta de serviços públicos cruciais para a qualidade de vida e produtividade da população mesmo em um cenário de estabilidade dos gastos públicos primários. Para se atingir esse objetivo, torna-se fundamental fazer avaliações cuidadosas de eficiência das políticas públicas.

CONJUNTURA ATUAL

Neste ano, o desempenho ruim da atividade econômica continua prejudicando a arrecadação do governo. O alento é que, como mostra a seção de Atividade Econômica desta Carta de Conjuntura, a recessão parece estar perdendo fôlego. É possível que, no segundo semestre, a economia pare de regredir. Alguns setores industriais, beneficiados da taxa de câmbio mais favorável e que veem o exterior como uma alternativa ao deprimido mercado doméstico, têm atenuando a crise por meio de aumentos das exportações. Além disso, já se percebe algum processo de substituição de importações ao longo das cadeias produtivas.

Apesar de o aumento das exportações não ser, por si só, capaz de liderar uma retomada mais expressiva do crescimento brasileiro no curto prazo, uma eventual piora do cenário externo poderia prejudicar a ainda frágil recuperação de alguns segmentos da economia. Antes do plebiscito que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia (o chamado Brexit), o cenário externo estava relativamente neutro.  Essa decisão levou a um aumento da instabilidade no cenário internacional. Uma das consequências possíveis é a intensificação do protecionismo econômico, que dificultaria a realizações de novos acordos comerciais pelo Brasil. O que se vê no curto prazo, porém, é uma percepção de que o Federal Reserve (o Banco Central dos EUA) tende a adiar a elevação da taxa juros americana, o que poderia atrair mais capitais internacionais ao Brasil. Talvez por isso, nas últimas semanas, houve uma valorização do real frente ao dólar, que, se persistir, poderá prejudicar a recuperação da produção de alguns segmentos voltados à exportação.

Outra preocupação importante em relação à atividade econômica é o desempenho dos investimentos, que vem sendo o componente de demanda mais penalizado durante a crise. Um dos resultados das consecutivas reduções dos investimentos é a redução da taxa de crescimento do produto potencial. De acordo com a série estimada por este autor, essa taxa vem caindo significativamente nos últimos anos. A série de formação bruta de capital fixo (FBCF) calculada mensalmente pelo Ipea, no entanto, indica que houve uma recuperação na margem no mês de abril. De qualquer forma, em termos de capacidade instalada, há uma folga grande para a recuperação da economia mesmo sem uma imediata retomada mais intensa do crescimento potencial. Como mostra o gráfico 3, o PIB está muito abaixo de seu nível potencial, o que significa que o hiato do produto aumentou consideravelmente nos últimos trimestres.

É importante ressaltar, no entanto, que esses números agregados não permitem avaliar com precisão o efeito restritivo das deficiências de infraestrutura, inclusive em termos da capacidade competitiva do país para expandir exportações e/ou substituir importações. Dada a dimensão do problema fiscal, que limita a capacidade de retomada de importantes investimentos do setor público, torna-se ainda mais relevante aprimorar a regulação e melhorar o ambiente de negócios para estimular os investimentos privados na área. De qualquer forma, alguns investimentos com alto retorno para o país, mas com retorno privado insuficiente, precisam de algum aporte de recursos públicos. Por isso, não se deve penalizar excessivamente os gastos do governo com investimentos públicos mesmo no atual cenário de ajuste fiscal.

Esse hiato do produto tão expressivo (estimado em 6,4%) aliado à crescente taxa de desemprego (que tem atingido especialmente os jovens, como mostra a seção de Emprego e Renda desta Carta de Conjuntura) parece estar contribuindo para desacelerar a inflação. De acordo com o último Relatório de inflação do Banco Central do Brasil (BCB), a taxa pode convergir para a meta de 4,5% já no ano que vem. O sucesso na obtenção desse resultado depende não só da política monetária como também da política fiscal. Caso se consiga realizar reformas estruturais que, de fato, gerem uma reversão da tendência de alta dos gastos públicos de forma sustentável, é possível que a melhora das expectativas permita um afrouxamento da política monetária ainda neste ano. Da mesma forma, o aumento da credibilidade da autoridade monetária pode reduzir o custo de desinflação e acelerar a redução dos juros e, por consequência, dos gastos com os juros da dívida pública. Aliás, melhoras simultâneas na credibilidade das políticas fiscal e monetária poderiam ter efeito ainda mais intenso nos juros futuros, o que reduziria mais rapidamente ainda o custo médio da dívida pública e, por conseguinte, o déficit nominal.

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Finanças Públicas

Carta de Conjuntura nº 31

 Por Marco Aurélio Alves de Mendonça

A redução da atividade econômica continua a afetar negativamente as contas públicas brasileiras a exemplo do que ocorreu ao longo de todo o ano de 2015. O quadro fiscal permanece muito difícil, de forma que o primeiro quadrimestre de 2016 encerrou-se fortemente afetado pela queda generalizada na arrecadação, em especial dos tributos sobre a produção e lucros.

Por conta disso, o governo propôs e aprovou, por ampla maioria, a revisão da meta de resultado primário, fixando-a negativamente em pouco mais de R$ 170 bilhões. O entendimento de que há um quadro de incerteza sobre a evolução da receita primária mobilizou o governo para outra importante tarefa: a Desvinculação das Receitas da União (DRU), a qual era tentada desde o exercício anterior. A aprovação, em dois turnos, pela Câmara Federal, indica que não haverá maiores dificuldades para liberar 30% das receitas de vinculações legais.

Ademais, o governo já anunciou que enviará ao Congresso Nacional uma proposta de emenda constitucional (PEC) que institui um teto para os gastos públicos por um período de 20 anos, incluindo gastos com educação e saúde, que passarão a ser corrigidos pela inflação anterior, assim como as demais despesas, e não pela regra anterior, cuja vinculação se dava pela receita líquida do governo. A intenção original é que não seja modificado o limite durante os primeiros nove anos.

Com a aprovação da PEC, o governo naturalmente espera melhorar o perfil das contas públicas no médio prazo, reduzindo significativamente a  dívida pública em proporção do PIB. A revisão da meta para este ano, por seu turno, comprou ao governo mais tempo para lidar com a difícil conjuntura atual.

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