Taxa neutra de juros e expectativas para inflação e juros

Por Estêvão Kopschitz Xavier Bastos

Um parâmetro relevante para a condução da política monetária é a taxa de juros neutra, aquela que mantém a taxa de inflação estável. Mas a taxa de juros neutra é uma variável não observável, que precisa ser estimada por meio de modelos econométricos. Não há, porém, consenso sobre a melhor forma de fazê-lo e a estimativa da taxa neutra é sujeita a muita incerteza, até por depender também de estimativas e hipóteses para diversas outras variáveis. Com base em diversas informações – coletadas junto a agentes financeiros e obtidas de cotações de mercado – e levando em consideração a imprecisão de tais estimativas, a taxa neutra real parece estar, no Brasil, entre 4,0% e 5,0%, ou próxima desse intervalo. Esse nível foi atingido após um longo processo de queda.

Vale mencionar que há estimativas de diversas fontes indicando que a taxa neutra teve um forte recuo em todo o mundo, relacionado a fatores pelo lado da demanda agregada (associados à demografia, principalmente) e da oferta (menor crescimento potencial). A taxa de juros real ex-ante de um ano encontra-se, atualmente, em 2,9%, abaixo, portanto, da estimativa para a neutra. A inflação projetada para os próximos anos está abaixo da meta ou com ela coincidindo e o PIB está abaixo do potencial, como mostrado, respectivamente, na Visão Geral da Conjuntura e numa Nota Técnica da Carta de Conjuntura nº 36. Por isso, é perfeitamente possível que a taxa de juros real continue por algum tempo abaixo da taxa neutra. O processo de convergência entre as duas se dará, naturalmente, por alguma combinação de alta na taxa real praticada com queda na neutra. A taxa real sofre, em parte, influência da política monetária. A neutra, por outro lado, depende, como observado, de uma variedade de características da economia. Assim, se o país conseguir avanços que sinalizem para um ajuste fiscal de longo prazo e para o aumento da tendência de crescimento da produtividade, a aproximação entre as duas poderia contar com o recuo da taxa neutra. Caso contrário, a normalização da política monetária no futuro terá de ser feita integralmente pela elevação das taxas praticadas na economia, capitaneada pela política monetária.

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