Setor Externo

CARTA DE CONJUNTURA Nº 32

Por Fernando José da S. P. Ribeiro

A redução do deficit em transações correntes em 2015-2016 ocorreu de forma bastante rápida e intensa. Em cada um dos meses entre abril de 2015 e maio de 2016, a redução do deficit em transações correntes em comparação aos mesmos meses do ano anterior foi superior a US$ 2,5 bilhões, alcançando um ponto máximo em dezembro de 2015, quando a redução interanual chegou a US$ 9 bilhões. Ao acumular as quedas observadas em cada um desses meses chega-se ao montante de US$ 72 bilhões, equivalente a cerca de quatro pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB). A maior parte da redução do deficit deveu-se à balança comercial, cujo saldo acumulou ganho de US$ 45 bilhões no período considerado.

Comparando-se a trajetória recente do deficit em transações correntes com a verificada nos dois últimos grandes ajustes de balanço de pagamentos enfrentados pelo país − no início dos anos 1980 e no final dos anos 1990 −, observa-se que a velocidade do ajuste atual é praticamente idêntica à do início da década de 80, mas muito mais rápido que a do período iniciado em 1999. A explicação para a diferença de comportamento do deficit no episódio atual em comparação ao iniciado em 1999 parece recair na dinâmica da atividade econômica. Do final de 2014 até o segundo trimestre de 2016 o PIB teve redução acumulada de quase 7%. Do final de 1998 até meados de 2000, ao contrário, o PIB teve crescimento acumulado de 4,5%. A maior semelhança entre os três episódios relaciona-se ao comportamento da taxa de câmbio, que teve forte desvalorização em todos os casos e certamente teve papel relevante para impulsionar o ajuste externo.

Os números mais recentes do balanço de pagamentos brasileiro mostram a continuidade do movimento de redução do deficit em transações correntes. No acumulado do ano até setembro, o deficit ficou em apenas US$ 13,6 bilhões, com redução de mais de 70% em comparação ao número do mesmo período de 2015. Contudo, já há sinais de certa estabilização do déficit na margem. Na verdade, não é exagero afirmar que o país já “completou” o ajuste de suas contas externas, no sentido de que o deficit em transações correntes já atingiu nível inferior à sua média histórica, que é de 1,8% do PIB. Nos 12 meses até setembro, ele situou-se em 1,3% do PIB, caminhando para fechar o ano em torno de 1% do PIB.

A queda do deficit é explicada principalmente pelo aumento espetacular do superavit comercial. Com efeito, a balança comercial brasileira vem registrando, desde o final de 2015, superavits comerciais bastante robustos, da ordem de US$ 3 bilhões a US$ 5 bilhões ao mês e, no acumulado de janeiro a outubro, o superavit alcançou US$ 38,5 bilhões, três vezes mais que o número dos primeiros 10 meses de 2015. A melhoria da balança se deve principalmente a uma queda extraordinária das importações, de 22,7% no ano, mais que compensando o comportamento também negativo do valor exportado, que se reduziu em 4,6%. Merece destaque o comportamento do quantum de exportações, que acumulou alta de 7,6% no período janeiro-setembro em comparação ao mesmo período de 2015, voltando a crescer após anos seguidos de retração.

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