Inflação

Carta de Conjuntura Nº 31

Por Maria Andréia Parente Lameiras

Apesar de apresentar uma tendência de desaceleração ao longo do ano, a inflação brasileira, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ainda se encontra em patamares pouco confortáveis, mantendo-se bem acima do teto da banda de variação (6,5%) da meta de inflação.

A trajetória de queda da inflação em 2016 já era esperada e vem sendo possibilitada, sobretudo, pelo desempenho dos preços administrados, cuja variação acumulada em 12 meses retroagiu de 18% em dezembro para 10,8% em maio, refletindo, basicamente, o fim dos fortes reajustes da energia elétrica ocorridos no primeiro trimestre do ano passado. Mas ainda não está claro se os preços livres irão, de fato, auxiliar no processo desinflacionário este ano. Com efeito, mesmo diante de um cenário marcado pela significativa redução da demanda interna, a variação dos preços livres nos últimos 12 meses tem apresentado ligeira alta, repercutindo não só o aumento dos preços dos alimentos, como também os efeitos defasados da desvalorização cambial e a resiliência da inflação de serviços.

De fato, o desempenho dos preços dos alimentos ao longo dos últimos meses vem surpreendendo negativamente, impedindo um recuo mais rápido da inflação ao consumidor. No acumulado de janeiro a maio, o custo da alimentação no domicílio, medida pelo IPCA, apontou alta de 8%, pressionado pela aceleração dos preços dos produtos in natura e de grãos e cereais. Se, por um lado, os efeitos climáticos ajudam a explicar boa parte desse aumento, tendo em vista os prejuízos sobre a safra, por outro, a alta internacional das commodities agrícolas e a melhora do câmbio para o setor exportador vem deslocando parte da produção para o mercado externo, gerando uma diminuição da oferta doméstica de alimentos.

Assim como vem acontecendo com os alimentos, a resiliência da inflação de serviços também tem sido determinante para a demora na queda da inflação dos preços.  Em maio, os serviços livres apresentaram uma alta acumulada em 12 meses de 7,5%  – contra uma inflação acumulada de 8,1% em 2015 – ainda significativamente elevada, portanto, a despeito da  rápida deterioração das condições do mercado de trabalho.

Por fim, os bens de consumo duráveis também podem agir, ainda que na margem, no sentido de dificultar um recuo mais intenso do IPCA nos próximos meses. Em que pese o bom comportamento da inflação deste grupo de bens – que vem girando em torno de 3% ao ano -, os efeitos represados do câmbio e o início do ajuste de estoques na indústria podem gerar alguma aceleração nos preços em 2016.

Neste contexto, espera-se que o IPCA desacelere gradualmente ao longo do ano, puxado, sobretudo, por um recuo mais intenso dos preços administrados e, em menor escala, pela consolidação de um movimento de recuo das taxas de inflação dos preços livres, que seria potencializada pela contração da demanda interna.

Para a composição deste cenário, algumas outras questões devem ser pontuadas. Por um lado, o indicativo de um ajuste fiscal mais vigoroso – aliado a um maior esforço do Banco Central do Brasil (BCB) em trazer de volta a inflação para uma trajetória mais compatível com a meta – pode facilitar esta descompressão sobre os preços. Por outro lado, as incertezas quanto ao fim do ciclo de repasse da desvalorização cambial para os preços comercializáveis, os impactos remanescentes do reajuste superior a 10% do salário mínimo e a possibilidade de se fazer um ajuste fiscal via aumento de impostos podem se constituir entraves a uma queda mais acentuada da inflação.

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