Inflação

Carta de Conjuntura Nº 30

Por Maria Andréia Parente Lameiras

Após registar uma variação acumulada de 10,7% em 2015, atingindo o pior resultado desde 2003 (12,5%), a inflação brasileira, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), veio desacelerando gradativamente durante o primeiro trimestre, com alta de 9,4% nos últimos 12 meses até março. Para o restante do ano, a expectativa é de que haja uma desaceleração inflacionária ainda mais significativa, possibilitada, sobretudo, pelo recuo na taxa de crescimento dos preços administrados, que se constituíram no principal foco de pressão sobre o IPCA em 2015.

No entanto, mesmo diante de um alívio sobre o nível de preços, a inflação brasileira deve encerrar 2016, novamente, com uma taxa anual próxima ao teto da banda inflacionária de 6,5%, e constituirá o sétimo ano consecutivo a registrar variação superior ao centro da meta (4,5%). Este comportamento do IPCA ao longo dos últimos anos mostra que, mesmo sob controle, a inflação brasileira vem se consolidando em níveis pouco confortáveis, bem acima dos estabelecidos pelo sistema de metas, o que além de desancorar as expectativas, pode desencadear um processo inercial, que certamente aumentará o custa da desinflação no país.

Uma análise mais decomposta do IPCA acumulado em 12 meses, até março, demostra que embora as maiores contribuições ao índice estejam concentradas nos subgrupos “administrados” (10,8%) e “alimentos no domicílio” (15,3%), há, de fato, uma maior disseminação da inflação. De acordo com o índice de difusão, que mede a proporção de itens com variação positiva dentro do IPCA, verifica-se que após registrar na média do trimestre agosto-outubro de 2015, valor de 0,67, este indicador saltou para 0,75 no ultimo trimestre encerrado em março.

No caso dos preços administrados, a forte alta inflacionária decorrente do represamento artificial de uma série de tarifas públicas durante 2013 e parte de 2014, gerou reajustes expressivos ao longo de 2015. Adicionalmente, a crise hídrica no ano passado passou, desencadeou a implementação do sistema de bandeiras tarifárias que, juntamente com o fim dos repasses governamentais à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e o pagamento dos empréstimos recebidos pela câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), contribuíram para majorar ainda mais os custos da energia elétrica. Este comportamento do preço da energia já está sendo revertido, de modo que no primeiro trimestre do ano, já se observa uma deflação de quase 4,0% deste item, fazendo com que a taxa de variação acumulada em 12 meses retroagisse de 34,4% em fevereiro para 6,4% em março. Adicionalmente, os incrementos de 12,7% nos preços da gasolina, impactados pela elevação da Cide e pela desvalorização cambial, e de 9,9% nas tarifas de transporte público também ajudaram na composição desta expressiva elevação dos preços administrados ao longo dos últimos meses.

Ao contrário dos preços administrados, cuja alta se acentuou ao longo de 2015, o comportamento dos alimentos mostra uma forte aceleração há pelo menos dois anos. Após registrar uma variação acumulada em 12 meses de 4,5%, em fevereiro de 2014, os preços dos alimentos vieram em uma rota crescente, de modo que em março de 2016, a alta apresentada foi de 13,5%. Deve-se destacar, entretanto, que se inicialmente, este aumento de preços era concentrada em alguns subgrupos, mas recentemente verifica-se uma disseminação em todos os conjuntos de itens que compõem este segmento. No acumulado em 12 meses, até março, dos 16 subgrupos pertencentes à “alimentação no domicílio”, todos apresentam variações superior a 8,0%, dentre os quais cinco atingiram uma inflação superior a 20%.

Se a forte desvalorização cambial de aproximadamente 50% que o país vem enfrentando desde o início de 2015, já impacta os preços dos alimentos comercializáveis, este efeito ainda não se faz presente no segmento dos bens de consumo duráveis. Ainda que possam estar sendo beneficiados, por uma queda nos preços das commodities metálicas no mercado internacional, este segmento de bens, vem apresentando taxas não apenas bem comportadas, inferiores a 3,0% em 12 meses, como também apontam desaceleração no último trimestre, encerrado em fevereiro. A retração do crédito, aliada à baixa confiança do consumidor, repercutindo o aumento do desemprego e a queda dos salários reais, vem gerando um quadro de forte recuo da demanda doméstica, diminuindo ainda mais o espaço para possíveis repasses de aumento nos custos de produção para o mercado consumidor.

Assim como já vem ocorrendo com o segmento de bens de consumo duráveis, o setor de serviços começa a ser impactado pela queda da demanda interna. Após iniciar o ano de 2015, com uma inflação acumulada em 12 meses de 8,8%, os serviços vieram desacelerando, ainda que de forma menos intensa que a imaginada e requerida, de modo que em março de 2016, essa taxa registrou variação de 7,5%. Esta retração que, inicialmente, estava concentrada nos subgrupos “serviços residenciais” e “serviços de transporte” vem se disseminando pelos demais serviços, repercutindo, principalmente, a queda dos salários, cujos impactos desinflacionários se dão tanto pelo canal da oferta (queda do custo com mão de obra) quanto da demanda (enfraquecimento do poder de compra das famílias).

Dentro deste contexto, as expectativas para o restante do ano baseiam-se em desacelerações gradativas dos índices de preços, possibilitadas, sobretudo, por um recuo mais intenso dos preços administrados e, em menor escala, pela consolidação de uma trajetória de recuo das taxas de inflação dos alimentos e serviços, potencializada pela contração da demanda interna. Por outro lado, as incertezas quanto ao fim do processo de desvalorização cambial e seu ciclo de repasse para os preços comercializáveis, aliado ao reajuste superior a 10% do salário mínimo e a possibilidade de se fazer um ajuste fiscal via aumento de impostos, podem se constituir entraves a uma queda mais acentuada da inflação.

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