Atividade Econômica

Carta de Conjuntura nº 30

Por Leonardo Mello de Carvalho

O desempenho recente dos indicadores relacionados à atividade econômica continua retratando o ciclo recessivo da economia brasileira iniciado no segundo trimestre de 2014. Sendo caracterizada por um elevado grau de disseminação e intensidade, a crise atual também se mostra persistente, não dando ainda sinais mais consistentes de recuperação. Como já foi analisado em edições anteriores da Carta de Conjuntura, o círculo vicioso que se instalou na economia é reflexo de um amplo conjunto de fatores, tanto de ordem doméstica quanto externa. Além disso, ao contrário de outros momentos de crise, o atual quadro de recessão não se instalou de forma abrupta, em resposta a algum evento envolvendo ruptura. O que temos observado nestes últimos dois anos é o resultado de um processo mais lento, que foi se disseminando de maneira gradual, fato este que lhe confere um caráter mais resiliente.

Embora o cenário da atividade econômica tenha deteriorado de forma mais significativa a partir do segundo trimestre de 2014, quando se observa uma maior difusão da crise, a produção industrial, por exemplo, já vinha enfrentando dificuldades desde meados do segundo semestre de 2010, sendo negativamente afetada por uma série de restrições pelo lado da oferta, refletidas, em grande medida, no descolamento entre o custo da mão de obra e a sua produtividade. Posteriormente, com o agravamento dos desequilíbrios internos na economia, evidenciados pelo resultado das contas públicas e pela aceleração dos índices de preço, o governo optou por  implementar um ajuste recessivo, impactando diretamente nos níveis de demanda. Nesse contexto, os indicadores referentes ao mercado de trabalho passaram a demonstrar uma crescente fragilidade, com efeitos negativos tanto nos níveis de ocupação, quanto nos rendimentos. O receio quanto à segurança do emprego, somado à redução do poder de compra dos salários, deprimiu os níveis de confiança dos consumidores. Num ambiente já contaminado por um alto comprometimento com dívidas passadas, a queda na procura por novas compras foi inevitável, o que acabou ajudando a propagar a crise pelos demais setores produtivos, como, por exemplo, o comércio de bens e serviços. Enquanto o mercado doméstico encolhia, a conjuntura externa também não se apresentava favorável. Além do lento crescimento da demanda mundial, o Brasil tem presenciado uma contínua deterioração dos seus termos de troca, influenciados, principalmente, pela trajetória decrescente dos preços das commodities.

A conjuntura atual apresenta outro aspecto que pode vir a retardar a saída da recessão. Além de todas as questões citadas anteriormente, o ambiente econômico brasileiro tem se caracterizado pela presença de um elevado nível de incerteza. Seja ela associada à questões de ordem econômica, uma vez que a própria crise vem impondo ao governo um estreitamento dos graus de liberdade na condução da economia, seja ela associada à questões políticas, que tem prejudicado a capacidade de implementação de medidas tidas como necessárias para debelar os desequilíbrios internos.

Se, por tudo o que foi dito, uma recuperação mais rápida da economia parece pouco provável no curto prazo, o ajuste do setor externo normalmente associado a cenários envolvendo deterioração da atividade econômica e movimentos de desvalorização cambial, tem ocorrido da forma como esperado. Embora a depreciação do real também ofereça um risco para a inflação, seus efeitos positivos em termos de competitividade já começam a ser percebidos em alguns setores exportadores. Mesmo que grande parte da melhora observada no saldo comercial ainda esteja associada à forte queda das importações, este pequeno avanço pode representar um alento. Outra parte do ajuste também caminha no sentido correto, refletido no processo de normalização dos níveis de estoques indesejados na indústria. Influenciados por estes dois fatores, o comportamento dos indicadores de confiança tem apresentado alguma estabilidade nos últimos meses, embora ainda permaneçam em níveis muito baixos.

Apesar desse alento, a maioria dos indicadores de atividade econômica ainda segue se deteriorando. Segundo os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB voltou a recuar no último trimestre do ano passado, registrando queda de 1,4% em relação ao período anterior, na série livre de influências sazonais. Este resultado foi a sexta retração na margem em sete trimestres, período no qual o PIB acumulou uma queda de 7,2%. Com isso, o carry-over para 2016 ficou em -2,5%, ou seja, caso permaneça estagnado durante os próximos quatro trimestres, na série com ajuste sazonal, o PIB cairá 2,5% no ano. Tomando por base os comparativos interanuais, a trajetória de queda acelerou. O recuo de 5,9% frente ao mesmo período de 2014 foi o mais alto em toda a série histórica do IBGE, iniciada em 1996. Com isso, o PIB encerrou o ano de 2015 registrando contração de 3,8%, o pior resultado desde o ano de 1990, quando a economia encolheu 4,4%.

A análise dos componentes do PIB pelo lado da demanda voltou a apontar forte contração da absorção doméstica, que apresentou recuo de 6,3% no acumulado em quatro trimestres. Enquanto o consumo das famílias registrou a sua quarta queda consecutiva na margem, recuando 1,3% frente ao período anterior, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) segue em queda forte. A redução de 4,9% na margem foi a décima consecutiva, período no qual acumulou uma perda de 25,5%. O destaque positivo pelo lado da demanda voltou a ser o desempenho das exportações líquidas, ajudando a suavizar a queda do PIB no período. Pelo lado da oferta, a indústria registrou a sétima queda em nove trimestres, com recuo de 1,4% na margem, acumulando uma perda de 6,2% em 2015. Enquanto isso, o setor de serviços também apresentou mau desempenho, com a retração de 1,4%, a quarta variação negativa nesta base de comparação. Este resultado representou 2,7% de queda em 2015, sua primeira variação negativa anual em toda a série histórica. Por fim, o destaque positivo ficou por conta da agropecuária, que avançou 2,9% na margem, encerrando o ano com crescimento de 1,8%.

As informações disponíveis para os meses de janeiro e fevereiro continuam apontando para uma trajetória declinante da atividade econômica. Após ter apresentado pequena variação positiva em janeiro, com avanço de 0,4% no comparativo com ajuste sazonal, o indicador de produção física industrial mensal do IBGE voltou a sofrer forte recuo em fevereiro, com queda de 2,5%. Com isso, os níveis de utilização dos fatores de produção mantiveram-se em patamares historicamente baixos. Por outro lado, a recessão continua estimulando o processo de ajuste dos níveis de estoques indesejados na indústria. O cenário não é diferente para o setor de serviços, cujos indicadores também sugerem um fraco desempenho no primeiro bimestre do ano. Pelo lado da demanda, são esperadas novas quedas tanto no comércio varejista, quanto nos investimentos.

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