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O investimento social privado e a educação

O futurólogo americano John Naisbitt, o ministro Fernando Haddad, e os empresários Antonio Ermírio de Moraes e Jorge Gerdau tem pelo menos algo em comum. Todos partilham da crença de que o desenvolvimento do País passa pela melhoria da qualidade da educação. Autor de Megatrends, famoso por enxergar á frente do seu tempo, Naisbitt disse isso com todas as letras em sua recente visita ao Brasil. Uma das poucas unanimidades entre os ministros do governo Lula, Haddad trabalha para botar em funcionamento o "PAC da Educação" porque sabe que não haverá crescimento sustentável enquanto os alunos brasileiros estiverem nas últimas posições do ranking mundial das Nações Unidas.

Ermírio de Moraes escreve sobre o tema com a mesma paixão com que aborda assuntos como infra-estrutura, política de juros e competitividade. E Gerdau -afirmam os mais próximos -estuda obsessivamente modos de implantar os mesmos princípios de qualidade do chão de fábrica no chão da escola, movido pelo desejo de fazer uma revolução educacional, exatamente como fizeram China e Coréia do Sul. Hoje ninguém mais tem dúvida sobre a co-relação entre educação, desigualdade social e desenvolvimento. Mas nem sempre foi assim.

Há 33 anos, o primeiro economista a tratar do assunto, Calos Langoni, não foi levado muito a sério. Em seu livro "Distribuição da Renda e Desenvolvimento Econômico do Brasil", hoje um clássico dos economistas sociais, Langoni defendia a idéia de que a escolaridade representa um fator determinante para o crescimento de um país. Segundo ele, a desigualdade iniciada a partir dos anos 1960 decorreu, na verdade, da baixa oferta de mão de obra qualificada versus um aumento exponencial do crescimento motivado pelo milagre econômico.

A educação pesou nesse processo. Os poucos brasileiros muito bem qualificados, com maior nível de escolaridade, passaram a receber salários elevados contra um grande contigente que, com menos escola, teve de se contentar com salários baixos. Entre uma e outra ponta, estabeleceu-se um abismo desconfortável cuja profundidade só fez se ampliar nas últimas três décadas. Um estudo do IPEA mostra que 60% da desigualdade total de renda das famílias brasileiras decorre da desigualdade em remuneração dos trabalhadores ocupados, que tem, como uma de suas causas mais importantes, a diferença educacional.

Para entender a relação entre remuneração e educação, basta pensar numa corrida: se os avanços da tecnologia e do conhecimento superam o sistema educacional, ampliam-se as disparidades salariais entre pessoas com diferentes níveis de escolaridade. É isso o que tem ocorrido com o Brasil, apesar de recente ligeira melhora no quadro. O IPEA concluiu, por exemplo, que um ano de pré-escola eleva permanentemente a remuneração do trabalhador em 5%, e amplia sua escolaridade final em 0,6 ano. Se deseja crescer de modo sustentável, estendendo os benefícios desse processo ao maior número possível de brasileiros, não há outro caminho para o Brasil que não seja o de conjugar maior acesso à escola pública com uma educação de qualidade. A primeira parte do desafio parece quase cumprida.

Hoje 98% das crianças entre 7 e 14 anos estão matriculadas, como resultado de um movimento pela universalização do ensino iniciado nos anos 1990. A segunda ainda está longe de se cumprir, a julgar pelos altos índices de evasão e repetência e os resultados do Prova Brasil que apontam um desempenho médio muito fraco dos alunos brasileiros. É a co-relação entre educação e desenvolvimento que explica, em grande parte, a ênfase mais recente conferida ao tema por empresários e empresas socialmente responsáveis. Na verdade, o interesse empresarial sempre existiu. E não é exatamente novo.

Em 1934, o governo federal já estimulava empresas com mais de 50 funcionários a abrirem suas próprias escolas. E as constituições de 1937 e 1946 ofereciam incentivo fiscal para as corporações interessadas em investir na área. A novidade hoje está na mudança de enfoque. Antes, a contribuição restringia-se a ações episódicas deste ou daquele empresário mais engajado. Agora, de modo inédito, a educação está se transformando em reivindicação de uma classe de empresários, um tema prioritário e estratégico em torno do qual se começa a redesenhar um novo projeto de país. Ao contrário do que possa sugerir, a principal contribuição do investimento de empresas para a educação não está no aporte de recursos financeiros - ainda proporcionalmente tímido se comparado ao faturamento das corporações ou ao investimento dos governos.

Também não está no alcance ou impacto dos projetos - por melhores que sejam, eles não atingem a escala necessária, influenciando, no máximo, a pequena fração de um sistema público complexo, cheio de problemas e com realidades regionais bem diversas. São dois os tributos mais importantes do investimento social privado para a educação brasileira. O primeiro diz respeito à gestão. Mais livres para inovar em ações de pequena escala, as empresas assumem um papel provocador de novos processos e metodologias educacionais.

A visão de planejamento, com ênfase em avaliação e foco em resultados, combinada com o compromisso de criar e testar novas alternativas pedagógicas podem fazer a diferença. O segundo tributo é de natureza simbólica. A disponibilidade para a cooperação de um setor protagonista do desenvolvimento econômico reforça a relevância estratégica do tema para a construção de um novo modelo de País.

Ricardo Voltolini - Diretor de redação da Revista IdéiaSocial e consultor de Responsabilidade Social da Ofício Social


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