Dar visibilidade às empresas que cumprem a legislação e contratam jovens (de 15 a 24 anos) sem experiência, como aprendizes. Este é o objetivo do "Placar do Aprendiz", uma iniciativa da ONG Atletas pela Cidadania, em parceria com o Instituto Ethos, o Gife e o Ministério do Trabalho e Emprego.
O projeto vai apontar, por meio de uma espécie de contador mensal, quantos jovens estão trabalhando como aprendizes pelo Brasil e quais as organizações privadas que seguem a lei. "Esperamos incentivar as empresas e mobilizar toda a sociedade para que alcancemos, até 2010, a marca de 800 mil aprendizes contratados", diz o diretor da Atletas pela Cidadania Raí Oliveira.
Os resultados serão levantados por meio de um cruzamento da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), formulários preenchidos pelo setor privado e enviados ao Ministério do Trabalho. "Assinamos um termo de cooperação técnica com a Atletas e deixo todas as Delegacias do Trabalho a disposição do projeto", afirmou o ministro Carlos Lupi, durante a cerimônia de lançamento do Placar, no início de novembro.
Além do contador, o site do Placar disponibilizará informações mais completas sobre a Lei n° 10.097/2000, conhecida como Lei do Aprendiz - que diz ser obrigatória a abertura de postos para jovens entre 15 e 24 anos em empresas com mais de 100 funcionários, em percentuais que variam de 5% a 15% do número de colaboradores efetivos.
No site, as empresas poderão consultar o que é necessário para contratar jovens e tirar dúvidas sobre o Manual do Aprendiz (elaborado pelo Ministério do Trabalho). "Hoje temos 113 mil aprendizes contratados. Mas isso não é sequer 10% do que podemos alcançar", afirmou a jogadora de vôlei e uma das co-fundadoras da ONG Atletas pela Cidadania Ana Moser.
Setor Privado
Nesse contexto, a parceria articulada pela ONG aponta para uma preocupação expressiva do setor privado em realizar ações para jovens. Por meio de práticas socialmente responsáveis e de investimentos comunitários, será direcionado um volume cada vez maior de recursos para esse público.
"Ao contrário do que acontecia nas décadas de 80 e 90, quando o foco era a infância, atualmente existe uma preferência pela juventude, pois ela se tornou a caricatura dos males sociais, ao concentrar problemas nas áreas de emprego, saúde, educação e violência. Dois terços da população carcerária do país, por exemplo, estão nessa faixa etária", explica o secretário-geral do Gife Fernando Rossetti.
Segundo o estudo do Banco Mundial "A Juventude em risco no Brasil", a População Economicamente Ativa (PEA) brasileira perderá cerca de R$ 320 milhões nos próximos dez anos se não investir nesse segmento da população. O mesmo levantamento mostrou também que os benefícios perdidos, decorrentes da baixa escolarização desse público, são de 755 milhões para cada geração (com base apenas no abandono escolar de 14% do alunado, de acordo com o Censo da Educação do Ministério da Educação).
"Os jovens estão sendo massacrados, e nós não conseguimos dimensionar os problemas para realizar projetos eficientes. No Rio de Janeiro, por exemplo, a diferença da expectativa de vida entre homens e mulheres era de três anos. Hoje, esse número foi para 11, graças à criminalidade carioca, que coopta jovens sem oportunidades", argumenta a superintendente do Instituto Unibanco Wanda Engels.
E há dados piores: enquanto os investimentos do governo na juventude não chegam a 1%, cerca de 50% da população desempregada é composta por jovens. Destes, 90% são de famílias com renda per capita inferior a dois salários mínimos. Estima-se também que os rendimentos anuais perdidos com taxas de desemprego excepcionalmente altas entre jovens de 16 a 24 anos estão entre 641 milhões e 1,2 bilhão de reais.
"Empresas que trabalham de forma responsável são minoria. Nossa realidade mostra que o país não vai dar certo sem colocar o jovem como prioridade absoluta; sem isso, qualquer alternativa para uma sociedade melhor é balela", argumenta o presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos e membro do Conselho do Pacto Global da ONU Oded Grajew.
Segundo ele, países desenvolvidos só deram certo porque concentraram esforços em crianças e adolescentes em todas as áreas (educação, saúde, segurança, infra-estrutura etc). "O número de jovens aprendizes não chega a 10% do potencial. Quanto custaria para o setor privado cumprir o máximo? O empresariado não sabe como esse investimento pode impactar nos negócios, na sociedade. Mas, com certeza, será um retorno muito maior", acredita Grajew.
Fonte: Rede Gife, com base em matéria de Rodrigo Zavala. |